Para aqueles que só descobriram Ingmar Bergman depois da estreia comercial de Fanny e Alexandre, a chegada de Saraband representou um acontecimento único e inesquecível. Após tantas idas à Cinemateca para assistir às películas do mestre sueco, eis a recompensa trazida pelo dia 13 de Janeiro deste ano: a possibilidade de fazer parte da atmosfera de ânsia e expectativa que envolve a estreia de um filme de Bergman.
Saídos da sala de cinema, depois de termos testemunhado o reaparecimento de Liv Ullmann e Erland Josephson, somos invadidos por inúmeras recordações. A música ainda se ouve e transporta-nos para a dimensão claustrofóbica de Lágrimas e Suspiros, as rugas parecem ter sido filmadas para nos conduzirem até Morangos Silvestres, a língua sueca remete-nos para todo o imaginário obsessivo de O Silêncio e os olhos de Liv Ulmann levam-nos ao sonho vão da existência de Persona. Mas será que Saraband se limita a estimular as nossas memórias cinematográficas? Certamente que não.
O último filme de Bergman, suposta despedida do mundo do cinema, desenvolve-se em torno da reaproximação de Marianne e Johan. Duas pessoas, marcadas por um mesmo passado, reencontram-se numa casa de campo, cercada por paisagens de inenarrável beleza. Se pensavam que Bergman já nos tinha dito tudo o que havia para dizer, desenganem-se. Assistir a Saraband é entrar num processo de identificação e de diálogo catártico em que o requisito imprescindível é a coragem para encarar a complexidade do ser humano, sem disfarces e sem ingenuidades.
Fixemo-nos na cena em que Johan se encontra no corredor. Quem é este Johan? Poderemos reduzi-lo à etiqueta de mau marido e de pai incompetente? Poderemos descreve-lo unicamente como um homem deslumbrado pela falecida nora e obcecado pela neta? Julgo que ao fazê-lo, cairíamos num lamentável erro. Johan é mais uma daquelas personagens, criadas por Bergman, que demonstra a excepcionalidade do ser humano. Faço minhas as palavras publicadas no suplemento Y, de 14 de Janeiro: Para perceber o Bergman é só preciso já ter sentido uma emoção, já ter amado alguém ou alguma coisa. E ter pensado um pouco sobre isso. (…) O que é espantoso no Bergman, e actualíssimo, é a recusa desse efeito de normalização: cada ser humano é sempre um ser excepcional. E é sempre um ser de desejo.
Cientes de tudo isto, devemos olhar para Saraband como se olha para uma obra-prima. Talvez a habilidade magistral de Ingmar Bergman seja a capacidade de nos envolver nos grandes planos, nos diálogos desconcertantes e no nosso próprio reflexo. Olhando para o ecrã, reconhecemos os nossos defeitos, as nossas fraquezas, os nossos desejos e os nossos ímpetos. Por esse impacto único, devemos agradecer a Ingmar Bergman. Mais do que isso, devemos acreditar que esta ainda não foi a sua última estreia em circuito comercial. Parece-vos impossível que um homem de 86 anos volte a pegar numa câmara? Como diz João Bénard da Costa, Impossível? Não para esse génio de todos os possíveis, chamado Ingmar Bergman.
Saídos da sala de cinema, depois de termos testemunhado o reaparecimento de Liv Ullmann e Erland Josephson, somos invadidos por inúmeras recordações. A música ainda se ouve e transporta-nos para a dimensão claustrofóbica de Lágrimas e Suspiros, as rugas parecem ter sido filmadas para nos conduzirem até Morangos Silvestres, a língua sueca remete-nos para todo o imaginário obsessivo de O Silêncio e os olhos de Liv Ulmann levam-nos ao sonho vão da existência de Persona. Mas será que Saraband se limita a estimular as nossas memórias cinematográficas? Certamente que não.
O último filme de Bergman, suposta despedida do mundo do cinema, desenvolve-se em torno da reaproximação de Marianne e Johan. Duas pessoas, marcadas por um mesmo passado, reencontram-se numa casa de campo, cercada por paisagens de inenarrável beleza. Se pensavam que Bergman já nos tinha dito tudo o que havia para dizer, desenganem-se. Assistir a Saraband é entrar num processo de identificação e de diálogo catártico em que o requisito imprescindível é a coragem para encarar a complexidade do ser humano, sem disfarces e sem ingenuidades.
Fixemo-nos na cena em que Johan se encontra no corredor. Quem é este Johan? Poderemos reduzi-lo à etiqueta de mau marido e de pai incompetente? Poderemos descreve-lo unicamente como um homem deslumbrado pela falecida nora e obcecado pela neta? Julgo que ao fazê-lo, cairíamos num lamentável erro. Johan é mais uma daquelas personagens, criadas por Bergman, que demonstra a excepcionalidade do ser humano. Faço minhas as palavras publicadas no suplemento Y, de 14 de Janeiro: Para perceber o Bergman é só preciso já ter sentido uma emoção, já ter amado alguém ou alguma coisa. E ter pensado um pouco sobre isso. (…) O que é espantoso no Bergman, e actualíssimo, é a recusa desse efeito de normalização: cada ser humano é sempre um ser excepcional. E é sempre um ser de desejo.
Cientes de tudo isto, devemos olhar para Saraband como se olha para uma obra-prima. Talvez a habilidade magistral de Ingmar Bergman seja a capacidade de nos envolver nos grandes planos, nos diálogos desconcertantes e no nosso próprio reflexo. Olhando para o ecrã, reconhecemos os nossos defeitos, as nossas fraquezas, os nossos desejos e os nossos ímpetos. Por esse impacto único, devemos agradecer a Ingmar Bergman. Mais do que isso, devemos acreditar que esta ainda não foi a sua última estreia em circuito comercial. Parece-vos impossível que um homem de 86 anos volte a pegar numa câmara? Como diz João Bénard da Costa, Impossível? Não para esse génio de todos os possíveis, chamado Ingmar Bergman.
Na compra do Público de hoje, o jornal dá a oportunidade de adquirir o filme Saraband por menos de 10 euros!
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