28 janeiro 2006

Dia dos Lumière

E eis que, depois de os 27 blogs participantes terem votado, surge a lista de vencedores da segunda edição dos Prémios Lumière. O Mise en Abyme agradece novamente o convite e espera que o projecto se repita em 2007.

Melhor Filme

Million Dollar Baby

Melhor Realizador
Clint Eastwood

Melhor Argumento

Million Dollar Baby

Melhor Actor
Javier Bardem

Melhor Actriz
Hilary Swank
Melhor Actor Secundário
Morgan Freeman
Melhor Actriz Secundária
Natalie Portman

Jovem Promessa Masculina
Zach Braff

Jovem Promessa Feminina
Rachel McAdams

Melhor Filme Animado
Corpse Bride
Melhor Banda Sonora
Corpse Bride

Melhor Fotografia
Million Dollar Baby
Melhor Montagem
The Aviator

25 janeiro 2006

Proposta de discussão - XIII

Propondo um regresso às discussões, lanço Match Point como isco.

- Um Crime e Castigo dos tempos modernos?

- Um Woody Allen diferente de todos os outros?

- Um Jonathan Rhys-Meyers incompreensível?

Aguardo ansiosamente pelas vossas opiniões.
Até breve!

20 janeiro 2006

Convite à ilusão

“Por isso, The Purple Rose of Cairo talvez seja a mais bela homenagem que o cinema faz ao poder de sedução das salas de cinema. “

Manuel Cintra Ferreira, Folhas da Cinemateca

Pensar em A Rosa Púrpura do Cairo é compreender que a ilusão nunca antes foi assim filmada. Nem mesmo por François Truffaut quando assinou La Nuit Américaine (1973) e nem pelo próprio Woody Allen quando escreveu o argumento de Play it Again, Sam (1972).

Mas comecemos pelo princípio. Se antes pensávamos que a eterna recordação de Mia Farrow seria relembrá-la nas mãos de John Cassavetes em Rosemary's Baby (1968), agora percebemos que nos enganámos por completo. Esta Cecilia, sem possessões demoníacas, ocupará para sempre a nossa memória.

Aquilo que parece ser um elogio à ingenuidade e à inocência, como aliás foi feito recentemente por Mike Leigh em Vera Drake, transforma-se num convite à ilusão. Não nos deixemos enganar! Esta Cecilia é tão pouco ingénua como qualquer um de nós. Ainda que a vejamos a beijar vários homens e a mentir ao marido, desculpamo-la devido à sua vida miserável. Ou não. Na verdade, perdoamo-la porque Woody Allen nos consegue iludir. Esta Cecilia não é uma mulher ingénua. É um ser humano que desespera por uma vida mais gratificante e que anseia por agarrar a felicidade.
(Se há alguém profundamente ingénuo neste filme, esse alguém é Tom Baxter, explorador e poeta. E mesmo ele é resultado da ilusão pois não é um ser humano.)
De desconstrução em desconstrução, personagens que abandonam o ecrã, actores que fingem ser personagens e personagens que fingem ser humanos, acompanhamos A Rosa Púrpura do Cairo, iludidos pela sensação de que vemos um filme cómico. (Talvez o mais triste dos filmes cómicos se pensarmos que estamos em plena crise económica, rodeados de personagens pobres e descontentes.)
E no fim Top Hat, Fred Astaire e Ginger Rogers. Já tínhamos pensado neles quando uma das personagens começa a sapatear desenfreadamente. Vê-los não é uma surpresa mas funciona como um consolo, como uma forma de esperança. Para Cecilia e para nós.
(Depois de o filme acabar, acompanha-nos a certeza de que o cliché está correcto: nada é aquilo que parece.)

