28 abril 2008

Crónica de uma desempregada

É difícil arranjar um rótulo para a minha situação aqui em Londres. Não sou propriamente uma turista e também não sou uma local (This is a local shop for local people. Are you local?). Aquilo que sei é que, por enquanto, sou uma estrangeira desempregada. E, como tal, faço vida de estrangeira desempregada: passeio e vejo dvd’s. Há algum tempo que não escrevo sobre filmes e hoje acordei com vontade de o fazer.

Em terceiro lugar, isto porque resolvi criar um pódio para as películas que ando a ver, colocarei a trilogia Jason Bourne. Três filmes que tentam responder a três questões existenciais: "quem sou eu?", "o que é que eu fiz?" e "de onde vim?". Filmes irrepreensíveis com um Matt Damon que não pára de me surpreender. Palavra. Qualquer dia, serei chicoteada em plena praça pública pelas monstruosidades que proferi sobre ele na altura de Good Will Hunting. Garanto que estou arrependida e espero que, neste caso, o arrependimento me livre do castigo.

Em segundo lugar, uma autêntica surpresa. Shattered Glass foi realizado em 2003 e conta-nos o começo de carreira verídico de Stephen Glass, jornalista e exímio contador de histórias, que escrevia para o The New Republic e inventava grande parte dos artigos publicados.
Resolvi dar-lhe uma oportunidade quando olhei para o elenco e vi o nome da Chloë Sevigny nas personagens principais. Confesso que não estou arrependida. Ainda por cima, Hayden Christensen surpreende no papel principal e consegue anular, por momentos, as suas prestações como Anakin Skywalker / Darth Vader.

E agora, em primeiríssimo lugar, um filme que já devia ter sido visto nos primeiros meses de 2006. Perdoa-me o atraso, sim? The Loneliness of the Long Distance Runner lembrou-me, quase minuto a minuto, o À bout de souffle. Claro que são filmes muito diferentes. Claro que não há nenhuma mulher em The Loneliness que se possa sequer comparar a Jean Seberg. No entanto, aqueles dois homens, Courtenay e Belmondo, completos anarquistas, filmados e montados com uma velocidade e uma brutalidade muito próprias da nouvelle vague, desejam o mesmo: vencer o sistema. E só um deles consegue.

23 abril 2008

Estado de espírito

Parapeitos - vida a dois

Dias com sol e com a temperatura certa ou dias cheios de chuva. Londres tem destas coisas. Nunca sabemos como vai acordar o dia. De uma forma ou de outra, é sempre um prazer sair à rua. Hoje terei de ser realmente veloz se ainda quero apanhar a última exposição da Royal Academy of Arts, mesmo aqui perto.
Digam o que disserem, Londres é sinónimo de qualidade de vida. E, já agora, também é sinónimo de uma variedade incrível de árvores e de pássaros.

16 abril 2008

Adeus Lisboa

Parava no café quando eu lá estava

Na voz tinha o talento dos pedintes

Entre um cigarro e outro lá cravava

a bica, ao melhor dos seus ouvintes

As mãos e o olhar da mesma cor

Cinzenta como a roupa que trazia

Um gesto que podia ser de amor

Sorria, e ao partir agradecia

São os loucos de Lisboa

Que nos fazem duvidar

A Terra gira ao contrário

E os rios nascem no mar

Um dia numa sala do quarteto

Passou um filme lá do hospital

Onde o esquecido filmado no gueto

Entrava como artista principal

Comprámos a entrada p'ra sessão

Pra ver tal personagem no écran

O rosto maltratado era a razão

De ele não aparecer pela manhã

Mudámos muita vez de calendário

Como o café mudou de freguesia

Deixámos de tributo a quem lá pára

Um louco a fazer-lhe companhia

É sempre a mesma pose o mesmo olhar

De quem não mede os dias que vagueiam

Sentado lá continua a cravar

Beijinhos às meninas que passeiam.

