09 maio 2005

A vida como um direito



Mar Adentro volta a trazer-nos a câmara de Alejandro Amenábar envolvida nos meandros da morte. Mais do que isso, permite que nos confrontemos com a grandeza interpretativa de Javier Bardem como centro de um filme que tenta acrescentar algo à temática da eutanásia. Politiques e convicções religiosas à parte, esta película tem o mérito de atingir a sensibilidade do espectador.
Consigo concordar com quem afirma que Alejandro Amenábar se excede em alguns momentos de um sentimentalismo lacrimoso mas não deixo de assumir que a grandeza do filme está precisamente nos sentimentos que desperta. Se Javier Bardem alcança a mestria com a sua personagem, os outros actores não lhe ficam atrás. Com eles sofremos e com eles choramos genuinamente.
Sabemos que o protagonista deseja morrer, vemo-lo a olhar pela janela do quarto e assistimos ao seu desespero diário. Compadecemo-nos com Ramón Sampedro mas sofremos com as personagens que o acompanham. Um pai que se refugia em premonições, um irmão cujo amor fraterno é superior à tentativa de compreensão, um sobrinho adolescente que assume de forma incansável qualquer tipo de tarefa, uma cunhada que deu sentido ao dia-a-dia e uma amiga que encontra um abrigo para a sua vida inútil. O que será deles depois do acto consumado? Entramos na sala de cinema a conhecer o desfecho do filme. A inquietação só surge quando nos apercebemos de que é sobre aquele conjunto de personagens que recaem os nossos sentimentos.
Emoções, paisagens galegas, mulheres bonitas, música e poesia. Não é impensável que olhemos para Mar Adentro como quem olha para um filme comezinho ou unicamente sentimentalão?
A não perder ainda no cinema Ávila!

14 comentários:

Anónimo disse...

Acho que este blog deve ser uma referência para qualquer amante da arte cinematográfica em Portugal!! Continua Mafalda e boa sorte!!

gonn1000 disse...

Concordo. Será decerto um dos melhores do ano...

Anónimo disse...

O filme é de facto espectacular! Comove qualquer um pela beleza com que mostra a extrema fragilidade e fraqueza humanas. Ao ver o filme é impossível não nos revoltarmos contra as atrocidades que ainda hoje são cometidas numa sociedade e num mundo que se dizem "evoluídos". Evoluídos somos certamente ao nível material mas jamais ao nível mental ou cultural. Pois aquilo que Amenábar fez no filme já foi feito por outros. Amenábar diz-nos, na minha opinião, que a verdadeira realidade é a realidade interior e que o indivíduo tem um valor absoluto, sendo autónomo, independente e livre. Ora, isto já foi defendido pelo Romantismo há mais de 150 anos atrás. Basta ler A Dama das Camélias de Alexandre Dumas Filho ou Os Miseráveis de Vítor Hugo. Tal como eles, Amenábar sai de si próprio e entende o Outro, neste caso Javier Bardem, um homem que tem a SUA história, o SEU trajecto, que foi marcado por determinados acontecimentos, que sentiu e experienciou certas coisas que somente ele é capaz de entender. Ao contrário de Amenábar, o padre e os juízes, “iluministas” por excelência, não conseguiram entender o sofrimento de Bardem pois partiram do pressuposto sempre errado de que as pessoas são iguais e de que existe uma norma e uma regra universais. O padre e os juízes não olharam para o Indivíduo, mas Amenábar sim! E é isto, a meu ver, que torna o filme brilhante! Um pouco mais de Romantismo: eis, na minha opinião, o que falta hoje em dia!
Para terminar, queria dar-vos mais uma vez os parabéns pelo vosso blog! Continuem assim!

Anónimo disse...

