Depois do surpreendente Lilja 4-Ever, em que conhecemos uma jovem rapariga apanhada numa rede de prostituição, eis-nos perante A Hole in My Heart. Provando mais uma vez que se sente à vontade nas filmagens em espaços pequenos, Lukas Moodysson transporta-nos para um apartamento mobilado com um sofá imundo e aparelhos de ginástica. Lá dentro, coabitam quatro personagens e uma outra quase fantasmagórica mas constantemente relembrada pelo filho e marido. A sua inexistência, reforçada pelo facto de não haver sequer uma fotografia, torna-a presente na imaginação do espectador. Não será de estranhar que saiamos de A Hole in My Heart com curiosidade acerca do seu aspecto físico e dos seus comportamentos.
No interior da casa, assiste-se ao crescimento de uma trepadeira de ruína e degradação em redor das personagens. Há um adolescente encarcerado por livre vontade num quarto e três pessoas, dois homens e uma mulher, envolvidas na tarefa de conceber um filme pornográfico. Contrariamente a Lilja 4-Ever, em que a prostituição surgia como a temática central, A Hole in My Heart assemelha-se mais a uma obra sobre a decadência humana do que a um ensaio fílmico sobre a pornografia.
Voltando às personagens, é importante frisar que a grande qualidade desta película é a forma como aquelas se relacionam. Ligados por uma extrema necessidade, seja económica ou emocional, estes seres humanos oscilam entre uma proximidade consoladora e uma revolta impune em que é permitida toda a espécie de abusos e insultos.
Quando A Hole in My Heart foi anunciado na programação do INDIE, as expectativas eram altas. Estando longe de ser uma desilusão, esta obra só deixa a desejar no que toca à ambição de chocar a audiência. Ainda que se considere a insuportabilidade de um plano tão legítima como a beleza de outro, não é desculpável que se apresentem cenas de uma cirurgia vaginal com o único objectivo de obrigar o espectador a fechar os olhos. Em vez disso, Lukas Moodysson poderia apostar em planos devastadores como aquele em que vemos a personagem feminina caída na rua. Nesses breves instantes de silêncio e claridade, estão condensadas mais emoções do que em muitas películas etiquetadas como bons filmes.
4 comentários:
Não gostei do filme, a tentativa de chocar é óbvia e estraga a carga dramática que por vezes se evidencia. Uma desilusão (como referi no blog quando vi o filme no Indie).
"Desilusão" não será um termo muito forte?
Acabei de ler o texto sobre o Star Wars que publicaste num site e não concordo lá muito com o que escreveste.... porque para se perceber um filme da saga é preciso ver para alem das falas. este tipo de filme não se resume aos efeitos especiais, mas sim ao desenvolver psicológico das personagens! Por exemplo a forma como Anakin se transforma em Vader, não se vê pelas falas mas sim pela forma como a personagem conduz as suas acções e escolhas, neste caso a forma doentia como um jedi passa para o lado negro simplesmente por amar e querer proteger aquilo que ama! Isso sim é fantástico, a forma como um sentimento tão bonito se transforma num factor mau, não pelo sentimento em sim mas por aquilo que envolve!
No entanto eu sou um leigo no que diz respeito ao cinema, por isso peço desculpa aos mais académicos neste tipo de assunto!
Confesso que dou muita importância à qualidade dos diálogos. Quando um filme não tem bons diálogos é meio caminho andado para sair desiludida da sala de cinema.
Tal como escrevi no artigo que mencionas, Star Wars: Episode III – Revenge of the Sith tem falas anedóticas e, pior do que isso, proferidas de forma verdadeiramente medíocre.
Além do mais, não aguento argumentos como "um filme de aventuras ou de ficção científica não tem de ter bons diálogos..."
Cada um sabe de si mas continuarei a preferir bons diálogos e bons actores a cenas espectacularmente bem conseguidas.
E já agora! Não é impossível reunir todas estas qualidades numa película... The NeverEnding Story é um bom exemplo disso.
Obrigada pela visita!
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