20 março 2007

Grandes filmes


A propósito da crítica de Jorge Mourinha em relação ao The Good Shepherd, há um parágrafo que não me sai da cabeça – Foi uma longa viagem para pôr o projecto de pé, para se debater com a indiferença de uma crítica displicente para com o filme, com o desinteresse do público, com a injustíssima ausência dos Óscares. Sejamos realistas: não é um grande filme, e não é só Coppola que nos vem à cabeça – há algo da desmesura de Oliver Stone nos seus tempos áureos, no desafio louco de entrecruzar o público e o privado, a Grande História e as pequenas histórias.
Assinaria por baixo se não fosse esta curta frase: Sejamos realistas: não é um grande filme. O que falta então a The Good Shepherd para ser um grande filme? O que querem os críticos? Não sei, não compreendo e, mais uma vez, prefiro ignorá-los. Robert De Niro surpreende com uma realização irrepreensível, sem movimentos de câmara excessivos. Nada falha ao longo de 167 minutos de uma segurança inabalável, entre flashbacks e flashforwards, reconstituições históricas, silêncios e mortes.
Recordo-me de que, aqui há bem pouco tempo, os críticos aplaudiram The Black Dahlia e nem levaram em conta as sucessivas incoerências de Brian De Palma. Pelo contrário, compararam-no quase automaticamente a obras-primas como Double Indemnity ou Out of the Past. Ora bem, eis que hoje acordei a pensar em The Good Shepherd e no quanto gostei dele. Para quem me conhece, há certos pormenores que facilmente me conquistam. Não é todos os dias que vejo a Angelina Jolie a abdicar do seu lado carnal para se transformar numa espécie de mártir mal-amada. Também não é todos os dias que reencontro Joe Pesci, John Turturro e William Hurt. Mas garanto que não foi só o elenco que me subjugou.
Na minha relação com o cinema, ando sempre à procura de películas que questionem os limites do cinema, que é como quem diz, os limites da vida. E confesso que me senti agradecida com a personagem de Matt Damon. (Permitam-me a ressalva: a minha relação com o cinema está longe de ser consequente. Houve alturas em que só a presença de Matt Damon em “coisas” como o Good Will Hunting era suficiente para me afastar do ecrã.) Um homem que nunca pôde planear a sua vida, um homem que nunca pôde tomar decisões, um homem que nunca teve controlo sobre si. E que, no entanto, sempre agiu de acordo com um cerradíssimo código moral, representando assim o estereótipo da rectidão, desde o caminho que percorre até à impecabilidade dos seus fatos, cabelo e óculos. É o tal Bom Pastor que tudo sacrifica em prol de um bem maior. Haverá homens assim? De repente, ocorrem-me o Montgomery Clift do I Confess e o David Strathairn do Good Night, and Good Luck. Grandes filmes, tal como The Good Shepherd.

8 comentários:

P.R disse...

The Good Sheperd é sem dúvida um excelente filme!! É a par de Little Children, Leters of Iwo Jima e The Fountain, um dos melhores filmes estreados em 2007!!

noite americana disse...

Lembro-me que mal o fui ver, e mesmo depois durante a emissão dos óscares do Rádio Clube, questionei a indiferença, e até o desdém, com que o filme foi tratado. Incompreensível. DM

Francisco Valente disse...

O Good Will Hunting é um grande filme. Se passar outra vez numa sala qualquer em Lisboa levo-te comigo e pago-te o bilhete. Beijinhos.

C. disse...

Também não gosto de 'Good Will Hunting' e da dupla Dammon/Affleck. Mesmo assim, o Dammon tem sabido gerir melhor a carreira que o amigo.

Quanto a este filme, ainda não fui ver mas espero fazê-lo em breve.

PS - noite americana, devias ter ouvido a TSF :P

Daniel Pereira disse...

O "Good Will Hunting" era assim o filme da minha vida entre os 15 e os 17 anos, mais ou menos. É só isto.

noite americana disse...

Não dava, Cláudia, os meus auscultadores só davam Rádio Clube... DM

Anónimo disse...

Deixaram tio De Niro de fora do Oscar! uma crueldade, pois o filme é belíssimo e de uma profundidade única. Eu pretendo, inclusive, rever em DVD (para um futuro trabalho de faculdade).

(http://claque-te.blogspot.com): O Último Rei da Escócia, de Kevin Macdonald.

Anónimo disse...

Também gostei imenso do filme e uma vez mais acho que a crítica portuguesa gosta de falar, no geral, apenas para o seu próprio umbigo e os seus pares (que medo têm, na maior parte dos casos, de serem diferentes...). Quanto à Angelina Jolie, apesar de ter gostado imenso da sua interpretação, considero que foi um erro de casting no que se refere à integração naquela família. O seu tipo (bastante exótico) não corresponde minimamente àquele meio super-hiper WASP daquela época ;o)