30 abril 2007

Desabafo

Acho que nunca escrevi sobre o Vincente Minnelli. Até já escrevi sobre o meu amor secreto pelo Nicholas Ray e, sabe-se lá porquê, o Vincente Minnelli foi ficando para trás. E gosto tanto dos filmes dele. Gosto tanto daquele fulgor de sensações. Fico sempre a pensar no Romantismo oitocentista: grandes paixões, enormes tragédias, todas as emoções à flor da pele. Como no Two Weeks in Another Town em que todos se esbofeteiam, numa espiral vertiginosa de ódios e obsessões. (Tal como no Some Came Running, no The Bad and the Beautiful e mesmo no An American in Paris.) Em todos há a mesma velocidade, num idêntico e desesperado querer viver. Como se a vida acabasse ali e agora. E lá volto a pensar no único Garrett que me interessa - Frei Luís de Sousa – e, quando dou por mim, penso na Cyd Charisse e na Lana Turner ao mesmo tempo que recordo A Cartuxa de Parma de Stendhal.

29 abril 2007

Beleza sueca – Mini Anden

O meu perfume… Obrigada.

Não me canso de contemplar a beleza feminina. Ou antes, o Belo.

Jasmine Trinca

La stanza del figlio, La meglio gioventù, Manuale d'amore, Il Caimano...
É ela e o talento dela que agora me interessam.

27 abril 2007

A não perder!

foto © Tiago Cabral
Hoje, Sexta-feira

Leitura do Sermão da Sexagésima de Padre António Vieira
Com a participação de José Manuel Mendes

Onde
Igreja de S. Roque, no Largo Trindade Coelho

Quando
21h00

Entrada livre
José Manuel Mendes estudou na Faculdade de Letras de Lisboa e iniciou a actividade teatral no Grupo de Teatro da mesma faculdade, sob a direcção de Fernando Amado. Após um interregno longo, voltou ao teatro e trabalha regularmente, desde 1981, no Teatro da Cornucópia.

Amanhã, Sábado

Visita ao interior do Teatro da Trindade

Onde
Teatro da Trindade

Quando
11h

Entrada livre – Inscrições na livraria das Edições Cotovia
Rua Nova da Trindade, 24
Teatro de Robertos Português – Espectáculo de rua "Teatro D. Roberto"

Onde
Largo Trindade Coelho

Quando
16h

Entrada livre
Originário da tradição europeia de marionetas de luva, que se julga ter tido a sua génese na Polichinelo da Comédia Dell’Arte Italiana do séc. XVI, o Teatro de Robertos Português mantém as características próprias desta forma de teatro tradicional. Tendo aparecido em Portugal no séc. XVIII, manteve-se quase inalterado até meados do séc. XX, altura em que entrou em decadência, muito por força da concorrência com formas mais contemporâneas de entretenimento popular.
Grupo de batuque Finka-Pé

Onde
Largo Trindade Coelho

Quando
18h

Entrada livre
O Grupo de Batuque Finka-Pé surgiu em 1988 no Bairro Alto da Cova da Moura, concelho da Amadora, no âmbito das actividades desenvolvidas pela Associação Moinho da Juventude. Inteiramente formado por mulheres caboverdianas que habitam no bairro, este grupo dedicou-se à prática do batuque por razões de vária ordem: divulgação da cultura caboverdiana, autovalorização das suas componentes e manutenção das tradições do seu país.

26 abril 2007

Constatação francesa

De facto, O Meu Tio é um objecto de rara depuração formal e, mais do que isso, uma visão crítica do valor social da tecnologia cuja actualidade simbólica não se desvaneceu. João Lopes
É verdade.
Com um humor de infinita subtileza, em tudo e por tudo alheio à lógica da gargalhada grosseira, hoje em dia imposta pelas mais medíocres derivações da stand-up comedy, O Meu Tio constitui, além do mais, a possibilidade de reencontrar um dos grandes mestres do cinema francês. João Lopes
É verdade sim senhor.
Entre a nostalgia e uma aceitação mais ou menos melancólica do "presente" nasce o magistral burlesco de "O Meu Tio". A desarrumação da ordem, a orquestração da desordem. Do "gag" minimalista ao maximalista, "O Meu Tio" contém alguns dos mais clássicos momentos do humor "tatiano". É começar a contá-los. Não há nada de remotamente parecido com isto em lado nenhum, o burlesco (e toda a comédia, se calhar) é uma tradição morta. Luís Miguel Oliveira
Concordo em absoluto.
(Mas também é verdade que não me consigo rir tanto como gostaria. Sempre me pareceu que este é um humor para apreciar e não para rir.)

25 abril 2007

Para apreciar

Adieu Philippine (1962), Jacques Rozier

24 abril 2007

Bridget Jones

Para a minha querida Bridget Jones, leitora e comentadora assídua deste espaço. Obrigada pelo encorajamento constante.

