27 junho 2006

Dupla vénia


Perante a raridade de pessoas que estimam verdadeiramente o terror e sabem escrever sobre filmes deste género, resta-me fazer uma vénia à seguinte crítica. (E se ainda não o foram ver, não hesitem! Estamos perante um dos melhores filmes do ano.)

26 junho 2006

Bendita última página!

Apetece-me agradecer à Pública por todas as vezes que sorrio / rio / dou gargalhadas a ler esta página. Obrigada!
(Sim, eu sei que não é cinema. Mas também é uma demonstração de inteligência através de imagens e de palavras.)

18 junho 2006

Hey You

Verdades inabaláveis
Noah Baumbach
É bom que decoremos este nome rapidamente. Já o devíamos saber de cor desde que assistimos a The Life Aquatic with Steve Zissou mas ainda vamos a tempo de nunca mais o esquecer.
Jeff Daniels
Insubstituível desde The Purple Rose of Cairo.
Laura Linney
Sempre gostei de a ver como mulher de homens rijos.

Primeiras considerações
Não é habitual vermos um filme em que todas as personagens são de tal forma complexas e humanas que poderíamos assistir a esse mesmo filme a partir do ponto de vista de qualquer uma delas. Ontem, na sala do Monumental, escolhi ser Walt Berkman, o filho mais velho de The Squid and the Whale. Da próxima vez, talvez escolha ser Bernard Berkman, o intelectual avarento e fracassado.
Decidi tomar o partido de Walt desde o momento em que constatei que esta personagem incorpora algo a que sempre chamei o fenómeno “até o meu pai diz”. O que quero dizer com isto? É simples. Quando um filho ainda não atingiu um certo distanciamento em relação ao pai e não consegue formular opiniões por si só, baseia-se sempre naquilo que ouve da boca do pai e repete-o incessantemente em frente aos amigos. (Por vezes, acontece mesmo que o adolescente sente necessidade de sublinhar as suas palavras e então profere um sentido “até o meu pai diz” no princípio de cada frase.)
Ora, não só Walt Berkman usa e abusa deste fenómeno para impressionar a namorada, como tudo na vida dele parece girar em torno do pai. Parece mas talvez não gire e talvez não tenha mesmo de girar. Na verdade, é a enfrentar a recordação materna que Noah Baumbach dá por concluído o seu filme. E que filme! The Squid and the Whale surge então como um abalar de consciências, propício a ser visto por espectadores de todas as idades. Haverá sempre um de nós que se identificará com alguma das personagens. No meu caso particular, quero ser como Walt Berkman e enfrentar todas as construções, reais ou irreais, que vou conservando na minha memória desde criança. Enfrentá-las, desconstruí-las e, se for necessário, fugir delas até me sentir preparada para as receber de vez.

17 junho 2006

Comentário a um amigo

Para ler antes do meu comentário.
a) Eu também fazia parte do grupo de pessoas que foi ver este filme. Quando saímos da sala, não concordei com aqueles que tinham gostado muito mas também não estive de acordo com o Francisco.

b) Tecnicamente, o filme até pode lembrar um videoclip (e o facto de isto ser um ponto negativo é discutível) mas tem uma qualidade evidente: um bom trabalho de mise-en-scène a fazer lembrar o recente Red Eye do grande Wes Craven.

c) Concordo com uma frase da Visão Online: a pedofilia é um assunto delicado. Indo mais longe, nunca aceitei que se etiquetassem todos os pedófilos como criminosos macabros. Daí que a ideia de conceber uma justiceira de crianças abusadas não me convença. (Será que há uma real proximidade entre o caso de Roman Polanski, mencionado no filme, e a história do homem que violava a sobrinha de oito anos?)

d) Ellen Page vicia e faz com que todas as atenções recaiam sobre ela. A primeira sequência, em que a vemos a conversar com o fotógrafo num café, fez-me ter a certeza de que estávamos na presença de uma actriz. A sua capacidade de nos fazer confundir ingenuidade com perversidade pareceu-me bem mais relevante do que todas as outras habilidades que executa ao longo do filme.

e) O mistério que envolve esta capuchinho vermelho vingativa reúne mais perversidade do que todas as cenas supostamente perversas. Quem é esta adolescente? De onde vem? O que a move? Nunca saberemos e ainda bem. Gosto de filmes que não apresentam soluções.

