30 dezembro 2011

Hoje é noite de teatro

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Foi há vários anos que descobri a obra de Rothko.

E é também por isso que estou muito curiosa em relação à peça de logo.

O Mise en Abyme também gosta de homens

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Têm é de ser realmente especiais. Assim como o Nanni Moretti.

29 dezembro 2011

Só mais uma confidência…

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Se vivesse nos anos 20, ia ficar muito feliz ao usar estes vestidos…

Educando o gosto

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Henri Matisse Natureza-Morta, Ramo de Dálias e Livro Branco (1923)
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Aqui há dias, fui até à Gulbenkian para visitar a exposição A Perspectiva das Coisas. A Natureza-morta na Europa que, aliás, recomendo vivamente a todas aqueles que estejam interessados em saber mais sobre a produção artística a partir da segunda metade do século XIX e até meados do século XX. Ao contrário do que seria de esperar, a exposição não está organizada por ordem cronológica, mas sim por núcleos, sendo que aquele que mais me cativou intitulava-se “Modernismos: identidades nacionais e a atracção por Paris”. Ao lá chegar, e ao mesmo tempo que lia o texto introdutório (O Modernismo parisiense foi para muitos artistas europeus a referência central no desenvolvimento das suas práticas artísticas. […] Este núcleo integra trabalhos de vários artistas de diferentes nacionalidades que se deslocaram a Paris para absorver as novas linguagens artísticas…), dei por mim a viajar até ao imaginário do último filme de Woody Allen, Midnight in Paris, sobre o qual ainda não tive oportunidade de escrever, mas que me entusiasmou muitíssimo. Aliás, serviu até para apagar certas recordações do bem menos cativante You Will Meet a Tall Dark Stranger. Mas bom. Voltando ao delírio optimista de Midnight in Paris, que bem que me soube estar ali, dentro daquele táxi mágico, a caminho da década de 20 e lado a lado com Cole Porter, Man Ray, Luis Buñuel, Dali ou Picasso, ambos representados na exposição da Gulbenkian. É de facto entusiasmante quando conseguimos aliar duas experiências culturais tão enriquecedoras. O filme já está em DVD. Quanto à exposição, é não perder a oportunidade até 8 de Janeiro.

28 dezembro 2011

É tempo de vencer o passado

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.Jennifer Connelly, tão bonita
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I have a story also, a little simpler than yours.
Many years ago, I had a friend, a dear friend.
I turned him in to save his life, but he was killed.
But he wanted it that way. It was a great friendship.
But it went bad for him, and it went bad for me too.
Good night, Mr Bailey.
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Noodles, Once Upon a Time in America (1984)

2012 está à porta.
Preparemo-nos para o receber de braços abertos.

16 dezembro 2011

Das previsibilidades

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Há muitos anos que leio os críticos de cinema do Público e, como qualquer seguidora dedicada, dou por mim a antecipar as suas reações. Daí que não tenha ficado surpreendida quando verifiquei que o crítico Luís Miguel Oliveira elegeu a obra Drive do dinamarquês Nicolas Winding Refn como alvo do seu recorrente e demolidor desprezo. Quanto a mim, devo dizer que fiquei agradavelmente surpreendida com o ritmo prudente, circunspecto e pausado desta história de um justiceiro que abandona uma vida cautelosa e solitária em prol de um amor terno. Não deixo de me comover quando tenho a oportunidade de assistir à transformação de um adepto do geocentrismo, que é como quem diz alguém que se sente como centro do universo e que julga que todos os outros corpos giram ao seu redor, num ser que compreende a infinitude do mundo e que passa a agir em função das necessidades de alguém que ama. I just wanted you to know... just getting to be around you was the best thing that ever happened to me. E maior prova de amor não há. Mesmo que a crítica portuguesa não partilhe dessa opinião.

