O que acaba por nos definir enquanto pessoas? O nosso cinema forma-se essencialmente pela nossa memória, momentos que nos marcam, que nos condicionam, ou que nos libertam durante a nossa vida, certas imagens que revivemos durante dias e noites. Qualitativamente, podemos compará-lo a um fantasma, uma projecção constante que se aproxima de uma noção hipotética de identidade, no que há de mais profundo em cada um de nós.
É o nosso próprio cinema que alimenta a nossa primeira necessidade enquanto humanos - o encontro do nosso lugar. Tanto através de uma pessoa, uma mãe, um disco, uma música, ou num quarto, procuramos sempre esse equilíbrio que nos condiciona positivamente um destino, algo que nos faça esquecer o que há mais de morto dentro de nós, e nos acorde tudo o que anseia por viver.
A esse equilíbrio, que para sempre desejaremos, poderemos chamar "casa". É esta a palavra que transmite o nosso desejo de tranquilidade e de identificação a algo que nos resuma a uma noção plena de paz e de originalidade que nos identifique. E a esta palavra ambígua se resume a nossa luta enquanto pessoas. O conflito entre uma natureza inevitavelmente deslocada e uma procura de pertença a algo ao qual nos podemos agarrar, uma correspondência também humana em si com a qual nos podemos abrir, partilhar, e viver.
E o que surge quando tudo o que nos parecia resumir a um local se parece deslocar de tudo o que acreditavamos (ou acreditamos) fazer parte de uma nossa verdade, de um pensamento, ou de uma memória que nos formava enquanto humanos? Um local que não é apenas uma rua, uma casa, mas um conjunto de pessoas, de diálogos, de pensamentos. De que vale o refúgio para uma nova artificialidade, uma mentira constante, medicada e "inocente"? Contra isto gritam as personagens, humanas como são, perante o infinito do precipício, com o qual o "guardião" já está familiarizado, e feliz.
E desta maneira surgem pequenas coisas que se tornam essenciais para nós, e que acabam por mudar a nossa vida. Assim como na cena em que as duas personagens principais se conhecem - "listen to this song, it'll change your life".
E desta maneira surgem pequenas coisas que se tornam essenciais para nós, e que acabam por mudar a nossa vida. Assim como na cena em que as duas personagens principais se conhecem - "listen to this song, it'll change your life".
Por estes motivos crescem obras como Garden State, do Estado de New Jersey. E por esses desejaremos todos viver, inspirarmo-nos em cada momento, e encontrarmos, tal como todas as grandes obras, o nosso lugar.