15 junho 2006

Suposição matinal

Se eu resolvesse fazer um inquérito de rua e perguntasse a rapazes portugueses, nascidos entre 1978 e 1988, qual o filme preferido, tenho quase a certeza de que a resposta seria uma de duas: Braveheart (para os menos "cinéfilos") ou The Big Lebowski (para os mais "cinéfilos").
(Para todos aqueles que não se incluem nesta suposição, o meu mais sincero cumprimento cinéfilo.)

04 junho 2006

Um murro no estômago



Sobre o seu filme, Miguel Clara Vasconcelos terá dito que não queria comparações com Belarmino de Fernando Lopes. A pergunta que se coloca é o porquê desta renúncia a um sóbrio antepassado comprovativo de que os cineastas têm filmado o boxe como quem observa um espectáculo inquietante. Senão, recordemos por breves instantes Jake La Motta de Raging Bull e a forma como Martin Scorsese transformou a violência no meio de expressão do seu protagonista. Escusamos até de viajar tantos anos na história do cinema quando podemos simplesmente recordar o último de Clint Eastwood, Million Dollar Baby, ainda aqui tão perto.
Mas regressemos a Documento Boxe, motivo pelo qual iniciámos este texto. Nascido em Lisboa em 1971, ano do célebre combate de boxe Frazier vs. Ali, Miguel Clara Vasconcelos foi vencedor do Festival Internacional de Curtas-Metragens de Vila do Conde. À partida, parece-nos que este documentário é mais um filme a transmitir esse fascínio pelo boxe que tem marcado a sétima arte. Porém, mais do que isso, Documento Boxe insere-se numa cultura documental portuguesa que tem dado a conhecer um Portugal quase ignorado.
Compreender Documento Boxe implica que o relacionemos com documentários como À Flor da Pele, realizado por Catarina Mourão, e Gosto de Ti Como És, assinado por Sílvia Firmino. Em conjunto, estes filmes são representativos da vontade de mostrar um Portugal menos evidente aos espectadores e de o desmistificar, apontando o real sem artifícios. Neste gesto de filmar um país simultaneamente genuíno e castiço, a lembrar desejos neo-realistas de outros tempos, reside o problema de os espectadores não estarem preparados para o aceitar.
E assim, caminhando fugazmente por momentos cinematográficos, regressamos a Documento Boxe. No momento em que conhecemos Jorge Pina, protagonista deste documentário, já estamos familiarizados com o mundo do boxe português. A câmara do realizador proporcionou-nos que fossemos testemunhas ocultas das pesagens dos atletas e do convívio entre treinadores e pugilistas. Ao contrário de Scorsese, Miguel Clara Vasconcelos apresenta-nos um protagonista que se exprime através de palavras e que nos conta várias histórias.
Preparemo-nos pois para o receber de braços abertos, dispostos a inesperados murros no estômago. “Vais ler e vais gostar da história”, diz-nos o pugilista. “Vão ver e vão gostar da história”, digo-vos eu. Todas estas breves referências apoiam a conclusão de que esta história de Jorge Pina deve ser entendida como parte integrante de um novo cinema português que precisa de espaço e de espectadores para se poder definir e desenvolver. Desbravando caminhos, experimentando diferentes estéticas que nem sempre recebem elogios, a fotografia de Sérgio Brás d’ Almeida neste documentário é exemplificativa disto mesmo, assim cresce o nosso cinema.

20 maio 2006

The Aristocrats



Para quem não tem medo de rir.
Para quem não tem medo do cinema.
No fundo, para quem não tem medo de si mesmo.

07 maio 2006

Proposta editorial

"O Cine Guia® 2007, dedicado aos filmes disponíveis no mercado português no formato de DVD, vai estar nas livrarias e em diversos outros pontos de venda a partir de Outubro de 2006, representando um poderoso estímulo para a compra e o aluguer de DVDs.

O Cine Guia® 2007 é da autoria do crítico de cinema e jornalista Miguel Lourenço Pereira, criador do blog Hollywood, tendo prefácio de Mário Dorminsky, fundador e director do Festival Internacional de Cinema do Porto/Fantasporto.

O Cine Guia® 2007, que terá o formato de um estojo de DVD, para facilitar a arrumação em casa junto dos DVDs como livro de consulta, terá distribuição nacional em livrarias e outros pontos de venda de revistas e de jornais, em hipermercados e áreas de serviço.