28 novembro 2011

Desabafos

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Na semana passada, vi três filmes, de três grandes realizadores e sofri três decepções. Comecei pelo planeta fastidioso de Lars von Trier, passei pelo cenário frio e vingativo de Almodóvar e acabei nos diálogos ligeiros de Cronenberg. Nenhum deles me tocou e houve até momentos em que me desagradaram profundamente. A Justine de Kirsten Dunst revelou-se uma visão penosa e monótona, semelhante a um longo arrastar de saias e frufrus por salas e jardins intermináveis, só suportável quando comparada com a performance de Keira Knightley que, entre gritos, esgares e prognatismos, retirou credibilidade e interesse ao filme do realizador canadiano. Não fosse a beleza, o encanto e a graça de Elena Anaya, a contrastar com a pirosice corrosiva de Antonio Banderas, e teria sido uma semana lastimosa em termos cinematográficos.

Catarina, porque nunca é demais

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O meu contemplador preferido não falha.

08 novembro 2011

Frida, a dor tornou-a eterna




São 257 fotografias que permitem que nos aproximemos de Frida, dos seus antepassados, dos seus amores e das suas convicções. Imagens que pertenciam ao acervo pessoal da artista, na sua maioria desconhecidas, e que estão divididas por vários núcleos, dos pais à Casa Azul, passando pelo corpo acidentado e acabando nas relações que viveu e na luta política que apoiou. Há ainda um documentário imperdível. Fragmentos da sua intimidade, de um país e de uma época.
Exposição patente até 29 de Janeiro, no Pavilhão Preto do Museu da Cidade.

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Vale a pena ler este testemunho e este artigo.

26 outubro 2011

Editorial do Expresso?

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Não sei se é verdade. Só sei que é uma visão encantadora.

25 outubro 2011

O Barão, um filme de Edgar Pêra

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Max Schreck, Bela Lugosi e agora Nuno Melo.
Vale bem uma ida ao cinema.

24 outubro 2011

Sangue do meu Sangue

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Têm razão todos aqueles que o descrevem como uma obra-prima. Têm razão todos aqueles que discorrem sobre o apuro das interpretações, do som e dos enquadramentos. Sangue do meu Sangue é, de facto, notável. E aquelas mulheres – Márcia, Cláudia, Ivete, Sandra, Maria da Luz – deixam-nos sem ar, tal é a sua grandeza e a sua capacidade de, humilhadas, continuarem a amar. E a trabalhar. Porque são incansáveis estas mulheres de Canijo, sempre na labuta, a cortarem legumes para a sopa, a atenderem clientes na caixa de um supermercado, a ouvirem os lamentos das vizinhas enquanto lhes arranjam as unhas. E, ao mesmo tempo, são tão portuguesas, tão tipicamente portuguesas, das graçolas brejeiras e dos relatos futebolísticos ao sofrimento atroz que se vai guardando, cada vez mais fundo no seu interior.

E quanto a nós, espectadores devastados, resta-nos fazer como elas e seguir em frente, um dia de cada vez. Porque a vida é isso mesmo.

21 outubro 2011

Ontem fomos à ópera

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Elisabete Matos ou a Rainha de Don Carlo (Giuseppe Verdi)


.E foi realmente emocionante.

18 outubro 2011

Anna Ihlis | Uma descoberta

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Sugestão do dia: clicar na imagem.

10 outubro 2011

Reminiscência infantil


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O concurso que mudou a minha vida.

