Deambula por cafés e cinemas que já não existem, ressuscitando mitos mortos e esquecidos. Elogia a verdadeira liberdade, aquela que sobressai no Play Time de Jacques Tati e no Terra Bruta de John Ford. Assume-se como discípulo de Raoul Walsh e promete, na rodagem dos seus próprios filmes, seguir o Mestre e filmar a vida dos homens sem Deus, sem moral e sem sentença.
Não poupa repreensões aos críticos de cinema que denomina como sábios doutores da crítica para sempre parados no passado. Com o mesmo regozijo, aplaude João Bénard da Costa, considera-o um modelo a seguir e reconhece-lhe a capacidade de, através da escrita, fazer ver a vida. Recorda a altura em que foi aluno de Mário Dionísio e mostra-se grato por ter aprendido o verdadeiro papel da literatura. Encontra-se nos livros mortos que recorda da adolescência e nas preciosidades descobertas em alfarrabistas.
Define os actores de teatro não apenas pelos papéis que fizeram mas também por aqueles que gostaria que tivessem feito. Recua no tempo e evoca o Teatro Moderno de Lisboa, feito por gente digna, cheia de entusiasmo e de vontade de fazer uma coisa nova. Tal como ele próprio, diríamos nós agora.
Em suma, Jorge Silva Melo, com o olho clínico do observador, a delicadeza do amigo, a fragilidade do ser humano, o devaneio do viajante e a nostalgia da cultura. O mesmo homem que inicia as suas memórias com uma frase de Simone Weil – a nossa vida real é, em mais de três quartos, composta de imaginação e de ficção.
É ele, Jorge Silva Melo, um dos maiores vultos da cultura portuguesa e o autor de Século Passado. Uma obra que é o retrato eficaz de um século e de uma época manchados pelo salazarismo mas coloridos por uma vida cultural transbordante, em que as pessoas do meio intelectual trabalhavam por uma causa comum. Uma obra em que a capacidade de inter-relacionar, de compreender e de interpretar as conexões interdisciplinares e interculturais que pairam à nossa volta é alucinante. O carácter específico de disciplinas como a literatura, o cinema, a música, a pintura, a arquitectura e o teatro perde o seu sentido numa reflexão como esta que as confunde e baralha sem nunca perturbar o leitor. Numa única página, debruçamo-nos sobre a obra de Beethoven, ao mesmo tempo que reflectimos sobre Michel Piccoli e recordamos Van Gogh.
Estou finalmente velho e o que vivi já é tempo de memórias. […] Vivemos e trabalhamos e alteramo-nos e inventamos outras coisas e outras formas – os que conseguem.
Não poupa repreensões aos críticos de cinema que denomina como sábios doutores da crítica para sempre parados no passado. Com o mesmo regozijo, aplaude João Bénard da Costa, considera-o um modelo a seguir e reconhece-lhe a capacidade de, através da escrita, fazer ver a vida. Recorda a altura em que foi aluno de Mário Dionísio e mostra-se grato por ter aprendido o verdadeiro papel da literatura. Encontra-se nos livros mortos que recorda da adolescência e nas preciosidades descobertas em alfarrabistas.
Define os actores de teatro não apenas pelos papéis que fizeram mas também por aqueles que gostaria que tivessem feito. Recua no tempo e evoca o Teatro Moderno de Lisboa, feito por gente digna, cheia de entusiasmo e de vontade de fazer uma coisa nova. Tal como ele próprio, diríamos nós agora.
Em suma, Jorge Silva Melo, com o olho clínico do observador, a delicadeza do amigo, a fragilidade do ser humano, o devaneio do viajante e a nostalgia da cultura. O mesmo homem que inicia as suas memórias com uma frase de Simone Weil – a nossa vida real é, em mais de três quartos, composta de imaginação e de ficção.
É ele, Jorge Silva Melo, um dos maiores vultos da cultura portuguesa e o autor de Século Passado. Uma obra que é o retrato eficaz de um século e de uma época manchados pelo salazarismo mas coloridos por uma vida cultural transbordante, em que as pessoas do meio intelectual trabalhavam por uma causa comum. Uma obra em que a capacidade de inter-relacionar, de compreender e de interpretar as conexões interdisciplinares e interculturais que pairam à nossa volta é alucinante. O carácter específico de disciplinas como a literatura, o cinema, a música, a pintura, a arquitectura e o teatro perde o seu sentido numa reflexão como esta que as confunde e baralha sem nunca perturbar o leitor. Numa única página, debruçamo-nos sobre a obra de Beethoven, ao mesmo tempo que reflectimos sobre Michel Piccoli e recordamos Van Gogh.
Estou finalmente velho e o que vivi já é tempo de memórias. […] Vivemos e trabalhamos e alteramo-nos e inventamos outras coisas e outras formas – os que conseguem.
9 comentários:
Este livro é notável!
fiquei com alguma curiosidade... quando o avistar irei folheá-lo.
Só para te congratular pela iniciativa e pela vontade de manter este Blog, que está muito bem estruturado.
É preciso gostar de cimena e gostar de escrever sobre cinema.
E tu tens ambas as virtudes.
Parabéns!
a.pinela
Depois de ter lido a entrevista que ele deu no Expresso, na qual disse várias coisas com que me identifiquei inteiramente, fiquei com vontade de ler o livro :o)
Bjs
Lá vou ter de arranjar tempo nas 1234 coisas que tenho para fazer para ler isto... :-)
andas sempre muito ocupado, ó alves
Experimenta fazer assessoria jurídica ao sector financeiro e, ao mesmo tempo, escrever uma tese de mestrado que já percebes o que estou a dizer :-)
é isso mesmo - não vou experimentar
Olá a.pinela!
Agora que a Leonor teve a amabilidade de te identificar, aqui estou para agradecer a simpatia do teu comentário.
Um beijinho,
Mafalda
P.S. Estou sempre disposta a enfrentar um quiz…
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