22 março 2005

"The Horror"



"You see, there are two of you. One that kills and one that loves."

Apocalypse Now - um filme de viagem, não só de Benjamin L. Willard, mas do Homem, em plena auto-destruição. Um Homem nihilista, da beira da loucura à loucura ela mesma, de uma visão estratégico-superior de poder divino, necessariamente destruidor desse mesmo Deus.

"They were gonna make me a major for this, and I wasn't even in their fucking army anymore."

Na barreira fina, a mais fina de todas, entre "sanidade" (ou cegueira) e loucura, a fronteira mais bela do Mundo (tão bem filmada neste filme) é uma de desafio, de limites. Os que se acabam por quebrar, que nos colocam sozinhos, sem ninguém para onde nos virar. O Homem só, na sua "loucura", no perigo fatal do absurdo do Universo.

O absurdo é real, a realidade não existe. Mas nós não vemos. Lutamos no Nada, no vazio, o nulo sem regras. Tanto por máscaras, as da guerra, ou sacrifícios, os do ritual.

"You are fighting for the biggest nothing in history".

Talvez por estas e por estes nos encontremos mais, e nos coloquemos melhor no verdadeiro lugar da violência, única estrutura real e permanente em todo o Homem. Aqui o medo não existe. E dá lugar à nossa realidade. É sempre à nossa violência que somos chamados, numa paisagem inteira destruída, numa dança wagneriana de máquinas construídas pelo Homem, num "purple haze" que nos queima a alma. E assim nos tornamos em Fogo.

"The horror. The horror..."

E no nosso surrealismo somos seres verdadeiros, vemos mais que outros, e tanto renascemos para morrer outra vez, numa solidão fatalmente reencontrada. É esta a nossa selva, lugar de misticismo e viagem, para destruir o sonho, na guerra da nossa natureza. No fim de tudo que se institui, no fim de tudo que se sustém. Por de lá de todos os limites.

"This is the End".

1 comentário:

David Santos disse...

Não sei e foi pela razão de ter sido transmitido na RTP que levou a escrever sobre o filme.
Gostava de salientar que a versão que deu na RTP foi uma versão nova do realizador Francis Ford Coppola com algumas alterações.
Não acrescentou muito mais.
Pois o filme é simples Sublime.

David (Matiné)