Esta iniciativa editorial – que terá continuação nos anos seguintes – é um projecto profissional que descende directamente do anuário Video 89, Video 90, Video 91, Video 92 e Video 93, em que colaboraram especialistas portugueses (jornalistas e críticos de cinema), e insere-se na tradição dos «movie guides» que proliferaram nos EUA e que tanto êxito obtiveram nos países de língua inglesa, fornecendo ao público uma informação eficaz sobre o que existe no cinema, em sala e em casa («home cinema» e TV)."

06 maio 2006

Dois lados da razão

1)
Se será sempre muito difícil suceder a tão carismática personalidade, a dificuldade foi acrescida pelo modo como ele semeou o deserto à sua volta. Desde Maio de 2003 que não há responsável do departamento de Programação (é o próprio Bénard quem exerce o pelouro), e em Outubro passado, depois de não se ter efectivado em Maio a substituição que era das regras, a Cinemateca ficou mesmo durante meses sem vice-presidentes, pela demissão de José Manuel Costa e pela reforma antecipada de Rui Santana Brito. Que a instituição se chame Cinemateca Portuguesa é mesmo ficcional. Protocolos com instituições não são cumpridos, cineclubes e outros bem podem pedir cópias, e qualquer governante que já tenha tido a tutela sabe que o obstáculo intransponível a uma programação no Porto, na Casa das Artes, tem sido o próprio presidente Bénard. Mais: há anos a Cinemateca adquiriu direitos de uma importante colecção à Hollywood Classics, que permitia ter um acervo considerável de cópias susceptível de circulação pelo país, e que afinal ficaram na gaveta, num acto lesivo do interesse público, financeiramente inclusive.
Augusto M. Seabra, Público, 27 de Abril de 2006
2)
Se houve alguém que entendeu a luz e nunca se escondeu da sombra (embora seja dessa combinação que ele nasceu para este mundo) foi João Bénard da Costa. Poucas pessoas neste pequeno canto europeu deram tanto a tantas (ou várias) gerações; poucos, muito poucos, nos fizeram sonhar, ver e aprender a mais bela das artes: o cinema.
(...)
Mas nós - que o conhecemos, que o ouvimos e o lemos - temos a obrigação de dizer que seríamos bastante diferentes se não tivessemos por ele passado.
(...)
O Nicholas Ray, o King Vidor, o Capra, o Lubitsch ou o Hawks não nos foram apresentados pessoalmente. Deram-se apenas a conhecer pelo João Bénard da Costa. Estes amigos e tantos outros, que normalmente estavam lá para fora envergonhados, foram cantados, recordados e maravilhosamente "filmados" por ele. Nunca ninguém como ele conseguiu alguma vez fazer-nos ver o filme pela décima vez.
(...)
A sua magia estava sempre na utilização do absoluto: "O maior filme de sempre...", "O melhor beijo alguma vez filmado...", "o melhor início de qualquer dos filmes de Ford...". Mas também no louco cruzamento de planos, da pintura ao cinema, da literatura à fotografia.
(...)
João Bénard da Costa ficará para sempre na história do cinema, pois muito o cinema lhe deve, aqui ou em qualquer parte do mundo. A Cinemateca, tal como a conhecemos, não existia sem ele, sem a sua paixão, sem a sua alma, feita de "luz e sombra".
Nuno Galvão Teles, Público, 3 de Maio de 2006

23 abril 2006

Vício cinéfilo

A história de uma família italiana acompanhada pelos espectadores desde o fim dos anos 60 até aos dias de hoje. Esta é a sinopse de A Melhor Juventude. Eficaz mas redutora. Poderíamos acrescentar: fragmentos de vida, testemunhos de emoções, vestígios de dor. Continuaria redutora.
A Melhor Juventude, filme assinado por Marco Tullio Giordana, foi uma aposta do Cinema King que demorou pouco tempo até se transformar num autêntico acontecimento cinematográfico. De um momento para o outro, e quase inexplicavelmente, o público português aderiu em massa a este filme e deslocava-se ao King para ver as duas partes, cada uma com 3 horas de duração.
Ainda hoje, e já passaram mais de dois anos, os espectadores continuam a adquiri-lo ou a alugá-lo para conhecerem os irmãos Nicola e Matteo cujas vidas se alteraram desde o encontro com uma jovem doente.
A explicação para este sucesso só se torna difícil de perceber para quem nunca viu o filme. A Melhor Juventude, que começou por ser um projecto encomendado como série pela televisão estatal italiana, traz ao grande ecrã um ritmo concentrado e quase linear que, mais velozmente do que o cinema nos habituou, vai saltando de ano em ano, de acontecimento em acontecimento e de personagem em personagem. E aqui surge uma outra qualidade desta película que não pode ser desprezada: a escolha dos actores.
Carismáticos, conscientes da densidade psicológica das suas personagens, sempre no tom certo e conseguindo sabiamente fazer uso das suas características físicas. E devo sublinhar a parte final: fazer uso das suas características físicas. Neste filme, talvez como em poucos, todas as mulheres são belas, no sentido mais cativante que o adjectivo possui, e todos os homens são belos, no sentido mais fascinante que o adjectivo possui.

