15 junho 2006

Suposição matinal

Se eu resolvesse fazer um inquérito de rua e perguntasse a rapazes portugueses, nascidos entre 1978 e 1988, qual o filme preferido, tenho quase a certeza de que a resposta seria uma de duas: Braveheart (para os menos "cinéfilos") ou The Big Lebowski (para os mais "cinéfilos").
(Para todos aqueles que não se incluem nesta suposição, o meu mais sincero cumprimento cinéfilo.)

04 junho 2006

Um murro no estômago



Sobre o seu filme, Miguel Clara Vasconcelos terá dito que não queria comparações com Belarmino de Fernando Lopes. A pergunta que se coloca é o porquê desta renúncia a um sóbrio antepassado comprovativo de que os cineastas têm filmado o boxe como quem observa um espectáculo inquietante. Senão, recordemos por breves instantes Jake La Motta de Raging Bull e a forma como Martin Scorsese transformou a violência no meio de expressão do seu protagonista. Escusamos até de viajar tantos anos na história do cinema quando podemos simplesmente recordar o último de Clint Eastwood, Million Dollar Baby, ainda aqui tão perto.
Mas regressemos a Documento Boxe, motivo pelo qual iniciámos este texto. Nascido em Lisboa em 1971, ano do célebre combate de boxe Frazier vs. Ali, Miguel Clara Vasconcelos foi vencedor do Festival Internacional de Curtas-Metragens de Vila do Conde. À partida, parece-nos que este documentário é mais um filme a transmitir esse fascínio pelo boxe que tem marcado a sétima arte. Porém, mais do que isso, Documento Boxe insere-se numa cultura documental portuguesa que tem dado a conhecer um Portugal quase ignorado.
Compreender Documento Boxe implica que o relacionemos com documentários como À Flor da Pele, realizado por Catarina Mourão, e Gosto de Ti Como És, assinado por Sílvia Firmino. Em conjunto, estes filmes são representativos da vontade de mostrar um Portugal menos evidente aos espectadores e de o desmistificar, apontando o real sem artifícios. Neste gesto de filmar um país simultaneamente genuíno e castiço, a lembrar desejos neo-realistas de outros tempos, reside o problema de os espectadores não estarem preparados para o aceitar.
E assim, caminhando fugazmente por momentos cinematográficos, regressamos a Documento Boxe. No momento em que conhecemos Jorge Pina, protagonista deste documentário, já estamos familiarizados com o mundo do boxe português. A câmara do realizador proporcionou-nos que fossemos testemunhas ocultas das pesagens dos atletas e do convívio entre treinadores e pugilistas. Ao contrário de Scorsese, Miguel Clara Vasconcelos apresenta-nos um protagonista que se exprime através de palavras e que nos conta várias histórias.
Preparemo-nos pois para o receber de braços abertos, dispostos a inesperados murros no estômago. “Vais ler e vais gostar da história”, diz-nos o pugilista. “Vão ver e vão gostar da história”, digo-vos eu. Todas estas breves referências apoiam a conclusão de que esta história de Jorge Pina deve ser entendida como parte integrante de um novo cinema português que precisa de espaço e de espectadores para se poder definir e desenvolver. Desbravando caminhos, experimentando diferentes estéticas que nem sempre recebem elogios, a fotografia de Sérgio Brás d’ Almeida neste documentário é exemplificativa disto mesmo, assim cresce o nosso cinema.

20 maio 2006

The Aristocrats



Para quem não tem medo de rir.
Para quem não tem medo do cinema.
No fundo, para quem não tem medo de si mesmo.

07 maio 2006

Proposta editorial

"O Cine Guia® 2007, dedicado aos filmes disponíveis no mercado português no formato de DVD, vai estar nas livrarias e em diversos outros pontos de venda a partir de Outubro de 2006, representando um poderoso estímulo para a compra e o aluguer de DVDs.

