Durante 9 dias de programação, o doclisboa, terceiro festival internacional de cinema documental de Lisboa, apresentou cerca de 90 filmes oriundos de todo o mundo. Para a posteridade, ficam o elevado número de espectadores, ainda mais do que no ano passado, e uma atenção especial dada ao documentário português.
Assim, para aqueles que estiveram presentes nas projecções de películas portuguesas, os nomes de Cláudia Varejão, vencedora da menção especial 1ª obra, e de Sílvia Firmino, vencedora do prémio doclisboa Tóbis para o melhor documentário português e do prémio doclisboa IPJ para o melhor filme português, catapultaram do quase anonimato em direcção ao reconhecimento público.
Falta-me, primeira obra de Cláudia Varejão, convidou várias figuras públicas, tão desiguais como Lili Caneças e António Vitorino, e interpelou imigrantes, pedintes e habitantes de Lisboa com o objectivo de que todos escrevessem numa ardósia aquilo que lhes faz falta. Há respostas que se repetem, como “saúde” e “felicidade”, mas há também algumas que espantam. Tudo espremido, fica a recordação de uma película realizada por alguém com um inteligente olho fotográfico.
Gosto de Ti Como És, obra de Sílvia Firmino, desenvolve-se na intimidade de uma família castiça e de um bairro antigo de Lisboa. Dia após dia, vamos conhecendo os ensaios, os medos e os desejos dos responsáveis pela apresentação da Marcha da Bica. Documentário sincero, comovente e alegre, mesmo brejeiro, Gosto de Ti Como És traz a possibilidade de testemunharmos toda a relevância que as Marchas Populares têm na vida de muitos lisboetas.
Destaquemos ainda Fiat Lux, de Luís Alves de Matos, e A 15ª Pedra – Manoel de Oliveira e João Bénard da Costa em Conversa Filmada, de Rita Azevedo Gomes. O primeiro, curta-metragem de 16 minutos, transporta-nos até a uma aldeia perto de Tondela onde o realizador acompanhou, de forma pertinente, os hábitos de uma população antes e depois de terem luz eléctrica. O segundo, resultado final de uma longa conversa, consegue transmitir uma noção de proximidade física e psicológica entre o público e dois cinéfilos. Normalmente tão distantes, reconhecidos inclusivamente como “mitos da nossa cultura”, Manoel de Oliveira e João Bénard da Costa aproximam-se, falam abertamente sobre experiências do passado, dão a conhecer histórias familiares, riem-se e afastam a ideia de “génio” para se aproximarem da ideia de “homem”, tão perto de nós.
3 comentários:
A modéstia da Mafalda impediu-a de referir que colaborou no Doc como assessora de imprensa! Cada vez mais metida no "meio"...
Infelizmente não vi nenhum dos filmes referidos neste texto, mas gostaria de voltar a chamar a atenção de todos os que lêem este blog para a fluidez, rigor e excelente construção desta "prosa azevediana" (conceito a utilizar e divulgar).
Contrariando a tendência de tantos "intelectuais", a Mafalda escreve de forma escorreita, arejada, estimulante, viva e directa.
Daí que este blog se tenha vindo a tornar uma referência no panorama da crítica e discussão cinematográfica em Portugal.
Parabéns!
Vi "Falta-me" e "Gosto de Ti Como És" e também gostei, especialmente do apurado sentido visual do primeiro :)
Concha,
Por isso gostei logo deste blogue a primeira vez que o vi e li.
Pena que os posts sejam tão espaçados.
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