11 fevereiro 2009

Slumdog Millionaire – o burburinho do momento

Freida Pinto
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Em relação ao novo filme de Danny Boyle, ainda não consegui decidir qual das frentes desta guerra me deixa mais estupefacta.
Se aqueles que o glorificam, ao ponto de “ameaçarem” a Academia de Hollywood e de o considerarem uma “chapada na cara”; ou se aqueles que o desprezam de tal forma que o encaram como “um filme descartável e indigente” e lhe dão a pontuação mínima num jornal de referência. Palavra que não me consigo decidir.
Por um lado, e peço desculpa aos admiradores mais fervorosos, não há ali nada que me pareça digno de veneração. Temos uma Índia filmada por um inglês com tiques de imperialista, uma panóplia de actores adultos a precisar de aulas de interpretação, uma montagem atabalhoada e um casal romântico que não solta uma única faísca.
Por outro lado, e que me perdoem os contestatários, também não me pareceu que estivéssemos na presença de um objecto tão hediondo que mereça tamanha aversão. Aliás, para além da beleza indiscutível de Freida Pinto e da presença do nosso querido Irrfan Khan, saboreei a oportunidade de ser testemunha de um autêntico fenómeno sociológico que, na linha do actual Yes, we can, enche os espectadores de fé e de confiança em si mesmos.
Em suma, Slumdog Millionaire consegue partir de uma interessante premissa argumentativa, a utilização das respostas de um concurso de televisão como veículo para contar a vida do protagonista, e acabar por ser um filme com deslizes de gosto e de desempenho. Como tal, está longe de ser a obra-prima de alguns, mas também está a milhas de ser o falhanço que muitos criticam.

7 comentários:

Anónimo disse...

Concordo em absoluto com a última frase.
Estarão muitos intelectuais prontos para descascar neste filme e fazer milhentos elogios ao "Revolutionary Road".
Eu serei dos poucos,calculo,a votar a favor.
Vive la difference...
Fica ainda uma palavrinha para o excelente "Caos Calmo" e o imperdível "Bem vindo ao Norte".

Anónimo disse...

Concordo com quase tudo o que foi dito, mas, sem achar que o filme seja um obra-prima, a minha balanca pende mais para o lado dos que o glorificam.

Como ponto de partida do filme, temos 3 criancas orfas num contexto de pobreza extrema em que a unica maneira de escaparem ao destino que lhes esta tracado e' sonharem e aventurarem-se pelo desconhecido. As aventuras dos 3 mosqueteiros fazem-nos lembrar Stand by me, so' que em vez de uma pequena cidade da classe media Americana, estas aventuras têm lugar numa India profunda a passar por grandes transformacoes economicas e sociais, mas em que as mais basicas necessidades das populacoes nao sao satisfeitas.

O sonho, como motor por tras da forca para viver, apesar de a vida nao apresentar nenhuma razao para ter tal vontade, fez-me lembrar, em alguns momentos, Cinema Paraiso, sem querer obviamente comparar, esse sim uma obra-prima.

A banda sonora enquadra-se na perfeicao no ambiente e ritmo do filme... para quem nunca teve contacto com a realidade cultural, social e economica da regiao, o filme tambem tem o merito de mostrar ao mundo uma realidade diferente... especialmente importante em tempo de crise e' ver a quantos anos luz estao as condicoes de vida nos paises nao desenvolvidos, mesmo aqueles que estao em rapido desenvolvimento como os BRICs. Numa altura em que o comunismo e a intervencao estatal parecem renascer das cinzas, convem nao esquecer qual e' a realidade nos paises onde o estado e a forca colectiva se sobrepoem 'as liberdades dos individuos. Por ultimo, nova referencia aos tiques imperialistas do realizador ingles que tenta, indirectamente, passar uma mensagem aos indianos de que eles nao conseguem governar o proprio pais... provavelmente nos tempos dos ingleses nao seria assim, diria ele. Uma mensagem na linha de "o que este pais precisa e' de um Salazar..." e' triste mas este saudosismo ainda existe em muitos paises, especialmente em Inglaterra. E a pequena e subtil farpa que o realizador lanca aos americanos, primeiro na atitude lets save the world de impedir que Jamal seja agredido e depois resolvendo o problema dando-lhe a nota de 100 USD...

Mafalda Azevedo disse...

Boa noite a ambos e obrigada pelos comentários. Vamos por partes.

1- Ainda não vi os filmes "Revolutionary Road" e "Caos Calmo". Sorry...

2- Infelizmente, e por minha culpa, a imagem daquelas crianças esfomeadas não me comoveu por aí além. Cresci a ver imagens de crianças com fome, com moscas na boca, barrigas disformes e ossos à mostra. Todos os dias, a todas as horas, somos invadidos por esse tipo de imagens através dos noticiários. E isso, em vez de contribuir para a "sensibilização dos privilegiados", acaba, lamentavelmente, por contribuir para a "indiferença dos privilegiados".
Dito isto, dei mais valor ao sonho da criança fascinada pelo cinema do que à luta destas personagens.

3- Creio que o filme vai perdendo interesse à medida que se aproxima do fim. As primeiras imagens, de um jovem a ser torturado pela polícia, são de uma força enorme. Mais tarde, a cena da mutilação volta a ser perturbadora.
Contudo, as sequências seguintes são feitas de reencontros óbvios e lamechas entre dois jovens. O filme perde ritmo, torna-se repetitivo e perde originalidade.

aframboesa disse...

acabei de o ver. . . e posso dizer que há uns quantos filmes semelhantes e que seguem a mesma lógica. . . neste sentido, não me trouxe nada de interessante! e aquele final. . . my dear god. . . how predictable!
mas bom. . . é apenas a minha vulgar e vaga opinião.
segue-se o the reader!!

bisou *

Anita disse...

Eu gostei bastante:) É o típico "feel-good" movie e tem uma premissa bastante original!!Contudo não acho que seja uma obra-prima...é um trabalho magnífico do DB mas, na minha opinião não merece o Oscar. Vamos ver o que considera a Academia ;)

Mafalda Azevedo disse...

Olá a todos!

Acabo de ir ver o Revolutionary Road e não gostei. Demasiado previsível, com muitos clichés à mistura. Os actores são fantásticos, mas isso não chega.
Confesso que, apesar de alguns momentos intensos, saí bastante irritada da sala de cinema.

Até breve!

Anónimo disse...

Começando pela premissa principal: adorei o filme "Slumdog Millionaire"!! Relata a realidade de um país pobre, marcado por um regime imperialista, choca-nos com a violência de algumas imagens (tortura, miséria, tráfico de droga, mutilação, exploração infantil, etc.) já vistas anteriormente, fala-nos de um grande amor (embora admito que não transpira paixão entre o casal romântico) como tantos outros filmes, a representação não é nada do outro mundo... Mas é um filme de esperança e optimismo numa época em que vamos ao cinema e até os filmes são todos tristes ("A troca", "The wrestler", "Revolutionary road"), em que acendemos a TV e vemos crise, tragédia e medo em todo o lado, mesma coisa nos jornais e conversas de café... Para além disso, o filme tem uma banda sonora fenomenal, uma imagem espectacular, uma sequência de acontecimentos bem montada, um formato original (contar a história de amora tendo por base um concurso do nosso quotidiano é original) e não acredito que alguém se tenha sentido entedidado a ver o filme... Não sou cinéfilo, nem entendido em cinema, portanto para mim o cinema é entretenimento e este filme é puro entretenimento e dos bons!!! Saí bem disposto da sala de cinema... finalmente!!! Só por isso merece o Óscar deste ano! Façam mais destes!!!