O Cine Guia® 2007 é da autoria do crítico de cinema e jornalista Miguel Lourenço Pereira, criador do blog Hollywood, tendo prefácio de Mário Dorminsky, fundador e director do Festival Internacional de Cinema do Porto/Fantasporto.

O Cine Guia® 2007, que terá o formato de um estojo de DVD, para facilitar a arrumação em casa junto dos DVDs como livro de consulta, terá distribuição nacional em livrarias e outros pontos de venda de revistas e de jornais, em hipermercados e áreas de serviço.

Esta iniciativa editorial – que terá continuação nos anos seguintes – é um projecto profissional que descende directamente do anuário Video 89, Video 90, Video 91, Video 92 e Video 93, em que colaboraram especialistas portugueses (jornalistas e críticos de cinema), e insere-se na tradição dos «movie guides» que proliferaram nos EUA e que tanto êxito obtiveram nos países de língua inglesa, fornecendo ao público uma informação eficaz sobre o que existe no cinema, em sala e em casa («home cinema» e TV)."

06 maio 2006

Dois lados da razão

1)
Se será sempre muito difícil suceder a tão carismática personalidade, a dificuldade foi acrescida pelo modo como ele semeou o deserto à sua volta. Desde Maio de 2003 que não há responsável do departamento de Programação (é o próprio Bénard quem exerce o pelouro), e em Outubro passado, depois de não se ter efectivado em Maio a substituição que era das regras, a Cinemateca ficou mesmo durante meses sem vice-presidentes, pela demissão de José Manuel Costa e pela reforma antecipada de Rui Santana Brito. Que a instituição se chame Cinemateca Portuguesa é mesmo ficcional. Protocolos com instituições não são cumpridos, cineclubes e outros bem podem pedir cópias, e qualquer governante que já tenha tido a tutela sabe que o obstáculo intransponível a uma programação no Porto, na Casa das Artes, tem sido o próprio presidente Bénard. Mais: há anos a Cinemateca adquiriu direitos de uma importante colecção à Hollywood Classics, que permitia ter um acervo considerável de cópias susceptível de circulação pelo país, e que afinal ficaram na gaveta, num acto lesivo do interesse público, financeiramente inclusive.
Augusto M. Seabra, Público, 27 de Abril de 2006
2)
Se houve alguém que entendeu a luz e nunca se escondeu da sombra (embora seja dessa combinação que ele nasceu para este mundo) foi João Bénard da Costa. Poucas pessoas neste pequeno canto europeu deram tanto a tantas (ou várias) gerações; poucos, muito poucos, nos fizeram sonhar, ver e aprender a mais bela das artes: o cinema.
(...)
Mas nós - que o conhecemos, que o ouvimos e o lemos - temos a obrigação de dizer que seríamos bastante diferentes se não tivessemos por ele passado.
(...)
O Nicholas Ray, o King Vidor, o Capra, o Lubitsch ou o Hawks não nos foram apresentados pessoalmente. Deram-se apenas a conhecer pelo João Bénard da Costa. Estes amigos e tantos outros, que normalmente estavam lá para fora envergonhados, foram cantados, recordados e maravilhosamente "filmados" por ele. Nunca ninguém como ele conseguiu alguma vez fazer-nos ver o filme pela décima vez.
(...)
A sua magia estava sempre na utilização do absoluto: "O maior filme de sempre...", "O melhor beijo alguma vez filmado...", "o melhor início de qualquer dos filmes de Ford...". Mas também no louco cruzamento de planos, da pintura ao cinema, da literatura à fotografia.
(...)
João Bénard da Costa ficará para sempre na história do cinema, pois muito o cinema lhe deve, aqui ou em qualquer parte do mundo. A Cinemateca, tal como a conhecemos, não existia sem ele, sem a sua paixão, sem a sua alma, feita de "luz e sombra".
Nuno Galvão Teles, Público, 3 de Maio de 2006