19 janeiro 2006

Apoiando o documentário português


" PANORAMA é o nome escolhido para a Mostra de Documentário Português que se vai realizar, em Lisboa, entre 27 de Janeiro e 5 de Fevereiro. Trata-se de uma organização da Videoteca Municipal de Lisboa em colaboração com a Apordoc – Associação pelo Documentário.
A Mostra do Documentário Português pretende ser um espaço privilegiado para dar a conhecer os documentários que se fazem em Portugal ou por portugueses, bem como proporcionar o encontro e partilha destas experiências. Tem como objectivo alargar e fortalecer a comunidade do documentário português, ser um elemento de ligação entre os filmes, os seus autores e o público, tentando aproximar quem faz e o que se faz de quem vê. Será, por isso, um evento não competitivo onde em cada ano se tentará mostrar de forma exaustiva a diversidade dos filmes que se estão a produzir.
PANORAMA quer ser um ponto de encontro entre os filmes e as pessoas, uma troca de impressões e experiências que contribua para uma visão maior do documentário português. "

06 janeiro 2006

Um sinal?



Público de hoje, dia 6 de Janeiro de 2006

03 janeiro 2006

Assim se publicou



Capa da revista Celulóide, Março de 1964



Capa da revista Celulóide, Novembro de 1967



Capa da revista Celulóide, Fevereiro de 1974



Capa da revista Celulóide, Novembro de 1975



Capa da revista Celulóide, Março de 1976



Capa da revista Celulóide, Novembro de 1977

Quando surgirá uma nova revista de cinema escrita em português?

02 janeiro 2006

O meu conselho para 2006



Fotografia tirada em Vila Nova de Milfontes, no dia 1 de Janeiro de 2006
Parabéns ao Mise en Abyme pelo seu primeiro ano de existência!

29 dezembro 2005

Quando a comédia atinge a perfeição

" Osgood: I called Mama. She was so happy she cried. She wants you to have her wedding gown. It's white lace.
Daphne: Yeah, Osgood. I can't get married in your mother's dress. Ha ha. That-she and I, we are not built the same way.
Osgood: We can have it altered.
Daphne: Aw no you don't! Osgood, I'm gonna level with you. We can't get married at all.
Osgood: Why not?
Daphne: Well, in the first place, I'm not a natural blonde.
Osgood: Doesn't matter.
Daphne: I smoke. I smoke all the time.
Osgood: I don't care.
Daphne: Well, I have a terrible past. For three years now, I've been living with a saxophone player.
Osgood: I forgive you.
Daphne: I can never have children.
Osgood: We can adopt some.
Jerry-Daphne: But you don't understand, Osgood. Uh, I'm a man.
Osgood: Well, nobody's perfect. "
Some Like It Hot, 1959

28 dezembro 2005

O carnal em Kubrick



Reconhecido pelo perfeccionismo e pela criatividade que confere aos filmes, Stanley Kubrick será igualmente relembrado pela carnalidade das suas obras.
No princípio da década de 60, Kubrick sujeitou-nos à promiscuidade assumida de uma Lolita de apenas 12 anos, recuperada através das páginas de Vladimir Nabokov. Depois de Lolita, cerrámos os olhos face à sexualidade violenta de A Clockwork Orange. As notas de Beethoven a funcionarem como um hino à libertação física e sexual.
Anos depois, em 1975, ficámos extasiados com Barry Lyndon. Obra-prima pontuada pela aguda ironia com que o narrador nos vai contando as proezas e os fracassos do protagonista. Começando por ser um jovem ingénuo, Barry Lyndon vai multiplicando os seus encantos. De cenário em cenário, a câmara de Kubrick filmou-o a seduzir e a saborear mulheres.
Já na década de 80, chegou-nos The Shining, épico de terror. Mais uma vez, a câmara de Kubrick rompeu convenções, entrou numa casa-de-banho e filmou a tensão física entre Jack Nicholson e uma bela mulher que se transforma num ser horrendo. 19 anos depois, recebemos a notícia da morte do realizador e a estreia de Eyes Wide Shut, o mais incompreendido dos filmes de Kubrick. Aqui, a infidelidade conjugal oscilou entre os limites do real e do imaginário.
Durante mais de quarenta anos, a genialidade de Kubrick também se deteve nas fraquezas e nas atracções entre homens e mulheres. Agora, quase a chegarmos ao fim de 2005, o Mise en Abyme homenageia novamente um dos maiores realizadores de sempre.