Desculpem...

Para todos aqueles que têm perguntado se abandonei o Mise en Abyme, a resposta é não. Não abandonei e não tenciono abandonar. No entanto, o tempo tem sido escasso e os filmes que tenho visto, salvo raras excepções, não merecem figurar num blog de homenagem à sétima arte.

Até breve!

29 março 2006

E agora...

O Mise en Abyme tem o prazer de apresentar
a mais recente produção independente
(E se quiserem ser realizadores por uns instantes, cliquem aqui.)

27 março 2006

Homenagem à beleza etérea - IV

Bibi Andersson
(Talvez nunca a tenhamos visto tão perfeita como em O Sétimo Selo.)

A morte aqui tão perto

Novamente Bergman. Porque nunca é demais escrever sobre ele, especialmente se acabámos de sair da Cinemateca depois de uma sessão de O Sétimo Selo. A omnipresença de Bengt Ekerot, recolhendo vidas através do seu manto negro, conduziu-nos até à morte espiritual de Persona e fez com que recordássemos o caminhar célere da vida de Morangos Silvestres e o ressuscitar amedrontado de Lágrimas e Suspiros. Caminhos complexos de percorrer, memórias difíceis de guardar.
Fomos testemunhas de um recital de sombras orquestrado pela morte. Porém, sentimo-nos consolados porque acreditamos que haverá sempre leite e morangos para partilhar. Vencendo a peste e o medo, assistimos ao renascer da esperança através de uma Bibi Andersson de longos cabelos louros, acompanhada pelo marido e filho numa espécie de presépio celestial.
E foi assim que, por esta vez, Ingmar Bergman se despediu de nós, espectadores confiantes na busca pelo sentido da vida.

E, assim, as Lágrimas e Suspiros se desvanecem.

23 março 2006

Quando o talento é descoberto



Presley Chweneyagae



Terry Pheto

Façamos figas para que Tsotsi não seja o primeiro e último filme em que estes actores puderam fazer uso do seu enorme talento. O cinema só tem a ganhar com rostos como estes, capazes de transmitir tudo através de uma enorme economia de palavras e de gestos. E nós também.

Parabéns pelo Óscar!

Proposta de discussão - XV





Se Viggo Mortensen se tivesse ficado pela incursão no imaginário de J.R.R. Tolkien, guardaríamos para sempre a recordação do grande Aragorn, herói como poucos. Porém, Viggo Mortensen seguiu em frente e tornou-se protagonista de um filme de David Cronenberg.
Surge então a dúvida: estará Viggo Mortensen à altura de ser o actor principal de um filme como A History of Violence? Pergunto isto porque também recordo a sua prestação em The Portrait of a Lady e sou da opinião de que Viggo Mortensen não tem a versatilidade e o carisma necessários para ser um grande actor.
Qual a vossa opinião?

22 março 2006

INDIELISBOA 2006

A pouco mais de um mês do início da 3ª edição do IndieLisboa - Festival Internacional de Cinema Independente de Lisboa - começam a ser revelados alguns dos títulos a exibir durante o festival.
Para todas as informações sobre este evento cultural, clique aqui.

17 março 2006

Dia de imitações

Hoje sinto-me como a Emmanuelle Béart...



Dizem que a imitação é a melhor forma de elogio. Cliquem aqui para verem a ideia original.

Maxime



Proposta retirada daqui.

Por curiosidade...

Como qualifica o cinema português?
Cada vez melhor
Com elencos desadequados
Depressivo
Destituído de qualidade
Divertido
Francamente bom
Indiferente
Monótono
O Pátio das Cantigas é que era!
Original
Tecnicamente problemático
Um risco de tempo e de dinheiro
Uma cópia caricata do cinema estrangeiro
Único
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