Poucos rostos foram tão marcantes dentro e fora de Hollywood como o de Ingrid Bergman. E este não radiava apenas beleza no ecrã, mas sim algo que sempre se manteve colado ao seu percurso cinematográfico e, quem sabe, à sua própria vida - o sofrimento.
Esse rosto único apelava ao seu papel de "vítima", como escreve João Bénard da Costa, em tantos filmes de realizadores-mestres dos estúdios norte-americanos, como ao seu público, masculino e feminino, todos testemunhas de compaixão das suas maravilhosas actuações. É Ingrid Bergman que sofre de amor e de mentira em Notorious, do seu passado e do futuro em Casablanca, que permanece desesperadamente fiel e doente em Under Capricorn, que surge como sacrificada no sonho de Dalí em Spellbound, imóvel como uma estátua e com uma seta no pescoço, desfazendo-se e desintegrando-se em bandos de formigas, que abandona Hollywood para se entregar a Rossellini, e sofrendo pela humanidade nos vulcões de Stromboli, em Europa 51, ou em Viaggio in Italia, obras-primas do seu segundo marido, por quem "traíu" a América e se encontrou na mesma arte.
Afinal, será que chegamos a conhecer Ingrid Bergman, a compreender todo o significado do seu olhar, da sua beleza, da sua tristeza, da sua verdade? A ela devemos toda a dimensão por onde o seu olhar prolongou o cinema, a(s) história(s), todo um sacrifício presente em cada obra. Sem dúvida, um cinema mais rico, e um dom único, por cada um dos planos por onde sentimos as passagens melancólias entre cada fotograma, num olhar para sempre intenso e verdadeiro.
1 comentário:
caro f.
duas linhas apenas para dizer que partilho inteiramente contigo da admiraçao por ingrid bergman. não é só abeleza que irradiava e ainda irradia nos seus filmes , seja do peiodo americano ou italiano. é o temperamento dramático que possuía e de que sempre deu prova . até ao fim. e para quem tiver duvidas recomenda-se que (re)veja a "sonata de outono" do ingmar bergman e em que já bastante doente contracena com liv ulmann.
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