24 dezembro 2005

Há planos assim - VI






Fragmentos da mais recente obra-prima de Tim Burton (e o Dellamorte Dellamore de Michele Soavi anda tão perto...)

20 dezembro 2005

Prémios Lumière 2006


Atenção a todos os cinéfilos!
Os Prémios Lumière regressaram!
O Mise en Abyme tem o prazer de agradecer ao responsável pelo blog Hollywood o convite para participar como júri na segunda edição dos Prémios Lumière.
A lista de vencedores será publicada em simultâneo por todos os blogs participantes e conterá títulos que tenham estreado ao longo do ano de 2005.
Aguardem novidades!

Categorias
Melhor Filme
Melhor Realizador
Melhor Argumento
Melhor Actor
Melhor Actriz
Melhor Actor Secundário
Melhor Actriz Secundária
Jovem Promessa Masculina
Jovem Promessa Feminina
Melhor Filme Animado
Melhor Banda Sonora
Melhor Fotografia
Melhor Montagem

14 dezembro 2005

Formas de encontro no Vietname



Numa primeira análise, a obra Apocalypse Now de Francis Ford Coppola pode ser descrita como uma narrativa de viagem. No início, observamos a intimidade do capitão Willard em Saigão. Momentos depois, vemo-lo a ser transportado até aos Serviços Secretos de Nha Trang e, ao longo do filme, somos testemunhas da sua viagem pelo rio Nung num barco de patrulha da Marinha. De sequência em sequência, apercebemo-nos de que esta subida pelo rio é uma viagem através do inferno, da miséria, da injustiça, da loucura, do absurdo, da destruição, da mentira, do erro, do ódio e do horror.
Se recordarmos as palavras do General dos Serviços Secretos, “Todos os homens têm um ponto de ruptura, incluindo nós os dois. O Walt Kurtz atingiu o dele e enlouqueceu.”, compreendemos que a viagem de Apocalypse Now tem como destino este ponto de ruptura, ou seja, o encontro com o pior de nós mesmos. Assim, numa análise mais atenta, podemos descrever Apocalypse Now como um filme em que a noção de encontro adquire uma importância simbólica equivalente à noção de viagem.
O primeiro encontro entre Willard e Kurtz acontece durante o almoço em Nha Trang. Aqui, o capitão observa a fotografia do general, apercebe-se das enormes qualidades deste e ouve a sua voz através de gravações. Esta sequência, para além de estabelecer a primeira ligação entre os dois homens, permite que o espectador pressinta a importância da voz ao longo da película. No que toca à análise desta capacidade humana, destacaremos três vozes distintas: a do narrador, a da mãe de Clean e a de Kurtz.
Por um lado, os monólogos interiores do narrador, proferidos por um “eu” atormentado por dúvidas, acompanham todo o filme e funcionam como uma forma de nos aproximarmos de Willard e de o compreendermos. Por outro lado, a voz da mãe de Clean, que ouvimos uma única vez por altura do assassínio do filho, é paradigmática da guerra do Vietname. Toda a cena da morte de Clean possui uma enorme carga dramática que se adensa à medida que ouvimos a voz bondosa da mãe a falar do regresso do filho, do futuro deste e do presente que lhe vão oferecer. No entanto, não ficamos indiferentes ao contra-senso e ao absurdo que sobressaem deste episódio. Da mesma maneira que padecemos com a impressão de que não faz sentido que a voz da mãe se continue a ouvir à medida que o sangue de Clean se vai espalhando pelo barco, também sofremos com a sensação de que toda a guerra do Vietname é disparatada e não tem qualquer objectivo lógico.
Por último, analisemos a voz de Kurtz que possui um efeito quase hipnotizador em todas as personagens de Apocalypse Now. Os exemplos mais evidentes desta capacidade de provocar fascínio encontram-se nas afirmações do fotógrafo excêntrico (“Não se fala com o coronel… Ouvimo-lo.”, “Ele lê poesia alto. E tem uma voz, uma voz…”) e nas de Willard (“Tinha ouvido a voz dele na cassete e fiquei curioso, mas não conseguia ligar aquela voz a este homem.”).
A voz de Kurtz afirma-se desde os primeiros momentos do filme ao opor-se contra falsos valores e ao declarar-se contra qualquer mentira inventada pelos americanos para viverem com a consciência tranquila: “ E chamam-me assassino. Como se diz, quando os assassinos acusam o assassino? Mentimos. Mentimos e temos de ser piedosos para com os mentirosos. Esses poderosos… Odeio-os. Odeio-os.” / “Estou fora do alcance da tímida e enganosa moralidade deles e, por isso, não me preocupo.”
Paralelamente a isto, esta voz também surge em alguns dos momentos principais do filme. Quando se dá o primeiro encontro entre Willard e Kurtz, ouvimos a voz do coronel antes de visualizarmos o seu corpo. No momento em que o capitão se prepara para assassinar Kurtz, reparamos que o coronel se encontra a gravar a sua voz e, no fim do filme, no fim de tudo, é a voz de Kurtz que se ouve a sussurrar “O Horror… O Horror”.

