30 maio 2005

Olhos abertos, ouvidos atentos

Oh how many arms have held you
And hated to let you go
How many, oh how many, I wonder
But I really don't want, I don't wanna know

Oh how many lips have kissed you
And set, set your soul aglow, yes they did
How many, oh how many, I wonder, yes I do
But I really don't want to know

So always make, make me wonder
And always make, make me guess
And even, you know even if I ask you
Oh
darling oh don't you, don't confess

Just let it, let it remain your secret
Oh for
darling, darling I love you so
No wonder, yeah no wonder, I wonder
Mmm, 'cause I really don't want, I don't wanna know

John Travolta canta I Really Don't Want to Know para Gabriel Macht e Scarlett Johansson

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá Mafalda,
Já fui ver este filme há mais de uma semana e fiquei de vir aqui opinar sobre ele. Demorei, eu sei, porém, não foi fácil assentar ideias.
Aquilo que te disse que era um filme que se percebia mais com/pela pele do que pela cabeça está, cada vez mais, a revelar-se-me assim.
Acho, hoje, que o filme trata a dor da morte e a perda que esta, necessariamente, implica. Há a morte do filho do Travolta e a culpa subsequente, castigo que o coloca a ele e ao seu amigo numa situação penitencial de quasi-morte permanente. Há também a morte da mãe de Scarlett (absolutamente fantástica)que parece tornar uma outra morte?, o desconhecimento do pai da personagem de Scarlett, ainda mais dolorosa para a jovem rapariga que se sente assim perdida, desalicerçada, ao ponto de, teimar em ficar na casa de sua mãe, com a qual não tinha uma relção fácil, numa tentativa de recuperar o seu passado através da reconstrução da história da mãe, pelos testemunhos dos muitos que a conheceram, nomeadamente Travolta, o seu amigo (não me lembro do nome), sem esquecer todas as outras personagens impregnadas de uma espécie de viver muito sulista, quase ficcional.
A memória torna-se tão importante para o filme que a citação literária não pára de aparecer,como que lembrando a necessidade de perdurar além morte. Travolta, Bobby Long, brilhante professor de inglês acaba por coagir o seu amigo/ discípulo a expiar a culpa/ a existência, cada vez mais arruinada pelo álcool e pela doença, na escrita. A Love Song for Bobby Long, título do livro do amigo de Travolta, acaba por ser um hino/ um epitáfio/ uma mémória que irá fazer viver aquele que em vida, tarde descobriu a possibilidae de ultrapassar a culpa, o remorso e a auto comiseração, ainda que disfarçadas sobre uma capa de aparente hedonismo/ estoicismo, através do amor, paternal a Scarlett. É como se ganhando uma filha, quando já não o espereva, pudesse aguentar o peso da morte de um dos seus filhos e o afastamento dos outros.
A memória, neste filme, como em todo sempre, aliás, luta contra a morte, contra o silêncio que esta parece impor sobre tudo o que colhe. A Love Song for Bobby Long canta a importância do percurso, das raízes, da memória como materiais mais preciosos e vitais para a construção de uma identidade e, por consegunte, de um percurso individual.
Bruno Henriques