O cinema lusitano, recheado de dificuldades e fraquezas que vai tentando ultrapassar, nunca teve muitos apoiantes no interior da população portuguesa. É mais fácil atribuir a etiqueta “enfadonho” a um filme de Manoel de Oliveira ou de Fernando Lopes do que pagar o bilhete e tirar a prova. Assim como é mais simples resumir todos os nossos actores à categoria de “incapazes”, mesmo que existam ilustres excepções a desempenharem papéis notáveis.
Uma dessas excepções chama-se Beatriz Batarda. Começámos por vê-la em Tempos Difíceis de João Botelho, assistimos a prestações em películas de Oliveira e admirámo-nos com o seu desempenho em Quaresma. Contudo, foi em 2004 que o público português se rendeu ao seu talento. Nesse ano, fomos apresentados a Carla, heroína de Noite Escura, e a Evita, protagonista de A Costa dos Murmúrios.
Carla, acostumada a negociatas e prostitutas, espanta-nos com o seu altruísmo e com a sua forte personalidade. Estamos de tal forma estarrecidos com a dureza da sua expressão facial e com a sua linguagem obscena e brejeira que nem reconhecemos Beatriz Batarda. Por outro lado, Evita traz-nos a imagem da mulher bonita, serena e tranquila. Jamais a esqueceremos ao som de Petula Clark ("Quand je ne dors pas // La nuit se traîne // La nuit n'en finit plus // Et j'attends que quelque chose vienne // Mais je ne sais qui je ne sais quoi"), vestida com roupas dos anos 60 e a passear pelas praias moçambicanas.
Carla, acostumada a negociatas e prostitutas, espanta-nos com o seu altruísmo e com a sua forte personalidade. Estamos de tal forma estarrecidos com a dureza da sua expressão facial e com a sua linguagem obscena e brejeira que nem reconhecemos Beatriz Batarda. Por outro lado, Evita traz-nos a imagem da mulher bonita, serena e tranquila. Jamais a esqueceremos ao som de Petula Clark ("Quand je ne dors pas // La nuit se traîne // La nuit n'en finit plus // Et j'attends que quelque chose vienne // Mais je ne sais qui je ne sais quoi"), vestida com roupas dos anos 60 e a passear pelas praias moçambicanas.
Da próxima vez que estrear um filme com a participação de Beatriz Batarda, recomendo-vos que não o deixem escapar. É um privilégio poder assistir a todos os passos da sua carreira. Vê-la no grande ecrã é a forma mais agradável de aliviar a nossa memória cinéfila de representações solenes e pouco emotivas, bem ao estilo de Leonor Silveira, e é também a melhor maneira de acreditar no actual cinema português.
7 comentários:
A facilidade com que se atribuem “rótulos” ao cinema Português é inacreditavel, se não vejamos: para muitos um filme de Manoel de Oliveira é = a um filme parado, aborrecido, sem acção e longo. No entanto, muitos destes “rotuladores” nunca viram um filme deste realizador.
Assim sendo, só me resta dar os parabéns a mais um dos belíssimos comentários com que a Mafalda nos tem vindo a habituar, e que aqui atinge o seu auge ao satirisar um acontecimento muito frequente na nossa sociedade.
É ainda de realçar que são comentários como este que aguçam a curiosidade das pessoas e as levam a ganhar interesse por aquilo que se faz cá dentro. CONTINUA MAFALDA ;)
Ao ler estes comentários, apeteceu-me acrescentar que é tão injusto considerar-se que "toda a obra de Manoel de Oliveira é um longo bocejo" como dizer-se que "toda a obra de Manoel de Oliveira é genial". E só posso concordar com a expressão "entediantes monólogos sacados da Enciclopédia Luso-Brasileira"... Aliás, a apresentação do último filme também me deixou um tanto ou quanto assustada... A ver vamos! Parece-me que o importante é discutir com conhecimento de causa... Por isso, cá estaremos depois de ver o último Oliveira.
Há por aí coisas cinéfilas tremendamente aborrecidas. O Elephant de Van Sant, o Exorcist de Renny Harlin, as falas da protagonista de Before Sunset, os devaneios intelectuais de Lá Fora... E isto só para dar 4 exemplos actuais e completamente distintos.
Quanto ao Manoel de Oliveira... Serei sempre da opinião que vale a pena experimentar! Mais que não seja por se tratar do nosso realizador mais conhecido no estrangeiro. É uma vergonha para um português, que tenha acesso à cultura, nunca ter visto um filme dele... No fundo, é como nunca ter lido um romance do Saramago. Coragem!
Se a Julie Delpy é um anjo, então é o anjo mais execrável que já existiu. Há pouca coisa que se aproveite naquela personagem... Uma mulher apaixonante deveria ter um leque de assuntos mais variado do que ecologia, gatinhos e avós doentes.
Serei a única pessoa com esta opinião?
Estávamos a escrever sobre Before Sunset que é claramente pior do que o primeiro. Aliás, os meus exemplos nunca pretenderam agredir Before Sunrise.
O único aspecto que posso sublinhar no teu comentário é a referência a Nina Simone... Isso sim!
De resto, devo confessar-te que, para mim, um filme "brilhante" é bem mais do que uns quantos diálogos joviais.
Meu caro:
Há diálogos e diálogos... Quanto ao Godard... Veio-me à memória O Desprezo e aquele tema musical absolutamente fantástico. Boa recordação!
Fica-me mal? O que fica mal é não aparecer ninguém que seja partidário da minha opinião! "Conversas realistas?" Até podem ser realistas mas são aborrecidas, banais, entediantes...
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