17 abril 2007

Still waiting for the phone call

Claudia Cardinale no La Ragazza con la valigia
(Como diria o meu amigo Francisco: “minha nossa…”)

Ora repita lá outra vez

Claudia Cardinale

16 abril 2007

Das Leben der Anderen

Amparo



Cárcere

Metamorfose



Protecção

Reciprocidade



Repugnância

12 abril 2007

E eis que tudo ganha sentido



O último filme de David Lynch não recupera o fascínio de Mulholland Drive e nem a humanidade dos já clássicos The Straight Story e The Elephant Man. Aliás, INLAND EMPIRE consegue destacar-se de toda a obra do cineasta e de toda a oferta cinematográfica que por aí anda. No entanto, não me comoveu e não me perturbou. Senti-o longo e tive de suportar o seu ritmo arrastado. Valeu a pena? Sem dúvida. Porquê? Sobretudo porque aquilo que me interessa verdadeiramente é a ousadia de usar o cinema como pretexto para chegar cada vez mais longe. E David Lynch vai muito longe neste INLAND EMPIRE.
Não pensei que fosse possível filmar o sonho de forma tão verosímil e perfeita. Verosímil? Sem dúvida. Quem costuma acordar a meio da noite com pesadelos sabe do que estou a falar. Um macaco que se repete, umas gargalhadas que ecoam, uma frase que já se ouviu, uma atitude inexplicável, uma vontade de mudar o rumo dos acontecimentos – pormenores oníricos amalgamados com um perfeito domínio sobre o surrealismo. (Mas é possível dominar o surrealismo? David Lynch consegue.) Estamos no domínio dos sonhos, no mundo dos sonhos. Estamos também muito longe da terra dos sonhos de Jorge Palma onde “podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal”. Neste sonho, podemos perder a dignidade e até mesmo a vida.
Está tudo à nossa frente, mesmo à frente dos nossos olhos para que possamos ver. Ver e não compreender. Quem é que disse que o cinema tem de ser compreendido? E lá me recordo do João César Monteiro que ousou perguntar se o cinema tem mesmo de ser visto. (Invejo esta capacidade de pôr o cinema em causa, de o questionar enquanto arte e enquanto objecto de entretenimento.)
David Lynch é um libertino. Manipula o conceito de cinema e manipula-nos a todos nós. E ainda bem.
Boa noite.

Não Vi o Livro, mas Li o Filme

19 e 20 de Abril de 2007
Programa

10 abril 2007

Waiting



(Agora que estou na mesma situação do que a minha querida Marianne, decidi plagiá-la sem dó nem piedade. Desculpa…)

05 abril 2007

Ciclo Jorge Silva Melo

Por ocasião do lançamento do livro de memórias de Jorge Silva Melo, organizou-se um ciclo de cinema que terá lugar nas instalações da Cinemateca Portuguesa – Museu do Cinema. Constituído por películas que marcaram a vida do autor e que são recordadas ao longo das páginas da obra Século Passado, este ciclo será exibido durante os meses de Abril e de Maio.

Programação para Abril:

17/4 19.00

Sophia de Mello Breyner Andresen
LA RAGAZZA CON LA VALIGIA


20/4 19.30

NANA


24/4 22.00

ADIEU PHILIPPINE


26/4 21.30

TWO WEEKS IN ANOTHER TOWN


27/4 19.00

WANDA

02 abril 2007

Jorge Silva Melo



Deambula por cafés e cinemas que já não existem, ressuscitando mitos mortos e esquecidos. Elogia a verdadeira liberdade, aquela que sobressai no Play Time de Jacques Tati e no Terra Bruta de John Ford. Assume-se como discípulo de Raoul Walsh e promete, na rodagem dos seus próprios filmes, seguir o Mestre e filmar a vida dos homens sem Deus, sem moral e sem sentença.
Não poupa repreensões aos críticos de cinema que denomina como sábios doutores da crítica para sempre parados no passado. Com o mesmo regozijo, aplaude João Bénard da Costa, considera-o um modelo a seguir e reconhece-lhe a capacidade de, através da escrita, fazer ver a vida. Recorda a altura em que foi aluno de Mário Dionísio e mostra-se grato por ter aprendido o verdadeiro papel da literatura. Encontra-se nos livros mortos que recorda da adolescência e nas preciosidades descobertas em alfarrabistas.
Define os actores de teatro não apenas pelos papéis que fizeram mas também por aqueles que gostaria que tivessem feito. Recua no tempo e evoca o Teatro Moderno de Lisboa, feito por gente digna, cheia de entusiasmo e de vontade de fazer uma coisa nova. Tal como ele próprio, diríamos nós agora.

Em suma, Jorge Silva Melo, com o olho clínico do observador, a delicadeza do amigo, a fragilidade do ser humano, o devaneio do viajante e a nostalgia da cultura. O mesmo homem que inicia as suas memórias com uma frase de Simone Weil – a nossa vida real é, em mais de três quartos, composta de imaginação e de ficção.
É ele, Jorge Silva Melo, um dos maiores vultos da cultura portuguesa e o autor de Século Passado. Uma obra que é o retrato eficaz de um século e de uma época manchados pelo salazarismo mas coloridos por uma vida cultural transbordante, em que as pessoas do meio intelectual trabalhavam por uma causa comum. Uma obra em que a capacidade de inter-relacionar, de compreender e de interpretar as conexões interdisciplinares e interculturais que pairam à nossa volta é alucinante. O carácter específico de disciplinas como a literatura, o cinema, a música, a pintura, a arquitectura e o teatro perde o seu sentido numa reflexão como esta que as confunde e baralha sem nunca perturbar o leitor. Numa única página, debruçamo-nos sobre a obra de Beethoven, ao mesmo tempo que reflectimos sobre Michel Piccoli e recordamos Van Gogh.

Estou finalmente velho e o que vivi já é tempo de memórias. […] Vivemos e trabalhamos e alteramo-nos e inventamos outras coisas e outras formas – os que conseguem.