22 junho 2005

Problemas conjugais no cinema





Estávamos em 1941. Alfred Hitchcock reunia Carole Lombard e Robert Montgomery num filme intitulado Mr. & Mrs. Smith. Passam 64 anos. Doug Liman convida Angelina Jolie e Brad Pitt para interpretarem Mrs. Smith e Mr. Smith. No primeiro, conhecemos um casal envolvido num problema legal que invalida o seu casamento. No segundo, somos apresentados a um par de assassinos que ambiciona matar-se mutuamente.
O original Mr. & Mrs. Smith aposta nas peripécias típicas da screwball comedy, enquanto que o novo ostenta demasiadas sequências de acção que denotam incapacidade técnica. Além disso, é impossível fugir a duas verdades inabaláveis: Doug Liman está a léguas de Hitchcock e a carreira de Brad Pitt encontra-se encalhada numa total falta de versatilidade. Já cansa vê-lo a sorrir e a petiscar em quase todas as cenas de Mr. & Mrs. Smith, Ocean's Eleven, Spy Game ou mesmo Snatch.
À partida, parece que as semelhanças entre estas películas se cingem ao título homónimo e ao facto de serem comédias. No entanto, numa análise atenta, apercebemo-nos de que há mais semelhanças entre elas do que poderíamos supor. Tanto na obra da década de 40 como na recente, subsiste uma crise matrimonial provocada por impaciências constantes. A antiga atracção (recordemos o plano das pernas de Hitchcock e a dança de Doug Liman) deu lugar à monotonia diária. Até que, quando menos se espera, os dois casais são surpreendidos por notícias estrondosas. Em 1941, constata-se que a certidão de casamento não é legal. Na segunda fita, marido e mulher descobrem a verdadeira identidade um do outro.
Depois de tais revelações, segue-se a vontade de reconstruir o casamento. Na película a preto e branco, exibiu-se um marido que não desiste de reconquistar a mulher. Em 2005, opta-se por cenas humorísticas a alternarem com sequências de tensão física entre duas das estrelas mais mediáticas de Hollywood. Ainda que o resultado seja o mesmo em ambas as películas, um tranquilizador final feliz, importa denotar alguns aspectos. Não há grandes arrojos na obra de Doug Liman no sentido em que ver Angelina Jolie aos tiros e aos pontapés não surpreende ninguém. Em contrapartida, no filme de Hitchcock, há um notório ataque ao convencionalismo quando se elege uma senhora como Carole Lombard para bater no marido e evidenciar inúmeras cumplicidades sexuais.
Assim, mais uma vez, temos uma película de Hitchcock a merecer a nossa homenagem. Mr. & Mrs. Smith abdica do suspense, do jogo misterioso com o espectador, e apresenta uma screwball comedy a superar clássicos desse mesmo género, por vezes cansativos e repetitivos, como Bringing Up Baby de Howard Hawks.

3 comentários:

Anónimo disse...

O Francisco?

Anónimo disse...

Ainda não vi o filme do Hitchcok, nem este da "dupla maravilha". Mas Mafalda, apesar de tudo o resto... Sinto-me mais tentada a ir ver o Brad Pitt petiscar... :P

Anónimo disse...

Gostei infinitamente mais do primeiro Mr. & Mrs. Smith...

Para além de achar Brad um canastrão e de Angelina estar a léguas do meu género de mulher, o filme aborreceu-me. Há partes com uma certa graça, mas a overdose de tiros, pistolas, revólveres, metralhadoras e bazucas foi, pelo menos para mim, insuportável!

E os clichés...argh!