29 setembro 2005

Proposta de discussão - IX


" Em tempos de tantos divertimentos medíocres (que confundem a diversão com a desvalorização de todas as formas de inteligência), descobrir um filme como She Hate Me / Ela Odeia-me é um acontecimento feliz. Que é como quem diz: uma comédia pura e dura, sem medo de experimentar os limites do absurdo — esta é a história de um homem (Anthony Mackie) que se transforma em dador "oficial" de esperma para 18 lésbicas candidatas à maternidade... —, comédia em que o humor funciona como delicado bisturi para a desmontagem das relações sociais e afectivas numa América com a sua mitologia nacional em crise e, por isso mesmo, carente de valores seguros. Nesta perspectiva, e para além das muitas diferenças temáticas e narrativas, este é um filme completamente cúmplice do admirável A Última Hora (2002), um dos primeiros títulos a reflectir sobre a América pós-11 de Setembro e também um dos momentos mais altos da filmografia de Spike Lee.
Spike Lee é um verdadeiro cineasta do desejo, ou melhor, da diferença nunca estabilizada entre aquilo que cada personagem vê noutra e o que a segunda espera da primeira. Claro que, desde títulos como She’s Gotta Have It (1986) ou Do the Right Thing (1989), a sua visão está indissociavelmente ligada às tensões entre negros e brancos na sociedade americana. Mas seria redutor considerá-lo um cronista de temáticas "raciais". O que ele filma é sempre, em última instância, a imensa pluralidade do factor humano e todos os "excessos" que o fazem sair das normas politicamente (ou racialmente) correctas. Daí também que Spike Lee seja um dos mais ousados experimentadores do actual cinema americano. Nesse aspecto, Ela Odeia-me é um fulgurante exercício formal: começa como drama social, transfigura-se em comédia de costumes e desemboca na imponência de uma parábola sobre o presente crítico da própria nação americana. "
Escrito por João Lopes
Será que concordam?

27 setembro 2005

Estreia aguardada


" Passaram 193 dias desde que Alice foi vista pela última vez. Todos os dias Mário, o seu pai, sai de casa e repete o mesmo percurso que fez no dia em que Alice desapareceu. A obsessão de a encontrar leva-o a instalar uma série de câmaras de vídeo que registam o movimento das ruas. No meio de todos aqueles rostos, daquela multidão anónima, Mário procura uma pista, uma ajuda, um sinal... A dor brutal causada pela ausência de Alice transformou Mário numa pessoa diferente mas essa procura obstinada e trágica é talvez a única forma que ele tem para continuar a acreditar que um dia Alice vai aparecer. "
Premiada em Cannes, Alice, primeira longa-metragem de Marco Martins, estreia nas nossas salas no dia 6 de Outubro. Deixo-vos com a sinopse do argumento e com o convite para visitarem o site. Lembrem-se de que o elenco possui nomes como o de Beatriz Batarda e de que a música pertence a Bernardo Sassetti.
Vão ver e encontramo-nos por cá!

26 setembro 2005

Homenagem à beleza etérea - III



Jacqueline Bisset em La nuit américaine de François Truffaut

23 setembro 2005

Ciclo Jacques Tourneur



Auditório da Biblioteca Museu República e Resistência
Sessões gratuitas

28 de Setembro / 18h30m - Days of Glory

06 de Outubro / 18h30m - Out of the Past

12 de Outubro / 18h30m - Easy Living

19 de Outubro / 18h30m - Experiment Perilous

26 de Outubro / 18h30m - Berlin Express

O Auditório da Biblioteca Museu República e Resistência situa-se na Rua Alberto de Sousa, relativamente perto da estação de Metro Entrecampos. Este espaço cultural possui uma biblioteca repleta de bibliografia sobre a Primeira República, o Estado Novo, a oposição ao Regime, o 25 de Abril, a Guerra Colonial e a Descolonização Portuguesa. A par disto, o Auditório da Biblioteca Museu República e Resistência oferece ainda a oportunidade de usufruir de um Cine Clube cuja sala apresenta condições superiores a muitas outras que organizam ciclos de cinema.
Nos próximos dias, deliciem-se com o festim cinéfilo composto por películas de Jacques Tourneur. (Se me permitem o conselho, não percam Out of the Past, com Robert Mitchum e Kirk Douglas nos meandros do film noir... Inesquecível!)