Um poema apropriado

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Ave Maria
By Frank O'Hara

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Mothers of America
let your kids go to the movies!
get them out of the house so they won’t know what you’re up to
it’s true that fresh air is good for the body
but what about the soul
that grows in darkness, embossed by silvery images
and when you grow old as grow old you must
they won’t hate you
they won’t criticize you they won’t know
they’ll be in some glamorous country
they first saw on a Saturday afternoon or playing hookey
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they may even be grateful to you
for their first sexual experience
which only cost you a quarter
and didn’t upset the peaceful home
they will know where candy bars come from
and gratuitous bags of popcorn
as gratuitous as leaving the movie before it’s over
with a pleasant stranger whose apartment is in the Heaven on Earth Bldg
near the Williamsburg Bridge
oh mothers you will have made the little tykes
so happy because if nobody does pick them up in the movies
they won’t know the difference
and if somebody does it’ll be sheer gravy
and they’ll have been truly entertained either way
instead of hanging around the yard
or up in their room
hating you
prematurely since you won’t have done anything horribly mean yet
except keeping them from the darker joys
it’s unforgivable the latter
so don’t blame me if you won’t take this advice
and the family breaks up
and your children grow old and blind in front of a TV set
seeing
movies you wouldn’t let them see when they were young
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Frank O’Hara, “Ave Maria” from Lunch Poems.
Source: The Collected Poems of Frank O'Hara (1995)

(Thank you dear Joana.)

08 outubro 2011

O meu herói do momento

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Sim, é verdade que não tem o encanto do Jack Shephard e nem a perspicácia do Sayid Jarrah. E também está a léguas do atrevimento do Will Gardner ou da abnegação de certos homens de família como o Tony Soprano ou o Nucky Thompson. Ainda por cima, aquele gosto pelo álcool lembra-me o egoísta do Don Draper. Mas enfim. Nada a fazer. Neste momento, a minha atenção está focada num só homem. E esse homem chama-se Jimmy McNulty.

23 setembro 2011

Catarina, nome de mulher

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Há muito tempo que este blogue não se apaixonava. E ontem, ao conhecer a Camille de Alfred de Musset, interpretada pela maravilhosa Catarina Wallenstein, o Mise en Abyme baixou a guarda e apaixonou-se. Profundamente.
Não foi um primeiro encontro na medida em que já a conhecíamos de filmes maiores como, por exemplo, Um Amor de Perdição de Mário Barroso ou Mistérios de Lisboa de Raúl Ruiz. No entanto, não sendo a primeira vez que a víamos, funcionou como uma descoberta. Que experiência a de a ver ali, em pleno Teatro Municipal de Almada, numa encenação de Jorge Silva Melo, a brincar com o amor, a ser vítima do orgulho, a suspirar pela atenção do primo Perdican e a temer o remorso! O cabelo preso, as sabrinas que avançam e recuam, a tez branca, o encanto natural. Ontem à noite, houve momentos em que Catarina Wallenstein roçou a perfeição. E é por isso que este blogue, ainda inebriado pelo feitiço da sua expressão, presta homenagem à fascinante actriz.

07 setembro 2011

Bravo Dior!



Neste regresso pós-férias, deixo-vos com um anúncio onírico que ressuscita três actrizes extraordinárias: Grace Kelly, Marlene Dietrich e Marilyn Monroe.

12 agosto 2011

Férias, férias e mais férias.

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E aqui vou eu. Só espero que o tempo ajude. Mergulhos no mar, sardinhas assadas, pão alentejano, boa companhia, filmes em atraso. E dormir. Dormir, dormir e dormir. Em Setembro voltarei. Mais velha, mais queimada e cheia de expectativas em relação às novas temporadas de Dexter, The Good Wife, Boardwalk Empire e Modern Family, pois claro. Espero que continuem por cá. Até lá recomendo o Super 8 e o Bridesmaids. Boas companhias para quem ainda privilegia o entretenimento honesto.

27 julho 2011

Dennis Hopper, o mito sobrevive




Um ano após a morte de Dennis Hopper (1936 – 2010), a FNAC, em parceria com a TASCHEN, recorda o carisma e o talento do realizador de Easy Rider (1969) numa exposição que dá a conhecer a sua faceta de fotógrafo aclamado e que evoca alguns dos grandes momentos da sua carreira de actor ao lado de Natalie Wood, James Dean e Elizabeth Taylor.

