No anterior The Royal Tenenbaums, convivemos com excelentes actores a desempenharem personagens meticulosamente planeadas. No entanto, apesar de todas as congratulações que envolveram esse filme, nunca me pareceu que Wes Anderson conseguisse criar os momentos de clímax que são necessários a qualquer película.
Voltando ao presente, mais propriamente a The Life Aquatic with Steve Zissou, é necessário dizer-se que a qualidade dos actores permanece e que minúcia e inteligência não faltam na construção das personagens. Contudo, consegue-se ir muito além disso.
Voltando ao presente, mais propriamente a The Life Aquatic with Steve Zissou, é necessário dizer-se que a qualidade dos actores permanece e que minúcia e inteligência não faltam na construção das personagens. Contudo, consegue-se ir muito além disso.
Para os compradores da colecção A Odisseia Submarina, que deliravam com as imagens filmadas pela mão de Cousteau e pela equipa do Calypso, este filme proporcionará, no mínimo, momentos de pura nostalgia. (Bill Murray e Owen Wilson de barrete encarnado a espetarem o polegar para cima? Prodigioso!) Mas, mais do que o sentimento de nostalgia provocado pelo filme, teremos de concordar com o facto de Wes Anderson possuir uma imaginação (lembrem-se das criaturas do mar e do barco com múltiplas funções) e uma sensibilidade que roçam o génio.
Só alguém extraordinariamente susceptível e observador conseguiria criar um cenário de decadência, em que as coisas estão velhas e estragadas e as pessoas estão cansadas e desiludidas (reparem que só Anjelica Huston brilha, sempre impecavelmente vestida e penteada), sem nunca perder o espírito cómico. E o que dizer sobre a presença de um Seu Jorge a cantar temas de David Bowie em português (não me parece que algum luso fique indiferente a isso)?
Mais do que uma obra-prima, cujas qualidades gostamos de admirar, The Life Aquatic with Steve Zissou apresenta um retrato quase neurótico das personagens sem nunca afastar um sorriso sincero da cara dos espectadores. Conseguir isso já seria louvável. Fazê-lo tendo como cenário a imensidão de um mar onde vários géneros cinematográficos se dissolvem é, no mínimo, um marco no actual cinema americano.
Conto convosco!
Todos aqueles que se queixam do facto de este blog só "dizer bem", devem lembrar-se de que o Mise en Abyme foi criado com o propósito de homenagear o melhor da sétima arte.
7 comentários:
Já que falaste na cena entre a Anjelica Houston e a Cate Blanchett, também achei estranho que o Wes Anderson não lhe desse continuação... Todavia, parece-me que este filme é daqueles em que, à medida que o fores vendo e revendo, descobres novos detalhes que ajudam a perceber certas pontas descosidas.
Quanto a The Royal Tenenbaums... O começo é delirante, com a apresentação de todas aquelas personagens, cheias de manias e defeitos, verdadeiramente viciantes. O problema começa quando Wes Anderson fica de tal forma maravilhado com as personagens que criou e se esquece de dar ritmo e movimento ao filme...
Uma película, por mais originais que sejam as suas personagens, raramente consegue viver à custa unicamente das idiossincrasias daquelas.
Talvez até tenhas razão e o facto de eu gostar do "tédio" (preferia chamar-lhe melancolia) de Lost in Translation é algo incompreensível...
Mas, indo directa ao assunto, Sofia Coppola consegue alternar sabiamente entre um Bob melancólico ou uma Charlotte angustiada e momentos humorísticos absolutamente geniais. (Bill Murray num programa de entretenimento rodeado de corações foleiros... Não se encontra nada comparável a isso no teu querido The Royal Tenenbaums...)
Um filme diferente, por vezes original, mas globalmente pouco cativante. A "weirdness" não chega para fazer um filme e o Bill Murray já cansa, mantendo sempre o mesmo registo. E o desenvolvimento de personagens só se vislumbra com muito boa vontade...Curioso e nada mais.
Um filme hilariante, por vezes brilhante, e globalmente delicioso! E Bill Murray "vai" muito, muito bem.
**SPOILER ALERT**
Olá. Vi o filme hoje e só o vi uma vez, mas para mim essa cena entre a Anjelica e a Cate é essencial porque é aí que percebemos que o Ned (acho que se chamava Ned) não pode de maneira alguma ser filho de Murray. Aí toda a relação pai-filho exposta no filme até então ganha novo sentido, logo não concordo que a cena não tenha continuação. Provavelmente a personagem de Bill Murray sabe perfeitamente que é estéril mas isso não o impede de se agarrar à crença de que aquele rapaz é seu filho, porque agora, nesta fase da sua vida em que não tem ninguém a quem se agarrar, encontra na paternidade uma espécie de conforto.
Bem, isto foi o que retirei, se calhar estou errado.
**SPOILERS ENDED** (lol)
By the way, adorei o filme. Acho genial e uma alegoria perfeita (passada no mar) do que é a vida (passada em terra).
cumprimentos,
josé
este filme é uma seca!
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