"Vengo anch'io. Ha ragione lei. Sto sbagliando tutto. Stiamo sbagliando tutti."
No filme-escândalo por excelência (condenado por tudo e por todos aquando da sua estreia em Itália há já mais de quarenta anos, assim como em todas as missas...), e tornado rapidamente em filme-culto, Fellini não procura mais do que o sentimento mais comum, humano, mas rico, de uma pureza, ou de uma verdade. Marcello/Mastroianni/Fellini é a personagem deambulante pela selva nocturna de Roma, a velocidade dos carros, a Via Veneto, os flashes à procura de "estrelas", a extravagância e a sensação boémia e quente que sentimos, julgado como doce recheio da vida, as orgias, danças e festas que acabam com o amanhecer, até que o último "desista", ou se adie até mais uma fuga pelas estradas romanas.
E Marcello, como nós, como Fellini, procura a pureza, a inocência - em Sylvia/Anita Ekberg, na Fontana di Trevi, depois de ter procurado leite para o gato branco (e quem não iria), na suposta tranquilidade de Steiner e da sua família (o que mostra a que ponto estamos todos condenados, totalmente inferiores perante uma força terrível acima de nós, uma natureza ruidosa que chega com o medo ao sobre-natural), e em Paola, a jovem que se coloca do outro lado da praia, separada por esse mesmo ruído, gesticulando uma música suave para a angústia de Marcello.
E na casa-castelo para onde todos se dirigem, é o local do confronto com todos os nossos fantasmas, com quem ninguém consegue lidar, brincando todos às máscaras numa procissão já diurna, após outras confissões (e Maddalena/Anouk Aimée) interrompidas no jogo sempre viciante.
"Ma lo sai che sei tutto? You are everything, everything! Sei la madre, la sorella, l'amante, l'amica, l'angelo, il diavolo, la terra, la casa... Ecco che cosa sei: la casa!"
E o Cristo que voa sobre Roma, guiado por essas pobres criaturas, tanto como nós, apenas denuncia tudo aquilo que Marcello quer, e não pode. Pois o que ele quer ou não existe, ou deixou de existir. Mas que para sempre procuraremos.
E outro título não poderia existir, para as três horas mais perfeitas do Cinema, e que hão-de durar numa eternidade bem sonhada por uma beleza, a Beleza do cinema de Fellini. Nada mais quis ele filmar.
No filme-escândalo por excelência (condenado por tudo e por todos aquando da sua estreia em Itália há já mais de quarenta anos, assim como em todas as missas...), e tornado rapidamente em filme-culto, Fellini não procura mais do que o sentimento mais comum, humano, mas rico, de uma pureza, ou de uma verdade. Marcello/Mastroianni/Fellini é a personagem deambulante pela selva nocturna de Roma, a velocidade dos carros, a Via Veneto, os flashes à procura de "estrelas", a extravagância e a sensação boémia e quente que sentimos, julgado como doce recheio da vida, as orgias, danças e festas que acabam com o amanhecer, até que o último "desista", ou se adie até mais uma fuga pelas estradas romanas.
E Marcello, como nós, como Fellini, procura a pureza, a inocência - em Sylvia/Anita Ekberg, na Fontana di Trevi, depois de ter procurado leite para o gato branco (e quem não iria), na suposta tranquilidade de Steiner e da sua família (o que mostra a que ponto estamos todos condenados, totalmente inferiores perante uma força terrível acima de nós, uma natureza ruidosa que chega com o medo ao sobre-natural), e em Paola, a jovem que se coloca do outro lado da praia, separada por esse mesmo ruído, gesticulando uma música suave para a angústia de Marcello.
E na casa-castelo para onde todos se dirigem, é o local do confronto com todos os nossos fantasmas, com quem ninguém consegue lidar, brincando todos às máscaras numa procissão já diurna, após outras confissões (e Maddalena/Anouk Aimée) interrompidas no jogo sempre viciante.
"Ma lo sai che sei tutto? You are everything, everything! Sei la madre, la sorella, l'amante, l'amica, l'angelo, il diavolo, la terra, la casa... Ecco che cosa sei: la casa!"
E o Cristo que voa sobre Roma, guiado por essas pobres criaturas, tanto como nós, apenas denuncia tudo aquilo que Marcello quer, e não pode. Pois o que ele quer ou não existe, ou deixou de existir. Mas que para sempre procuraremos.
E outro título não poderia existir, para as três horas mais perfeitas do Cinema, e que hão-de durar numa eternidade bem sonhada por uma beleza, a Beleza do cinema de Fellini. Nada mais quis ele filmar.
2 comentários:
"o que mostra a que ponto estamos todos condenados, totalmente inferiores perante uma força terrível acima de nós, uma natureza ruidosa que chega com o medo ao sobre-natural" é tão bom não ser como vcs, 'iluminados pela razao' tanta cabeça e tão limitados...
“Sto sbagliando tutto. Stiamo sbagliando tutti."
Querido Francisco,
Li e reli a tua análise do Dolce Vita e discordo. Não sinto que a Dolce Vita nos mostre a que ponto estamos todos condenados. Não sinto que nos demonstre como somos totalmente inferiores perante uma força terrível acima de nós.
Pelo contrário. Sinto e vejo um Marcello “che sta sbagliando tutto”. Sinto e vejo um Marcello que pensa e acusa: “stiamo sbagliando tutti”.
Marcello não está condenado. Condena-se a si próprio. Condena-se pelo livro que nunca escreve, pelas crónicas sujas em que arrasta a sua vida “profissional”, pela mulher castradora, pegajosa e vazia para a qual volta sempre …
E talvez o pior do diletantismo de Marcello é a incapacidade de assumir as suas próprias escolhas. Mesmo no final, no clímax da decadência de uma suposta dolce vita, quando amargamente monta uma modelo fracassada que cobre de penas de galinha, Marcello agradece sarcasticamente aos outros a “brilhante carreira que lhe proporcionaram”.
Dolce vita é uma narração sobre grandes expectativas e grandes fracassos ... e Marcello um vencido da vida à italiana!
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