29 outubro 2005

Proposta de discussão - X

Cada vez mais se recusa a ideia de uma aprendizagem. (…) A ideia é: cinema não tem nada que perceber. Não há nada para perceber. Há divertir-me ou não me divertir, distrair-me ou não me distrair e recusar perceber qualquer coisa. E isto de uma maneira geral para tudo, cada vez mais. Uma espécie de gala de analfabetismo que leva a essa reacção muito hostil em relação a obras exigentes.
É uma coisa que mudou muito em relação ao meu tempo. Nos anos 50, as pessoas tinham uma atitude bastante mais modesta. Quando não percebiam um filme, quando o filme era mais difícil, não saíam de lá imediatamente a dizer “isto não presta para nada”. Diziam “eu não percebi, eu não entendi, ajuda-me, explica-me”, depois liam coisas, começavam a entender e a dizer “ainda não tenho preparação para aquilo”. Como eu posso dizer que não tenho preparação para uma determinada obra literária ou para uma determinada obra de pintura. Ou, por exemplo, como me acontece com a ciência. Se eu for ouvir uma conferência de um matemático, é óbvio que não percebo nada de nada, mas não saio de lá a dizer “o homem é um aldrabão ou um vigarista”. Eu é que não tenho capacidade de o compreender. (…)
João Bénard da Costa no documentário A 15ª Pedra – Manoel de Oliveira e João Bénard da Costa em Conversa Filmada

25 outubro 2005

Filmes portugueses no doclisboa




Durante 9 dias de programação, o doclisboa, terceiro festival internacional de cinema documental de Lisboa, apresentou cerca de 90 filmes oriundos de todo o mundo. Para a posteridade, ficam o elevado número de espectadores, ainda mais do que no ano passado, e uma atenção especial dada ao documentário português.
Assim, para aqueles que estiveram presentes nas projecções de películas portuguesas, os nomes de Cláudia Varejão, vencedora da menção especial 1ª obra, e de Sílvia Firmino, vencedora do prémio doclisboa Tóbis para o melhor documentário português e do prémio doclisboa IPJ para o melhor filme português, catapultaram do quase anonimato em direcção ao reconhecimento público.
Falta-me, primeira obra de Cláudia Varejão, convidou várias figuras públicas, tão desiguais como Lili Caneças e António Vitorino, e interpelou imigrantes, pedintes e habitantes de Lisboa com o objectivo de que todos escrevessem numa ardósia aquilo que lhes faz falta. Há respostas que se repetem, como “saúde” e “felicidade”, mas há também algumas que espantam. Tudo espremido, fica a recordação de uma película realizada por alguém com um inteligente olho fotográfico.
Gosto de Ti Como És, obra de Sílvia Firmino, desenvolve-se na intimidade de uma família castiça e de um bairro antigo de Lisboa. Dia após dia, vamos conhecendo os ensaios, os medos e os desejos dos responsáveis pela apresentação da Marcha da Bica. Documentário sincero, comovente e alegre, mesmo brejeiro, Gosto de Ti Como És traz a possibilidade de testemunharmos toda a relevância que as Marchas Populares têm na vida de muitos lisboetas.
Destaquemos ainda Fiat Lux, de Luís Alves de Matos, e A 15ª Pedra – Manoel de Oliveira e João Bénard da Costa em Conversa Filmada, de Rita Azevedo Gomes. O primeiro, curta-metragem de 16 minutos, transporta-nos até a uma aldeia perto de Tondela onde o realizador acompanhou, de forma pertinente, os hábitos de uma população antes e depois de terem luz eléctrica. O segundo, resultado final de uma longa conversa, consegue transmitir uma noção de proximidade física e psicológica entre o público e dois cinéfilos. Normalmente tão distantes, reconhecidos inclusivamente como “mitos da nossa cultura”, Manoel de Oliveira e João Bénard da Costa aproximam-se, falam abertamente sobre experiências do passado, dão a conhecer histórias familiares, riem-se e afastam a ideia de “génio” para se aproximarem da ideia de “homem”, tão perto de nós.

14 outubro 2005

Sugestões doclisboa 2005



De 15 (Sábado) a 23 de Outubro (Domingo)

Da extensa e louvável programação oferecida pelo doclisboa 2005, o Mise en Abyme sugere:

- Sereias, 15 / 21h00

Dina Campos Lopes apresenta um retrato da situação vivida pelo barco-clínica da organização holandesa Women on Waves depois de ter sido impedido pelo Governo português de entrar em águas territoriais portuguesas.

- Srebrenica: a Cry from the Grave, 16 / 14h30

O programa Histórias da Europa abre com o caso de Srebrenica contado por sobreviventes do massacre de 1995.

- Era uma Vez um Arrastão, 18 / 11h00

Documentário que desmascara o pendor sensacionalista da comunicação social em Portugal.

- A 15ª Pedra, 18 / 18h30

Rita Azevedo Gomes dá a palavra a Manoel de Oliveira e a João Bénard da Costa.

- Time Indefinite, 19 / 16h30

Reflexão cinematográfica sobre a passagem do tempo nas pessoas e nos lugares.

- Sergei Eisenstein: Autobiography, 21 / 14h30

Documentário sobre a vida e a obra do mais lendário realizador soviético.

- Bright Leaves, 21 / 23h00

Ross McElwee realiza um misto entre um inquérito e um filme caseiro com o objectivo de explorar as diferentes consequências do tabaco na vida das pessoas.

- FILMES PREMIADOS, 23 / 16h30 - 18h30 - 21h00

Até amanhã!

12 outubro 2005

À vossa espera no clube de vídeo - III



Um morto, dois homens, duas mulheres e ainda um excêntrico endinheirado. Quem será o responsável por aquele cadáver? Será o capitão, a caçadora de maridos, o pintor indolente ou a casta senhora? Talvez nenhum deles. Se calhar o culpado pelo corpo morto é uma criança faladora ou mesmo um médico distraído. Todos parecem ter um motivo, todos parecem agir de forma estranha e há ainda uma porta que se abre misteriosamente ao longo do filme.
Ao mesmo tempo que o pintor vai desenhando, Alfred Hitchcock arquitecta uma série de equívocos preenchidos por uma sexualidade explícita. Minuto a minuto, The Trouble with Harry, a estreia em cinema de Shirley Maclaine, revela-se uma teia de fios macabros, deliciosamente pervertidos.
Um filme do mestre bem diferente de todos os outros.
Não deixem de o ver!

11 outubro 2005

Todos à Culturgest!


" O doclisboa é o único festival internacional português exclusivamente dedicado ao documentário, que se interessa por novas formas de pensar, de olhar o mundo e de comunicar.
O doclisboa 2005 vai trazer novamente à Culturgest uma visão transversal do mundo contemporâneo. 9 dias de programação intensiva onde serão apresentados 90 documentários. "