12 setembro 2005

Resposta a Luís Miguel Oliveira

Luís Miguel Oliveira, crítico habitual do suplemento Y, escreveu a seguinte afirmação sobre o filme Os Psico-Detectives: O argumento não saiu das mãos de Charlie Kaufman mas podia muito bem ter saído.
Permita-me que lhe responda: não, nunca poderia ter saído das mãos de Charlie Kaufman. E porquê? Em primeiro lugar, convém que não caiamos no erro de confundir um disparate pegado (como a suposta comédia existencial Os Psico-Detectives) com uma obra séria que consegue manipular o absurdo ao ponto de o tornar convincente (e aqui, estou a referir-me aos argumentos escritos por Charlie Kaufman que tornaram possível a existência de grandes filmes como Being John Malkovich, Human Nature, Adaptation e Eternal Sunshine of the Spotless Mind).
Em segundo lugar, as histórias de Charlie Kaufman são objectos únicos no cinema. Se alguém conhecer algum argumentista que tenha arrojado tanto no que toca à concepção cénica e à organização temporal, avise-me por favor. Já Os Psico-Detectives, tradução lamentável de I Heart Huckabees, assemelha-se a muitas coisas mas nunca consegue ser nada. Assim que conhecemos a personagem principal, Albert Markovski, passa-nos pela ideia que poderíamos estar a ver uma película de Woody Allen. Momentos depois, quando observamos o par de detectives existencialistas e todas as suas técnicas bizarras, temos reminiscências do universo de Kaufman. Em ambos os casos, demoramos pouco tempo a esquecer tais sensações. Woody Allen e Charlie Kaufman nunca perderiam o controlo de uma história, tal como o Craig Schwartz de Being John Malkovich nunca perdia o controlo das suas marionetas.
Em Os Psico-Detectives, o realizador e argumentista David O. Russell vai acumulando informação e quando não sabe o que fazer com ela, impele as personagens a explodirem em ataques de histeria: Jude Law a chorar baba e ranho, Naomi Watts a ter atitudes de adolescente e Mark Wahlberg transformado num bombeiro com comportamentos próprios de um autista. Nada se resolve, nada se completa. A desculpa de se fazer um filme sobre coincidências não pode justificar tudo. Mais do que isso, nunca poderá chegar para confundir Os Psico-Detectives com um argumento de Charlie Kaufman. Depois de o filme acabar, só resta a memória de ter visto Isabelle Huppert e Dustin Hoffman, cujas enormes capacidades não são propriamente uma novidade.

08 setembro 2005

Cinema cantado

De uma relação íntima entre a música, o cinema e a poesia, nasceu o projecto Noiserv encabeçado por David Santos, 23 anos. Canções escritas por um eu sonhador que não abdica das suas vivências e dos seus objectivos profissionais.
" Nas alturas em que ensaio ou escrevo letras, apercebo-me de que a banda sonora exerce um papel fundamental nos filmes. Por vezes, uma música tem mais impacto do que um diálogo. Quando penso nisto, lembro-me de que um filme como Lost in Translation ganha uma simbologia única na medida em que tem uma banda sonora perfeita. Para dar outro exemplo, posso referir o recente Os Edukadores, em que a cena mais marcante é aquela em que ouvimos unicamente Jeff Buckley. Quando toco, tento transmitir o "meu cinema" às pessoas que me ouvem. "
Excerto de uma conversa com David Santos

06 setembro 2005

Homenagem à beleza etérea - II



Claudia Cardinale em de Federico Fellini

02 setembro 2005

Proposta de discussão - VIII


Gena Rowlands


Kim Novak


Liv Ullmann

Caros visitantes,

Não resisti à proposta de conversarmos sobre as melhores actrizes de sempre. No que diz respeito à actualidade, já conhecem as minhas escolhas desde a altura em que discutimos sobre louras e morenas.

Quanto ao novo tema, talvez estranhem o número escasso das minhas eleitas. De cada vez que penso no assunto proposto, mais me apercebo de como estas mulheres possuem momentos superiores a tantas carreiras de outras actrizes conceituadas.

Será que concordam?