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John Patrick Shanley, nova-iorquino nascido em 1950, tem trabalhado enquanto dramaturgo, argumentista e até realizador. Autor da peça Dúvida, galardoada com um Pulitzer, texto perverso e traiçoeiro que tive a oportunidade de ler através de um pequeno volume, publicado na colecção de livros de teatro do Maria Matos, John Patrick Shanley foi representado nesse mesmo palco por Diogo Infante e Eunice Muñoz. Agora, passados menos de dois anos, Dúvida chega ao cinema, realizado pelo proprio Shanley e interpretado por Meryl Streep e Philip Seymour Hoffman.
Texto, peça e filme poderiam ter saído da cabeça de um Mestre como Alfred Hitchcock. É prestar atenção às palavras do Padre Flynn (I can't say everything. Do you understand? There are things I can't say. Even if you can't imagine the explanation, Sister, remember that there are circumstances beyond your knowledge. Even if you feel certainty, it is an emotion and not a fact.) e a nossa memória começa a recordar um certo drama interior, protagonizado por Montgomery Clift e Anne Baxter, algures na década de cinquenta, e de nome I Confess. Nessa altura, os críticos dos Cahiers referiam a predominância da "transferência da culpa" nos filmes de Hitchcock. Em I Confess, um padre é culpado de um crime que não cometeu e, devido ao respeito pelo segredo da confissão, nada pode fazer para se defender.
Em Dúvida, não chegamos a ter a certeza de que o Padre Flynn seja vítima de um processo de "transferência da culpa". Na verdade, não chegamos a ter a certeza de nada. E isso, por si só, merece definitivamente uma ida ao cinema.
Nós, aqui no Mise en Abyme, ficaremos a torcer para que John Patrick Shanley levante a estatueta dedicada ao melhor argumento adaptado. (E, já agora, esperemos que Sean Penn leve a melhor na luta pelo Óscar de melhor actor... Mas isso é conversa para outro post.)
6 comentários:
o filme é belíssimo.
shanley e streep mereciam umas estatuetas.
e sean penn no milk foi simplesmente fantástico! fiquei bastante surpresa por vê-lo representar um activista gay mas caramba, o senhor arrasou tudo e todos com a performance!
bisou *
Tudo e todos, mesmo! Fiquei de cara à banda com o desempenho do Sean Penn. Na minha opinião, bate aos pontos qualquer outro trabalho dele. (Mystic River, I Am Sam e mesmo The Assassination of Richard Nixon incluídos.)
este é para não perder no fds!!!Quanto ao Sean Penn não podia concordar mais!!Excelente desempenhoe mesmo ainda faltando ver o Mickey no The Wrestler , o Penn é já o meu preferido:)
Para a Frambú e para a Anita:
"Dezoito anos depois do primeiro projecto, Milk ficou pronto e chegou às salas portuguesas.
Oliver Stone desistiu, mas Gus Van Sant não. As recusas de Kevin Spacey, Robin Williams, James Woods, Daniel Day-Lewis, Richard Gere, Brad Pitt e Matt Damon (os dois últimos para o papel de Dan White) não o desmoralizaram. Sean Penn e Josh Brolin aceitaram ser Harvey Milk e Dan White. O filme está nomeado para 40 prémios, entre eles oito óscares: melhor filme, actor principal, actor secundário, direcção, argumento (Dustin Lance Black), edição, música, guarda-roupa."
Informação retirada daqui:
http://daliteratura.blogspot.com/2009/02/milk.html
(Aguardo comentários!)
Sinceramente, fico feliz pela desitência do Oliver Stone...esta fita pedia um estilo de realização mais sensível e acho que o Van Sant foi o homem ideal para o trabalho!!
Quanto à recusa de todos esses nomes, sinceramente o Penn fez um trabalho tão perfeito que simplesmente não consigo imaginar outra pessoa no seu lugar. Ele é Harvey Milk.
Quanto ao papel de Dan White, o Josh Brolin está bem mas, também via bem tanto o Damon como o Pitt no seu lugar. Aliás, de todo o (excelente)núcleo de secundários até acho que o Brolin era o que menos merecia a nomeação mas, mesmo assim a sua interpretação esteve à altura.
Uma excelente semana!!
concordo com a anita; o gus van sant foi o homem ideal para abraçar o projecto (sou um pouco suspeita, pois o gus é um dos meus mais que tudo mas caramba...não se deve questionar). não imagino nenhum brad pitt, richard gere ou outro qualquer a desempenhar tão bem quanto sean penn o papel do activista harvey milk.
venham de lá os prémios e as vitórias!
foi talvez o melhor filme/doc que vi nos últimos dois meses.
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