Retomando a importância simbólica da noção de encontro, é no interior do barco que Willard, ao estudar o seu dossier, estabelece o segundo encontro impessoal com Kurtz. De documento em documento e de fotografia em fotografia, Willard ingressa num processo que pode ser descrito em três fases: a fase do conhecimento, a fase da identificação progressiva e a fase da assimilação entre Willard e Kurtz.
A primeira fase desenrola-se à medida que o capitão reúne conhecimentos sobre Kurtz e descobre pormenores da sua vida. Como é natural, Willard cria expectativas sobre o homem que tem de matar e começa a questionar a sua missão. Todos os episódios são pretexto para Willard reflectir sobre o coronel (“Se era assim que o Kilgore combatia, comecei a interrogar-me sobre o que teriam contra o Kurtz.” ).
Daqui, passamos para a fase em que Willard se identifica com o coronel, “Quanto mais lia e começava a compreender, mais o admirava.”, e em que imagina o encontro entre ambos: “Parte de mim tinha medo do que iria encontrar e do que iria fazer quando lá chegasse. Conhecia os riscos ou imaginava que sim, mas o que mais temia e se sobrepunha ao medo, era o desejo de enfrentá-lo.”
A terceira fase, intimamente relacionada com as outras duas, consiste num processo de assimilação entre Willard e Kurtz. Ao longo do filme, vamos tomando consciência de que o facto de Willard ter assimilado todo o tipo de informações sobre Kurtz fez com que começasse a agir e a pensar como o coronel.
No episódio em que a tripulação encontra um barco e decide revistá-lo, Willard actua da mesma forma que Kurtz agiria: mata a mulher com um tiro e manda prosseguir a viagem. Aliás, os seus pensamentos são bastante elucidativos e parecem ter saído da boca de Kurtz: “Era uma mentira e, quanto mais mentiras via, mais as odiava. Aqueles rapazes não voltariam a olhar para mim da mesma forma, mas senti que sabia uma ou duas coisas sobre o Kurtz que não vinham no dossier.”

