Em The Quiet Man de John Ford, talvez o seu filme mais erótico (e por vezes deliciosamente perverso), onde a história de amor, sempre presente nos seus filmes, parece passar para primeiro plano, John Wayne e Maureen O'Hara reúnem-se para um dos momentos mais belos do Cinema, o do seu primeiro beijo, entre os dois, e o da nossa ilusão. Wayne berra e quebra a janela atirando uma pedra, as que ele diz estarem enterradas em cada sítio da Irlanda, mas isso não parece chegar para a primeira explosão deste filme, que nos introduz verdadeiramente em toda a sua força e agitação. O'Hara corre, mas Wayne, tal como força da natureza que é, trá-la de volta, não a deixando escapar por um só momento (porque a "miragem", tal como a do nosso cinema, é bem real), confundindo-se com o próprio vento que os parece unir, mais do que separar. Aqui eles exprimem tudo o que sentem um pelo outro, quase sem o ter feito por palavras - tudo o que o cinema deveria ser. Aqui, este é sentimento numa das suas formas mais intensas, e Ford captura-o como ninguém, num enquadramento perfeitamente característico do seu génio. E somos assim arrastados até ao final da sua excelente obra, envoltos em toda a riqueza física dos seus planos, e do seu conteúdo. "O mais belo beijo da história do cinema", escreve Bénard da Costa, explosão de desejo e momento de verdade. Se apenas todos os filmes tivessem um momento assim.
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