Olá Mafalda! Eu sei que o objectivo deste blog é dizer bem, ou melhor, homenagear, contudo,penso que a homenagem não pode estar desligada de sentido crítico. Muito simplesmemente Mar Adentro é mau.
Barden tem um desempenho monumental, acho mesmo que é prodigioso, porém, de que lhe vale o génio quando está mergulhado numa mediocridade de argumento confrangedora? Os actores são bons, não há dúvida, mas não conseguem trazer nada de interessante ou relevante ao filme, porque desempenham personagens planas sem qualquer tipo de alteração relevante e esperada perante uma situação limite como a eutanásia, a morte, em última análise. Quase todas são a favor ou contra de princípio ao fim, e os familiares fazem do sofrimento um motor de vida sem sequer o questionarem ou se rebelarem, ainda que fosse inutilmente, contra ele. E para quê a questão legal se ela entra e sai do filme sem finalidade alguma?
Mas o pior em minha opinião é aquela história de amor entre Barden e a sua advogada, vítima de uma doença degenerativa. Quem no seu perfeito juízo acredita que um homem que pede para morrer, que assume a morte como última esperança de dignidade da sua vida se iria apaixonar, construindo ilusões típicas de adolescentes? Ainda acredito que o amor transcende, mas até para a transcendência é preciso dispunibilidade e aquele homem pedindo a morte, não me parece que a tivesse. É inverosímil, para não dizer moralmente repugnante e esteticamente condenável. E para ver paisagens e senhores a voar da cama vejo o peter pan.
Já me ia esquecendo a cena da eutanásia é de rir para não chorar. Então vou matar o meu amigo, (sim porque sou a favor mas tenho noção que é a morte que é provocada)e convoco uma reuniãozinha, uma espécie de festa e faço um filmezinho para mais tarde recordar. Péssimo sem hesitações.
Desculpa mafalda, mas estou habituado a mais espírito crítico. Sabes que não é nada pessoal, mas também levo o cinema, como tu, a sério e este filme foi, para mim, um insulto.
Bruno Henriques

Anónimo disse...

Caro Bruno Henriques:

Respeito a tua opinião, mas discordo totalmente do que disseste! Estás a efectuar uma análise do filme de um ponto de vista única e exclusivamente racional. Mas, a Razão tem limites! E neste caso específico tem muitos, uma vez que, e peço desculpa por ser tão directo, acho que não percebeste nada do que foste ver! A Razão ordena, organiza, classifica e desta maneira dá-nos segurança. Mas ela é fria demais para conhecer a verdadeira realidade: aquela que se esconde para além da máscara que as pessoas usam para viver em sociedade; aquela "dor não dita", como diriam os românticos, que se esconde por detrás de um sorriso. Ora, foi essa realidade que tu não captaste pois não te deixaste levar pelo filme e sentir dentro de ti a dor e o sofrimento de Barden e o desespero que ele sentia em não poder "voar" pela janela fora em direcção à Vida, ao Prazer, à vontade de Viver! Não entendeste também que os seus amigos estivessem a celebrar a sua morte, a sua passagem para um lugar onde ele pudesse sentir a verdadeira paz interior. Não percebeste que eles o fizeram por amor, somente por amor! Em suma, não percebeste o verdadeiro significado e sentido do filme pois não seguiste a máxima de Chateaubriand: "O Homem conhece a realidade porque sente"
Por último, não percebeste o filme por que analisaste Barden partindo do ponto de vista das tuas próprias convicções, do teu próprio quadro mental, da tua própria concepção de realidade.
Espero que não fiques ofendido com estas palavras, mas achei que tinha de responder pois o filme é um dos melhores que já vi!

Nuno Alegria

Mafalda Azevedo disse...

Olá Bruno!

Dás-me uma alegria muito grande ao apareceres e ao participares no Mise en Abyme. Gostava que ficasse esclarecido que nunca foi minha intenção homenagear sem sentido crítico.
Não considero Mar Adentro uma obra-prima mas sou da opinião que é um filme com mais pontos positivos do que aqueles que referiste. Quanto ao valor do protagonista e dos restantes actores, não sobram dúvidas. O problema reside naquilo a que chamaste "insulto"... Ora muito bem! Insulto porquê?
Quando escreves "personagens planas sem qualquer tipo de alteração relevante e esperada perante uma situação limite como a eutanásia, a morte" apetece-me relembrar-te a família de Maggie Fitzgerald em Million Dollar Baby (filme que, tal como eu, admiras). Onde está a profundidade de tais personagens? E, no entanto, não hesitaste em considerá-lo um filme fantástico... Pelo contrário, Mar Adentro possui um leque de personagens realmente interessante. Concordo com os teus argumentos contra a advogada (por alguma razão não a mencionei no meu texto). Acho mesmo que o realizador cai num erro profundo ao concebê-la vítima de uma doença degenerativa. Por oposição, no que toca aos outros personagens (com destaque para o sobrinho), como podes dizer que são planas? Planas onde? Verdadeiramente humanas, contraditórias e capazes de actos de amor. Onde é que isto pode ser insultuoso?
Para terminar, queria ainda acrescentar que não acredito que não tenhas sido tocado por nenhuma cena... Esquece lá as habilidades de voador e o engolir do veneno e lembra-te da cena em que o protagonista sorri para o sobrinho e diz qualquer coisa como "Dentro de muitos anos, vais arrepender-te amargamente de alguma vez teres dito isso."
Um enorme beijinho e aparece mais vezes, Mafalda.
P.S. Confrontos de lado, teremos sempre o nosso Opening Night. :)

Anónimo disse...