No primeiro encontro pessoal entre ambos, vemos um Willard ajoelhado relativamente perto de um Kurtz que se encontra deitado. A luz, ou a falta dela, não permite que vejamos a cara do coronel. A pouco e pouco, depois de ouvirmos a voz de Kurtz e de nos apercebermos de que este se encontra doente, começamos a visualizar a cara que conhecíamos das fotografias. Kurtz mostra-se torturado pela guerra. No diálogo que se segue, Kurtz refere “Esperava alguém como tu.” e pergunta “Que esperavas?” mas Willard opta pelo silêncio face à pergunta de Kurtz.
Nos encontros seguintes, voltamos a tomar consciência da autoridade da voz do coronel. Uma das cenas primordiais de Apocalypse Now ocorre quando este lê a primeira parte do poema The Hollow Men, escrito por T. S. Eliot em 1925. O poema, redigido na primeira pessoa do plural, é também uma forma de Kurtz se encontrar com Willard e de lhe mostrar que enfrentam problemas análogos. (– We are the hollow men // We are the stuffed men // Leaning together -)

No encontro final, deparamo-nos com o ponto auge da assimilação exposta anteriormente. Depois de Kurtz morrer, Willard toma o seu lugar. Willard é Kurtz e toda a população o reconhece ao curvar-se perante ele. Com a arma do crime numa mão e com o livro de Kurtz na outra, os espectadores lembram-se novamente das palavras do General dos Serviços Secretos: “Sabe, Willard, nesta guerra, as coisas tornam-se confusas na selva. O poder, os ideais, a moralidade antiga e as necessidades militares práticas. Mas, na selva, com estes selvagens, deve ser uma tentação ser Deus.”

No entanto, este Willard, ao pegar na mão de Lance e ao abandonar aquele lugar, mostra-se superior a estas palavras e escapa à tentação de ser adorado como um deus por todos aqueles que antes tinham adorado Kurtz.

08 dezembro 2005

Proposta de discussão - XII

O filme da minha vida
Até ao dia de hoje, houve um único filme que alterou a minha vida: Persona de 1966.
Fui vê-lo à Cinemateca no dia 15 de Novembro de 2002. Era a minha primeira experiência no universo de Ingmar Bergman. Recordo-me das palavras ditas por João Bénard da Costa antes da projecção começar “ – como eu invejo aqueles que hoje vão ser, pela primeira vez, confrontados com Persona. Confrontados com quem? Com uma pessoa (uma máscara, que dizem os eruditos que é a raiz do que somos) que um dia, num palco, emudeceu e nunca mais voltou a falar.”
Assim que o filme começou, apercebi-me de que nunca tinha visto nada assim. A simplicidade dos cenários, os grandes planos de Bergman, a ausência de diálogos e, claro, os olhos de Elisabet Vogler. Nunca tinha visto nada que representasse de forma tão verdadeira a essência do ser humano. Aliás, para ser sincera, não voltei a ver nada que possa ser comparado a Persona. Persona é sinónimo de perfeição.
A partir daquele dia, a minha relação com o cinema mudou radicalmente. Bem sei que isto parece um lugar-comum mas foi o que aconteceu. Desde então, dediquei-me a conhecer a obra completa de Ingmar Bergman. Tenho tido boas surpresas mas, desculpem a repetição, nada que se compare a Persona. Voltando a João Bénard da Costa: “ Em nenhum outro dos seus filmes – sejam quais forem as subjectividades e as preferências – o cineasta conseguiu atingir tal grau de simplicidade e de complexidade e conseguiu dizer tanto com tão pouco. Todo o Bergman está nele, nele está todo o Bergman.”
E vocês? Qual é o filme das vossas vidas?

07 dezembro 2005

Há planos assim - V

Depois de ter realizado The Hand That Rocks the Cradle e L.A. Confidential, dois marcos do cinema da década de 90, Curtis Hanson aventurou-se no género melodramático e arrastou duas celebridades: Shirley MacLaine e Cameron Diaz.
O resultado final desta “aventura” é uma película consistente, verosímil e bem filmada. Poderia ser melhor e mais pungente mas não o é. No entanto, atrevo-me a dizer que In Her Shoes possui uma das cenas mais bonitas (desculpem-me o adjectivo banal mas é o que sinto) de 2005: a leitura do poema One Art de Elizabeth Bishop feita por uma Cameron Diaz disléxica a um idoso acamado.
One Art
The art of losing isn't hard to master;
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! my last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

--Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.
Elizabeth Bishop

O poema, brilhante descrição de uma arte cujo objectivo é alcançar a indiferença face àquilo que se perde, não vive de construir coisas mas sim de as perder. Tal como a personagem que, de emprego em emprego e de homem em homem, vai perdendo tempo, beleza e dignidade. Assim como o velho professor que perdeu a visão e aprendeu a viver com isso, refugiando-se na tarefa de ensinar poesia às pessoas que tratam dele.
É de perder e ganhar que nos fala este In Her Shoes. E não tenhamos dúvidas de que ganhámos com ele.

04 dezembro 2005

Proposta de discussão - XI

Gandhi (1982)
Schindler's List (1993)

Suspect Zero (2004)
Oliver Twist (2005)
Eis alguns exemplos comprovativos da enorme versatilidade de Ben Kingsley. Pareceu-me que estava na altura de prestar homenagem a um dos actores que tem tido mais "caras" no grande ecrã.
Aqui fica mais uma oportunidade para discutirmos sobre cinema.
Até breve!

28 novembro 2005

Sobreviver à morte

A razão que me leva a escrever sobre Elizabethtown nada tem a ver com a fraca interpretação de Orlando Bloom que exercita uns esforçados trejeitos de galã sem nunca anular o seu desempenho em Troy, frustração cinematográfica realizada pelo mesmo homem que nos maravilhou com The NeverEnding Story. Também nada tem a ver com Kirsten Dunst, tão pura em Eternal Sunshine of the Spotless Mind e agora tão reduzida a uma miscelânea de Meg Ryan com Amélie Poulain. E, naturalmente que nada tem a ver com o romance fácil e quase simplório que se vai desenrolando ao longo de Elizabethtown.
Aquilo que me leva a escrever este texto é a forma como Cameron Crowe consegue, de uma vez por todas, trazer algo de profundamente interessante ao grande ecrã: a capacidade de sobreviver à morte.
Não é por acaso que a última palavra do filme é “life” e também não é por acaso que os personagens alcançam formas de vencer a morte: os habitantes festejam o carácter de um homem em vez de o chorarem, o filho suicida é conduzido até aos pequenos prazeres da vida e Susan Sarandon, na melhor sequência do filme, exibe-se em frente a uma plateia de idosos moralistas e de familiares que nunca a prezaram. Ao revelar segredos, ao dançar um comovente sapateado e ao aparecer, magnífica, de branco na cerimónia fúnebre do marido, Susan Sarandon está a ensinar-nos a sobreviver à morte.
E no fim, nem queremos saber de mais nada. Ansiamos por sair da sala de cinema e abraçar a vida, contentes porque superámos a morte.
P.S. Parabéns ao Mise en Abyme pelo seu centésimo post!

11 novembro 2005

Novidades sobre Stanley Kubrick


Aqui ficam dois links destinados aos seguidores mais fiéis da obra de Stanley Kubrick.
A sugestão foi dada pelo responsável deste blog, aliás grande admirador do realizador americano que morreu em 1999.

10 novembro 2005

Há planos assim - IV

No dia 10 de Fevereiro, escrevi um texto sobre a beleza indiscutível do plano de Frank Capra, em que vemos Donna Reed e James Stewart separados por um telefone em It's a Wonderful Life de 1946.
Agora, passados exactamente 9 meses, proponho que observemos o seguinte plano de Luchino Visconti.
Como verificamos, Marcello Mastroianni e Maria Schell encontram-se separados por uma carta, no filme Le Notti Bianche de 1957. Aqui, tal como em It's a Wonderful Life, o objecto cénico simboliza o terceiro elemento de um triângulo amoroso. Simples coincidência? Ou será que, 11 anos depois, Luchino Visconti decide piscar o olho a Frank Capra?