Ao longo da década de sessenta, Dennis Hopper não dispensava a companhia da sua máquina fotográfica e utilizava-a em toda e qualquer situação. Não é, portanto, de estranhar que esta exposição testemunhe o bulício e o movimento das auto-estradas de Los Angeles e das ruas de Nova Iorque, ao mesmo tempo que recorda toda uma geração de artistas incontornáveis como Andy Warhol, Ed Ruscha e Jasper Johns. Mas não se fica por aqui. Dennis Hopper, pintor, escultor e poeta, documentou também momentos históricos como, por exemplo, um dos discursos de Martin Luther King, sem nunca menosprezar outros objectos estéticos de enorme valor como as formas generosas de Jane Fonda, o rosto de Paul Newman ou o seu auto-retrato.


Dennis Hopper, natural do estado do Kansas, morreu em sua casa, em Los Angeles, na manhã de 29 de Maio de 2010, aos 74 anos de idade. Com a sua morte, desapareceu também um pouco da magnificência de Hollywood.


As fotografias que compõem esta exposição são parte integrante do livro Dennis Hopper: Photographs 1961-1967, TASCHEN.

04 julho 2011

Um penteado por semana

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Na companhia de Meryl Streep e de Kate Winslet.

01 julho 2011

E há homens com ainda mais piada.

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Bill Murray

Há mulheres com muita piada.

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Eva Green

Intermitências | Reflexões

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No Y de hoje há dois artigos que merecem reflexão póstuma. Um deles, uma crítica ao livro Nervo de Diogo Vaz Pinto, esse poeta quotidianamente brilhante, refere “boas metáforas, com linhas abstractas do pensamento”. O outro discute a experiência solitária de se ver um filme, através de um computador ou de um qualquer smartphone, versus a experiência colectiva de o vermos numa sala de cinema, rodeados de outras pessoas. Tem graça. Tudo isto tem muita graça. E ainda ontem o Jacinto Lucas Pires apresentava o seu último romance. E havia alguém que o descrevia como brutal. Fim-de-semana aqui vamos nós.

22 junho 2011

E mais uma, para animar as hostes.

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E obrigada à minha querida sorella.

20 junho 2011

A última sessão | Bert Stern


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Este fim-de-semana fui visitar a exposição do fotógrafo americano Bert Stern que teve a oportunidade única de fotografar Marilyn Monroe seis semanas antes da sua morte.
A exposição está no Centro Cultural de Cascais e comove pela entrega absoluta da actriz cujo olhar não esconde uma tristeza arrepiante. Fiquei especialmente tocada pela semelhança entre a Marilyn Monroe de algumas fotografias e a personagem de Julianne Moore no filme do Tom Ford. Não me admiraria se o ilustre designer de moda tivesse ido buscar inspiração ao trabalho de Bert Stern.
A não perder. E a entrada é gratuita.
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13 junho 2011

Sonhos que se realizam

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O Mise en Abyme está em absoluto estado de graça.

23 maio 2011

Um casal verdadeiramente adorável

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Marion Cotillard & Guillaume Canet

Uma semana que começa

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corri para o telefone mas não me lembrava do teu número
queria apenas ouvir a tua voz
contar-te o sonho que tive ontem e me aterrorizou
queria dizer-te porque parto
por que amo
ouvir-te perguntar quem fala?
e faltar-me a coragem para responder e desligar
depois caminhei como uma fera enfurecida pela casa
a noite tornou-se patética sem ti
não tinha sentido pensar em ti e não sair a correr pela rua
procurar-te imediatamente
correr a cidade duma ponta a outra
só para te dizer boa noite ou talvez tocar-te
e morrer
como quando me tocaste a testa e eu não pude reconhecer-te
apesar de tudo senti a mão sabia que era a tua mão
mas não podia reconhecer-te
sim
correr a cidade procurar-te mesmo que me afastasses
mesmo que nem me olhasses
mesmo que dissesses coisas que me
mesmo que
e ter a certeza de que serias tu depois a procurar-me
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Al Berto
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Emprestado daqui.