23 abril 2006

Vício cinéfilo

A história de uma família italiana acompanhada pelos espectadores desde o fim dos anos 60 até aos dias de hoje. Esta é a sinopse de A Melhor Juventude. Eficaz mas redutora. Poderíamos acrescentar: fragmentos de vida, testemunhos de emoções, vestígios de dor. Continuaria redutora.
A Melhor Juventude, filme assinado por Marco Tullio Giordana, foi uma aposta do Cinema King que demorou pouco tempo até se transformar num autêntico acontecimento cinematográfico. De um momento para o outro, e quase inexplicavelmente, o público português aderiu em massa a este filme e deslocava-se ao King para ver as duas partes, cada uma com 3 horas de duração.
Ainda hoje, e já passaram mais de dois anos, os espectadores continuam a adquiri-lo ou a alugá-lo para conhecerem os irmãos Nicola e Matteo cujas vidas se alteraram desde o encontro com uma jovem doente.
A explicação para este sucesso só se torna difícil de perceber para quem nunca viu o filme. A Melhor Juventude, que começou por ser um projecto encomendado como série pela televisão estatal italiana, traz ao grande ecrã um ritmo concentrado e quase linear que, mais velozmente do que o cinema nos habituou, vai saltando de ano em ano, de acontecimento em acontecimento e de personagem em personagem. E aqui surge uma outra qualidade desta película que não pode ser desprezada: a escolha dos actores.
Carismáticos, conscientes da densidade psicológica das suas personagens, sempre no tom certo e conseguindo sabiamente fazer uso das suas características físicas. E devo sublinhar a parte final: fazer uso das suas características físicas. Neste filme, talvez como em poucos, todas as mulheres são belas, no sentido mais cativante que o adjectivo possui, e todos os homens são belos, no sentido mais fascinante que o adjectivo possui.

Desculpem...

Para todos aqueles que têm perguntado se abandonei o Mise en Abyme, a resposta é não. Não abandonei e não tenciono abandonar. No entanto, o tempo tem sido escasso e os filmes que tenho visto, salvo raras excepções, não merecem figurar num blog de homenagem à sétima arte.

Até breve!

29 março 2006

E agora...

O Mise en Abyme tem o prazer de apresentar
a mais recente produção independente
(E se quiserem ser realizadores por uns instantes, cliquem aqui.)

27 março 2006

Homenagem à beleza etérea - IV

Bibi Andersson
(Talvez nunca a tenhamos visto tão perfeita como em O Sétimo Selo.)

A morte aqui tão perto

Novamente Bergman. Porque nunca é demais escrever sobre ele, especialmente se acabámos de sair da Cinemateca depois de uma sessão de O Sétimo Selo. A omnipresença de Bengt Ekerot, recolhendo vidas através do seu manto negro, conduziu-nos até à morte espiritual de Persona e fez com que recordássemos o caminhar célere da vida de Morangos Silvestres e o ressuscitar amedrontado de Lágrimas e Suspiros. Caminhos complexos de percorrer, memórias difíceis de guardar.
Fomos testemunhas de um recital de sombras orquestrado pela morte. Porém, sentimo-nos consolados porque acreditamos que haverá sempre leite e morangos para partilhar. Vencendo a peste e o medo, assistimos ao renascer da esperança através de uma Bibi Andersson de longos cabelos louros, acompanhada pelo marido e filho numa espécie de presépio celestial.
E foi assim que, por esta vez, Ingmar Bergman se despediu de nós, espectadores confiantes na busca pelo sentido da vida.

E, assim, as Lágrimas e Suspiros se desvanecem.

23 março 2006

Quando o talento é descoberto



Presley Chweneyagae



Terry Pheto

Façamos figas para que Tsotsi não seja o primeiro e último filme em que estes actores puderam fazer uso do seu enorme talento. O cinema só tem a ganhar com rostos como estes, capazes de transmitir tudo através de uma enorme economia de palavras e de gestos. E nós também.

Parabéns pelo Óscar!

