27 março 2012

Sem querer ser repetitiva…

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O Verão é a melhor altura do ano. E já faltou mais.
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Fotografia de Elena Kalis

10 março 2012

We just come from a bad place.

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Ultimamente, o acto de ir ao cinema tem-se demonstrado penoso. Pelas pessoas que abundam nas salas de cinema, de pipocas pestilentas no colo e ecrãs de odiosos smartphones iluminados nas mãos, acostumadas ao hábito pueril de ir comentando o filme com o comparsa do lado sempre que há um momento de silêncio na história que está a ser projectada. É a tirania dos energúmenos. Um martírio indescritível e, devo confessar, uma dor de alma. Mas, nos últimos meses, este cenário de desrespeito e má educação tem estado aliado a um repetido desencanto face aos filmes que se vão vendo. Arriscaria dizer que, no último ano, salvo honrosas excepções como The Tree of Life, Beginners, Drive, Sangue do meu Sangue e Uma Separação, haverá outras, não muitas com certeza, mas a memória falha-me e não me apetece elaborar uma lista rigorosa, o cinema que se viu por aqui foi um tanto ou quanto decepcionante. E ontem, no último dia de uma semana cansativa e repetitiva, quando me dirigi à sala de cinema mais próxima para ver o último filme de Steve McQueen, ia medrosa e preparada para o pior. E não deveria. Pois aquilo que vivi foi do mais intenso que tenho experimentado. Passou-se a noite, mal dormida e angustiada com o sofrimento de Brandon Sullivan, a quem a máscara caiu, e aqui estou, de computador em riste. Como se o olhar de Michael Fassbender no metro, inicialmente lânguido mas, a pouco e pouco, cada vez mais triste, nos perseguisse, nos pedisse ajuda. Como se aquele momento humilhante, protagonizado pelo chefe, ele sim imoral, que o confronta com a pornografia no disco rígido, exigisse uma espécie de retaliação e não conseguíssemos descansar até que esse desejo de vingança esteja consumado. É realmente difícil ser-se feliz. Ou ser-se simplesmente num mundo e num meio que obrigam a uma forma de estar tão rígida. E depois vemo-lo a ele, Brandon Sullivan, a tentar sobreviver, a tentar construir a sua persona até ao momento em que recebe a visita da irmã, o seu calcanhar de Aquiles, e tudo se desmorona. As lágrimas que caiem quando a ouve cantar não são mais do que a confirmação de que aquelas duas almas são irmãs de sangue e irmãs no sofrimento, na derrota e na falta de adequabilidade a este mundo. E quando entramos naquela casa de banho suja de sangue, apetece voltar a vestir o fato de treino, sair porta fora e correr como se não houvesse amanhã. Durante metros e mais metros, passando por quarteirões e semáforos, rumo a um qualquer destino que, acreditamos, nos trará serenidade e paz de espírito. Será pedir demais?