13 maio 2011

09 maio 2011

03 maio 2011

Uma revelação

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Das horas que diluímos no sangue
eu fiz tão pouco, mas tu compuseste canções fáceis,
dessas que se escutam quando se sai do banho,
e se algumas hão-de morrer na MTV,
outras vão aparecer no genérico de telenovelas
e mais tarde serão imortalizadas entre os teus greatest hits.
Vais dar uma série de entrevistas e falar de tudo
menos de mim. Eu vou acabar os meus dias a destilar ódios
e a dizer mal de ti a todos os que me quiserem ouvir.
Vou seguir as estrelas menos apagadas
deste último lugar e mudar de cor tantas vezes
até embranquecer de desgosto.
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Por estes dias faço questão de arrastar os pés
nos pulsos da solidão, acendo-me contra
o teu conto de fadas, as tuas empregadas domésticas
mal pagas, saltando à corda no teu jardim. Não suporto
essa alegria arrumada aos dias, a agitação
de deuses que vêm por aí e te cobrem a pele,
os relvados, abrindo toalhas, fazendo piqueniques
e tricotando ilusões ao ar livre. Não sabes
como detesto todos os cisnes tranquilos
na superfície do teu lago – agarro-os um por um à socapa
e trago-os até à cozinha onde primeiro lhes puxo as penas,
degolando-os a seguir.
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Numa hora a mão direita deita-se e delira,
apertando contra a página uma sombra que
silenciosamente tentava escapar-se. Na hora seguinte
arranco uma costela, vejo-a transformar-se nesse belo
monstro inspirado em ti, os dois olhos como pedras
atiradas ao escuro e esse teu fascínio
com coisas que me cansei de procurar.
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Puta de geração esta em que nasci!
Acostumei-me a tocar-te no ecrã e a envelhecer
de repente. Abro a mão esquerda e largo
um guloso beija-flor no teu pescoço, para que a sua fome
te fure durante o sono e acordes gasta, mole
e sem o sorriso absurdo que pões em frente ao espelho.
Estou cada vez mais só, mais seco, mais bruto.
Começas a cantar e eu ensurdeço. Descobri que nunca
tive voz para os teus musicais, que o máximo que sei
é aumentar o som e dar um ritmo violento ao meu choro,
saindo debaixo do teu refrão
solto como um saxofone endiabrado.
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Sento-me à noite na mesa onde tu tomas o pequeno-almoço
e ao contrário dos teus exercícios para aclarar a garganta,
sofro de uma tosse suja de pequenas vertigens, nada digno
de nota. Tenho apenas esta cabeça aguda
como um semáforo a abrir e a fechar-se
ao fundo da tua rua. Anoto a matrícula dos carros
que passam, procuro um padrão,
algum indício ou promessa, qualquer corpo
sem rotina ou simplesmente um movimento fora do normal.
Mas não acontece nada. Não vem mais ninguém. Traíste-nos a todos.
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Diogo Vaz Pinto, Nervo

E um dia, pela manhã

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"Bergman explica a uma jovem actriz a razão pela qual não vão repetir uma cena. Ela acha que podia fazer melhor. Ele, Bergman, acha que é suficiente. A hierarquia, no sentido vertical e ascendente, tende a esquecer porquês e esvaziar explicações. Porquê? Porque sim. Ele, oitenta e quatro anos e longuíssima carreira no cinema, explica a uma muito jovem “Karin” que, se repetidas as cenas, até ao cansaço, na busca de uma desejada perfeição, as emoções nelas contidas artificializam-se, perdem-se. Se repetires uma coisa muitas vezes crias uma fórmula. Esqueces-te da razão por que a dizes, do sentimento que juntou as sílabas, aplicas, para resolver a equação do fim do telefonema, do fim da conversa no café, da despedida matinal, a fórmula que um dia já foi palavra. A tua palavra. Agora fórmula. Se repetires uma coisa muitas vezes crias uma fórmula. Não queiras ouvir todos os dias o verbo amar. Bergman explica a “Karin” que se repetirem demasiadas vezes a cena da cozinha as emoções perdem-se. Não vale a pena buscar a perfeição se esta te custar a emoção original. Mas, à cautela, diz: “se te diverte podemos repetir”. Ela confia. Não repetem a cena."