Olá Mafalda. Em primeiro lugar, quero deixar claro, claríssimo, que não quis ofender ninguém, muito menos tu.
Quando falo em insulto, é, somente, estético.
Nunca pus, ou quis pôr, o teu sentido crítico em jogo, longe de mim, se o fiz desculpa, foi sem intenção, porém, surpreendeu-me na crítica que não fosses mais acutilante como costumas ser, afinal, quando preciso de falar de cinema recorro a ti.
A arte é, principalmente, forma. nUma carta de amor ao teu namorado escreves realidades de uma verdade humana comparável certamente às de qualquer grande escritor, mas o mais provável é que não tenham valor literário, exactamente por isso, pela forma, que não será má, mas não é literária, não se inscreve numa tradicão formal, ainda que plural. E Mar Adentro falha na forma. É desformado.
Claro que me emocionei na cena a que te referes, porra (permite-me), se não me tivesse emocionado, seria de pedra e cal,contudo, diz-me de que vale a beleza ou o sublime suterrados em fealdade e mediocridade, transformam? não me parece, muito pelo contrário, tornam-se grotescos.
Por exemplo, no filme do Kusturika, A Vida é um Milagre,há uma cena, a da cama a voar tipo Harry Potter, que é despropositada, mas o filme sendo bom na sua generalidade consegue suportar essa fraqueza, sem desabar.
Comparares Maggie Fitzgerald com qualquer personagem de Mar Adentro é perigoso, principlmente, para ti, porque densidade psicológica não é apresentar mudanças radicais e epistemológicas perante tudo e todos ou até diante da vida, mas, sim, dar conta de movimento interno de transformação no sentido de se tornar visível, ou melhor, sensível ao espectador o afloramento de uma individualidade expressamente marcada, mesmo que o seja pela imitação de outros. Muito complicado? Se fui diz. Maggie Fitzgerald e qualquer personagem de Mar adentro é algo incomparável, já que são criações de natureza ôntica distinta. E não comparo Barden com Swank, porque aí acho que Barden ganha e tu sabes o quanto gosto dela.
Já agora respondo ao Nuno.
Ofender-me Nuno?, não, de maneira nenhuma. Estamos cá para discutir construtivamente, desculpa-me que sou um bocado bruto, às vezes, a intenção não é, de todo, ofender.
Mas, em relação ao filme já expliquei muito da minha posição na resposta que dei à Mafalda, todavia, tenho de te dizer que ninguém provoca a morte a um amigo por amor, é-se condescendente com ela, ainda que sejamos os seus agentes. E deixa-me lembrar-te que Santo Anselmo disse que "nada há no intelecto que não venha pelos sentidos", com isto quero que percebas que vejo tudo, em primeiro lugar, se é separável?, com o coração ( não gosto do termo, mas vá) e só depois com a razão. O problema do filme é que para os meus, notem bem, os meus, o filme é repugnate e insultuoso pela sua fraqueza estética e ética, não conseguindo depois passar no exame crítico racional. Não tem sido um ano genial, mas lembro-te que já tivemos Million Dollar Baby, Vera Drake, Tarnation, o filme do Steve Zissou, o Saraband, entre outros menos excelentes.
Mafalda nós teremos sempre o Opening Night, O Almodovar, O OLiveira (mais meu), o Bergman (mais teu) e a nossa amizade.
Quanto ao blog tenho de concordar com o caríssimo João Dias, e com isto termino, "Acho que este blog deve ser uma referência para qualquer amante da arte cinematográfica em Portugal!! Continua Mafalda e boa sorte!! "
Bruno Henriques.

Mafalda Azevedo disse...

Olá Bruno!
Atenção! Nunca comparei a Maggie Fitzgerald com nada do Mar Adentro. Comparei sim a família dela com a família do protagonista espanhol. E aí, parece-me claramente que a primeira não tem profundidade nenhuma...
Independentemente da minha opinião, agrada-me mesmo muito que Mar Adentro tenha suscitado tantas opiniões!
Um beijinho, Mafalda.