Proposta de discussão - XV





Se Viggo Mortensen se tivesse ficado pela incursão no imaginário de J.R.R. Tolkien, guardaríamos para sempre a recordação do grande Aragorn, herói como poucos. Porém, Viggo Mortensen seguiu em frente e tornou-se protagonista de um filme de David Cronenberg.
Surge então a dúvida: estará Viggo Mortensen à altura de ser o actor principal de um filme como A History of Violence? Pergunto isto porque também recordo a sua prestação em The Portrait of a Lady e sou da opinião de que Viggo Mortensen não tem a versatilidade e o carisma necessários para ser um grande actor.
Qual a vossa opinião?

22 março 2006

INDIELISBOA 2006

A pouco mais de um mês do início da 3ª edição do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente de Lisboa - começam a ser revelados alguns dos títulos a exibir durante o festival.
Para todas as informações sobre este evento cultural, clique aqui.

17 março 2006

Dia de imitações

Hoje sinto-me como a Emmanuelle Béart...



Dizem que a imitação é a melhor forma de elogio. Cliquem aqui para verem a ideia original.

Maxime



Proposta retirada daqui.

Por curiosidade...

Como qualifica o cinema português?
Cada vez melhor
Com elencos desadequados
Depressivo
Destituído de qualidade
Divertido
Francamente bom
Indiferente
Monótono
O Pátio das Cantigas é que era!
Original
Tecnicamente problemático
Um risco de tempo e de dinheiro
Uma cópia caricata do cinema estrangeiro
Único
Free polls from Pollhost.com

13 março 2006

Mais cinema gratuito

" O Núcleo de Programação Cinematográfica da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, no seguimento do trabalho de produção elaborado nos últimos três anos nos ciclos de cinema Buster Keaton, Yasujiro Ozu e Westerns de John Ford, irá realizar este ano o Ciclo de Cinema Sonhos e Visões.
Para tal, seleccionaram-se vinte e três filmes de épocas, escolas e realizadores de nacionalidades diferentes para um ciclo que irá ocorrer durante a Semana da Juventude da Câmara Municipal de Lisboa de 14 de Março a 1 de Abril na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e que será de acesso livre ao público em geral.
"
Programação do Ciclo
14 de Março (terça-feira)
Sessão de Abertura:
The Haunted House, Buster Keaton (1922)
Horário: 19h00
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B

15 de Março (quarta-feira)
Sonhos, Akira Kurosawa (1990)
Horário: 21h00
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre

16 de Março (quinta-feira)
A Matter of life and death, Michael Powell (1946)
Horário: 14:30h
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B

Persona, Ingmar Bergman (1966)
Horário: 21h00
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B

17 de Março (sexta-feira)
Deserto Vermelho, Michelangelo Antonioni (1964)
Horário: 21h00
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B

18 de Março (sábado)
8 ½, Federico Fellini (1963)
Horário: 21h00
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B

20 de Março (segunda-feira)
Sunset Boulevard, Billy Wilder (1950)
Horário: 21h00
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B

21 de Março (terça-feira)
Vertigo, Alfred Hitchcock (1958)
Horário: 14:30h
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B

Rumble Fish, Francis Ford Coppola (1983)
Horário: 21h00
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B
22 de Março (quarta-feira)
Morangos Silvestres, Ingmar Bergman (1957)
Horário: 21h00
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B

23 de Março (quinta-feira)
O Fantasma Apaixonado, Joseph L. Mankiewicz (1947)
Horário: 14:30h
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B

Lilith, Robert Rossen (1964)
Horário: 21h00
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B

24 de Março (sexta-feira)
Mulholland Drive, David Lynch (2001)
Horário: 21h00
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B

25 de Março (sábado)
Sherlock Jr. , Buster Keaton (1924)
Film, Alan Schneider / Samuel Beckett (1965)
Un Chien Andalou, Luis Buñuel / Salvador Dali (1929)
Horário: 21h00
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B

27 de Março (segunda-feira)
Brigadoon, Vincent Minnelli (1954)
Horário: 21h00Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B