Roubado daqui.

19 abril 2011

05 abril 2011

Michael Cunningham | parte III

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Independentemente das relações que possamos estabelecer, há uma parte em que estamos profundamente sozinhos. E isso é tão maravilhoso como assustador.

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Revista LER, Abril 2011, p. 48

30 março 2011

Uma manhã surpreendente



Hoje, ao sair de casa para ir trabalhar, fui surpreendida por uma visita primaveril.

E fiquei realmente alegre.

Adoro começar bem o dia.

26 março 2011

Um belo entretenimento

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. E até tem o Mark Gatiss a escrever e a fazer de irmão do Sherlock Holmes.

Uma maravilha em três episódios.

21 março 2011

Para quem não conseguiu estar presente

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Aqui fica o vídeo do encontro
entre o escritor Michael Cunningham e os seus leitores
na FNAC Chiado.

19 março 2011

Poesia

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Há pouco tempo e pouca vontade para observar e para reflectir neste mundo em que vivemos. Tenho saudades do universo de Jacques Tati em que havia disponibilidade para tais acções. Hoje, ao conhecer o dia-a-dia de Mija, lembrei-me de Tati, da sua curiosidade declarada e da elegância com que sorria aos outros. Mija é uma mulher excepcional, daquelas que transbordam dignidade nos gestos mais triviais. Infelizmente, a sua vida é transformada num drama familiar de uma perversidade indescritível. O cenário é uma pequena cidade da Coreia do Sul, onde há flores e árvores de variadas espécies e um rio que parece inabalável. Os dias passam, entre viagens de autocarro, legumes cortados, jogos de badmínton e, o melhor de tudo, aulas de poesia. Neste filme, nesta belíssima história, há uma senhora que procura na poesia o mesmo que nós procuramos no cinema. E acaba por encontrar: um abrigo, um espelho, uma solução. Na próxima segunda-feira, comemora-se o começo da Primavera e o Dia Mundial da Poesia. Que essas efemérides sejam um pretexto para observarmos e reflectirmos mais, valorizando a vida e a beleza. Há filmes demasiado tristes e injustos para serem comentados. Como tal, hoje fico-me por aqui, devastada pela interpretação de Yun Jung-hee. Boa noite.

08 março 2011

Obrigada Michael Cunningham

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Ontem à tarde, o Michael Cunningham esteve na FNAC Chiado para um encontro com os seus leitores. E foi, de facto, um momento inolvidável.
Há instantes destes em que, de repente, voltamos a ser aquela aluna da Faculdade de Letras que descobriu As Horas, graças à colecção do Público, e que depois devorou o Sangue do Meu Sangue e Uma Casa no Fim do Mundo. Retratos do nosso quotidiano, testemunhos indispensáveis das relações humanas, das decepções e descobertas que nos vão acompanhando ao longo da vida.
Quando a adaptação de As Horas estreou por cá, realizado pelo incompreendido Stephen Daldry, lembro-me bem de ter ficado destroçada com os desempenhos de Ed Harris, absolutamente extraordinário no seu suicídio teatral, e de Julianne Moore, tão angustiada, sem conseguir respirar, presa numa redoma claustrofóbica de que não conseguia sair. Ontem à tarde, naquele encontro informal, Michael Cunningham, com o seu à-vontade americano, qual turista bonacheirão, revelou que a personagem de Julianne Moore tinha sido inspirada na sua própria mãe que morreu de cancro antes de o filme estar pronto. E isto, claro, foi o suficiente para viajar até Evening, esse melodrama tão bem interpretado pelas enormes Vanessa Redgrave, Meryl Streep, Glenn Close, Toni Collette e Claire Danes que conta a história, escrita também por Cunningham, de uma moribunda que, prostrada, vai recordando os dias em que viveu o amor da sua vida, cinquenta anos antes.
No meio da pequena multidão que se juntou ontem para ouvir o romancista galardoado com um Pulitzer e com um PEN/Faulkner, houve alguém que se destacou ao perguntar o porquê de tantas histórias acerca de famílias destruídas, de cânones abalados e de sofredores perenes. A resposta foi ainda melhor: “porque sim, há coisas que não se controlam e mesmo que quisesse escrever histórias divertidas e cómicas não o conseguiria.”. E ainda bem que não. A obra de Michael Cunningham funciona assim como um porto de salvação e lê-lo faz-nos sentir mais acompanhados, mais saudáveis. O seu escrutínio, ou se preferirmos o seu dissecar, das relações humanas, tão perceptível nos diálogos do último Ao Cair da Noite, leva-nos a ter muita curiosidade quanto à vida íntima do autor. E ontem, foi deveras esclarecedor saber que o romancista leva uma vida rotineira e metódica, com horários estabelecidos e nunca desrespeitados, e que defende, simultaneamente, que o verdadeiro escritor consegue escrever sobre qualquer sítio onde nunca tenha estado, ou sobre qualquer actividade mesmo que nunca a tenha praticado. Só há uma coisa sobre a qual o verdadeiro escritor não consegue escrever se nunca a tiver experimentado: a emoção, o sentimento.
E assim, de pergunta em pergunta, de confissão em confissão, Michael Cunningham declarou-se ainda um enorme admirador da Madame Bovary de Flaubert. “Thank you Gustave”, disse ele. E o público poderia ter respondido, em uníssono, “Thank you Michael”.