Luís Froes disse...

não vi o filme, mas gostava de dizer que um filme que faz do homem a medida única da realidade é falso. um filme é bom se é realista, se introduz ao real. ora, um filme que dá ao homem a última palavra sobre o seu destino, que o faz protagonista único da sua história, é um filme mentiroso. o homem não está sozinho. o impossível aconteceu. Deus fez-se carne e companhia para a história dos homens. e esse facto, esse facto incontornável, que a razão reconhece e que se vive na carne, que é como que um prémio conferido ao coração expectante do homem, permite afirmar uma positivade última do destino e, mesmo diante da doença e da adversidade, poder dizer "eu sou feliz."

Anónimo disse...

isto ele há com cada um... o impossível aconteceu efectivamente. descobri um blog onde a única pessoa que não escreve com chavões intelectualizantes é a Mafalda Azevedo (bons textos, por sinal - bem escritos, escorreitos, incisivos, melodiosos). ouve lá ó froys, meu betinho beato, não te ensinaram lá na catequese que blasfemar é pecado? "Deus fez-se carne e companhia para a história dos homens" - estar-te-ás a passar?? "um prémio conferido ao coração expectante do homem"... isto é tão mau!! "positivade última do destino"... MANCA-TE! não sabes escrever em português?

Anónimo disse...

amiga teresa seguro (nome giro). Eu tb sou católico, tb axo k o sr do mar adentro é um coitadinho e não sou por isso beato. portanto vai chamar isso a tua tia. s'bem óh dread ('betinho'? andas a ver morangos com açucar a+).
Se não sabes ler eu explico: "Deus fez-se carne e companhia para a história dos homens" quer dzr k houve um homem que se afirmou Deus (Jesus Cristo) e é isso o cristianismo, Deus feito homem. "um prémio conferido ao coração expectante do homem" na medida em que este facto é a resposta para o coraçao do homem. Já deves ter pensado sobre o sentido da vida etc.(não é giro ver que tda a gente tb pergunta o msm? essa coisa do sentido da vida) .
"positivade última do destino" se cristo é a resposta para a vida, vive.se com um sentido, msm com tds as adverticidades da vida. (adverticidades lmbra.me uma musica rap mas enfim). E ja que estamos num blog intelectual com fundo preto e td pk nao dizer isto com um texto bonito? se a menina nao percebeu o texto e mlhr é nao escrever comentarios como esse. (tb sei escrever com arrongancia toma toma)

Anónimo disse...

*adversidades

Anónimo disse...

Caro defensor (?) do Luís Froes:

Dispenso lições básicas de catolicismo, principalmente quando vêm de um tipo maniqueísta como tu pareces ser.

Uma coisa é ter fé em Deus, outra bem distinta é o pensamento independente aliado ao livre arbítrio.

Poupa-nos ao teu discurso paternalista ("o sr do mar adentro é um coitadinho"... pffff) e aproveita o facto de estares a escrever num blog dito intelectual para não dares erros ortográficos.

Bernardo Eça disse...

Com tanta cultura e tão limitada (não de inteligência, mas de horizonte se é que me faço entender (adoro esta expressão) (usei um parêntesis dentro de outro, domino isto da escrita. Ou não.)(isto parece matemática)). Não faço puto de ideia do que seja maniqueísta, deve ser uma ceita qualquer (pronto fui ver ao dicionário). De qualquer das maneiras já disse que sou católico.
"Uma coisa é ter fé em Deus, outra bem distinta é o pensamento independente aliado ao livre arbítrio. " onde é que isto já vai...não sei quem é que anda a fazer lavagens ao cérebro para manipular o pensamento de alguém ou a hipnotizar...o mlhr é seres tu a dizer-me. Ng está aqui a dzr k não é possível matar-se ou matar por suposta compaixão... vela tu que eu até posso ir para a rua dar chutos em rotweilers(como se escreve msm a raça do cão?), mas se calhar era um bocado parvo.
Eu quando faço alguma coisa é sempre para um bem. Quase sempre ou mesmo sempre é para o meu bem, msm que seja mau ou errado ou nao sei k. É para um bem. O mal que faço provem do bem, knd faço merda a quem quer que seja ou msm a mim essa acção nasceu num bem. Quando ando a porrada com o meu irmão e o puto e ele fica a chorar era para o meu bem, era para me divertir).Como acho, por fé a deus (nao vou repetir o que o luis froes escreveu) que matar ou matar-me não e para bem nenhum nao o faço. enfim, se calhar sou eu o limitado, matar-me não está no meu leque de opções, que chatice.
(gostava de flr disto sem provocações que roçam mt a arrogância, enfim na minha pca experiencia ainda respondo mt a picansos)