28 de Março (terça-feira)
Laura, Otto Preminger (1944)
Horário: 14h30
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B
Vampyr, Carl Dreyer(1932)
Horário: 21h00
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B
29 de Março (quarta-feira)
The Night of the Hunter, Charles Laughton (1955)
Horário: 21h00
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B

30 de Março (quinta-feira)
They Live, John Carpenter (1988)
Horário: 14:30hLocal: Auditório 1 - piso 1 da Torre B

Blow-up, Michelangelo Antonioni (1966)
Horário: 21h00Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B
31 de Março (sexta-feira)
Janela Indiscreta, Alfred Hitchcock (1954)
Horário: 14:30h
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B

Peeping Tom, Michael Powell (1960)
Horário: 21h00
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B

1 de Abril (sábado)
Vai e Vem, João César Monteiro (2003)
Horário: 21h00
Local: Auditório 1 - piso 1 da Torre B

10 março 2006

Parabéns George Clooney!



Ontem à noite, após sair da sala de cinema, compreendi finalmente o motivo que levou a Academia a dar o Óscar a George Clooney pelo seu desempenho em Syriana. O motivo verdadeiro foi Good Night, and Good Luck e não o thriller político de Stephen Gaghan. Aliás, Syriana nunca poderia ser razão para nada a não ser para um prolongado bocejo. Durante 126 minutos, assistimos a um argumento confuso e nebuloso em que aquilo que sobressai é um George Clooney gordo e barbudo a dar ares de perspicaz. (Um filme em que o auge só é atingido quando um homem arranca as unhas de George Clooney nunca deveria ser levado a sério.)
Mas regressemos a Good Night, and Good Luck, película escrita e realizada por George Clooney. Depois de o termos visto em filmes de Steven Soderbergh e dos irmãos Coen a usar e a abusar dos seus atributos físicos, sempre preocupado com o potencial de um sorriso apontado para a câmara, foi quase surpreendente ver um George Clooney que põe de lado o charme e dá consistência à personagem Fred Friendly. E, como se não bastasse termos um George Clooney a trabalhar como actor, também temos um George Clooney responsável por um dos melhores filmes estreados em 2006.
McCarthy e a sua “caça às bruxas” surgem assim num filme de interiores, condensado e inteligente, cuja opção do preto e branco realça os contornos dos fumos e dos corpos que se movimentam na arriscada tentativa de expor a verdade fazendo uso de um programa de televisão. Filme de homens, brindado aqui e ali pelo talento de uma cantora e pela sensatez de uma funcionária da CBS, poderíamos encará-lo como contrário à noção de misoginia, na medida em que as poucas aparições femininas constroem uma imagem da mulher independente, habilidosa e respeitável.
David Strathairn, num desempenho tão incisivo e subtil que conseguiu abalar as nossas convicções quanto à vitória absoluta de Philip Seymour Hoffman, começa e termina este filme com um discurso sobre o papel que o jornalismo televisivo deve desempenhar na sociedade. Ao ouvirmos as suas palavras, apercebemo-nos da inegável actualidade e importância deste tema e temos vontade de rir quando os apoiantes de Crash reclamam direitos de vencedor. Crash e as suas personagens planas não trouxeram nada de novo às nossas reflexões. Já Good Night, and Good Luck conseguiu transportar-nos para um tempo em que havia pessoas a arriscarem quase tudo pela verdade. E é neste tempo que queremos viver quando saímos da sala ao som de
" It’s quarter to three,
There’s no one in the place ’cept you and me
So set ’em’ up joe
I got a little story I think you should know
We’re drinking my friend
To the end of a brief episode
So make it one for my baby
And another one for the road "

06 março 2006

Combatendo a desilusão

Depois de duas desilusões, os filmes vistos no Fantas e a maior parte dos Óscares atribuídos na noite passada, focarei a minha atenção no talento e na beleza de quem me tem surpreendido pela positiva.
Rachel Weisz
Kelly Reilly

02 março 2006

Há planos assim - VII



E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes

encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.

David Mourão-Ferreira