28 fevereiro 2011

Óscares 2011 | XVI

The King's Speech é uma fraca escolha. Uma vergonha até.

Óscares 2011 | XV

Colin Firth... Um prémio de compensação por A Single Man?

Óscares 2011 | XIV

Natalie Portman. Incrível.

Óscares 2011 | XIII

Eli Wallach. Assim vale a pena.

Óscares 2011 | XII

Não posso crer que o Tom Hooper ganhou. Por favor. Depois de Love in a Cold Climate, um Óscar. Que desânimo.

Óscares 2011 | XI

A Céline Dion podia ter morrido em vez de cantar nesta gala.

Óscares 2011 | X

The Social Network soma e segue. E o Mise en Abyme sorri.

Óscares 2011 | IX

... Exit Through the Gift Shop ... Já era.

Óscares 2011 | VIII

Tirem-me o Hugh Jackman da frente. Christian Bale?

Óscares 2011 | VII

Aaron Sorkin. Claro.

Óscares 2011 | VI

O L'illusionniste perdeu...

Óscares 2011 | V

"I'm Banksy." Bestial.

Óscares 2011 | IV

Kirk Douglas consegue abrir o envelope e apresenta... Melissa Leo.

Óscares 2011 | III

Terá chegado a hora de Amy Adams?

Óscares 2011 | II

Alice in Wonderland - a primeira surpresa da noite!

Óscares 2011 | I

A Anne Hathaway não deveria usar madeixas louras. A Gwyneth Paltrow é perfeita. O James Franco tem muita graça.

24 fevereiro 2011

Grande noite, grande noite

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Os Óscares estão aí e o meu enorme entusiasmo em relação à cerimónia continua inabalável ano após ano. A curiosidade quanto a todos os pormenores da grande festa é mórbida e os prognósticos são mais do que muitos. Como tal, torço para que a noite de domingo contenha piadas inteligentes, vestidos deslumbrantes, discursos chorosos, surpresas à lá Banksy e montagens memoráveis. Até lá, e à falta de melhor, entretenho-me a fazer apostas com os noctívagos Michelle Williams, Jesse Eisenberg, Amy Adams e Vincent Cassel.

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Como já vem sendo hábito, o Mise en Abyme comentará os melhores momentos da noite.

07 fevereiro 2011

... andei a resistir-lhe

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Mas já é um dos meus spots preferidos.
Uma excelente semana para todos. E que o sol não desapareça.