Loucos de Lisboa
Ala Dos Namorados
João Gil / João Monge

13 abril 2008

Pela noite fora


Sempre gostei de estudar e de trabalhar pela noite fora. Exactamente naquelas horas em que o comum dos mortais dorme profundamente e o telemóvel está mudo. Sem barulho, sem passos pela casa, sem vozes na rua. Nada.
Numa das últimas noites, aconteceu-me estar a trabalhar numa tarefa quase mecânica que me permitia ter a televisão ligada, como mera companhia. Durante as primeiras horas de trabalho, estive acompanhada pelo meu mais recente guilty pleasure, uma série sem grande qualidade, mas que me entretém quando preciso de ser entretida. Ainda por cima, no meio de um elenco sofrível, surgem dois grandes protagonistas: o James Woods e a Danielle Panabaker.
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Passados três episódios ininterruptos e o fecho da emissão, fui obrigada a mudar de canal e a enfrentar dois horrores inenarráveis: a Mia Farrow num suposto filme intitulado Coming Soon, com um cabelo cor-de-laranja indescritível, muito mais assustador do que o da Julianne Moore no The Big Lebowski; e a Michelle Pfeiffer a contracenar com o Jeff Goldblum, que sempre me pareceu irmão gémeo do Shyamalan, num filme de John Landis, com quem é impossível não simpatizar, mas que assinou esta estucha pseudo romântica e policial, de seu nome Into the Night.

Dois filmes vistos e muito trabalho adiantado, caí no erro de achar que eram horas de dormir. Mas foi exactamente quando desliguei o computador e a televisão que me pus a pensar nela, na Alexandra Maria Lara. Porquê não sei, mas foi graças a ela que desfrutei de uma longa insónia. Revi mentalmente as suas prestações no Der Untergang, no Control e no Youth Without Youth e reflecti no quanto sofrerei se ela permitir que a transformem numa star americanizada. Será realmente penoso se a Alexandra Maria Lara seguir um percurso semelhante ao da Scarlett Johansson, que bem podia abrandar o ritmo antes que esgote as potencialidades da sua imagem e do seu talento aos vinte e poucos anos.
E bom. Tenho dito. Talvez já sejam horas de adormecer.

11 abril 2008

Então e Londres?

You Belong in Amsterdam



A little old fashioned, a little modern - you're the best of both worlds. And so is Amsterdam.

Whether you want to be a squatter graffiti artist or a great novelist, Amsterdam has all that you want in Europe (in one small city).


03 abril 2008

Gostar de homens *



* Porque, afinal de contas, também há homens com muito que se lhes diga.

02 abril 2008

The Bucket List


Rob Reiner. O genro do insuportável Archie na série All in the Family, o realizador de Stand by Me e de Misery, filme que mencionei logo no início deste blogue, há tanto tempo que nem me reconheço naquilo que escrevi, e o mentor do recente The Bucket List. Os críticos dirão, e vejo-me obrigada a concordar com eles, que The Bucket List é frívolo e que se baseia no desempenho de dois actores que ligaram o piloto automático para interpretarem as personagens com que já nos habituaram: Jack Nicholson, o egoísta desenfreado; Morgan Freeman, o sensato e cauteloso.
É verdade. Mas também é verdade que The Bucket List é uma lição de vida para aqueles que a quiserem compreender.
Dois homens, moribundos e a caminho da resignação, impediram que o rumo da vida decidisse por eles. Carter and I saw the world together, diz Jack Nicholson a determinada altura. Ao contrariarem o rumo da vida, estes homens escolheram ver o mundo em vez de aceitarem uma jornada de auto-complacência e de sofrimento. E aqui, nesta decisão conjunta, reside aquilo que me fez gostar deste filme ao ponto de continuar a aplaudir Rob Reiner: a coragem de Carter Chambers ao fazer frente à mulher, aos filhos e ao socialmente aceite. Doa a quem doer. Porque é exactamente disto que este filme trata: de coragem. E também de sarcasmo. Um delicioso sarcasmo que não nos distrai excessivamente, mas que permite umas boas gargalhadas: What does a snail have to do to reincarnate? Leave the perfect trail of slime?
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Good afternoon. My name is Edward Cole. I don't know what most people say at these occasions because in all honesty, I've tried to avoid them. The simplest thing is I loved him and I miss him. Carter and I saw the world together, which is amazing when you think that only three months ago we were complete strangers. I hope that it doesn't sound selfish of me, but the last months of his life were the best months of mine. He saved my life, and he knew it before I did. I'm deeply proud that this man found it worth his while to know me. In the end, I think it's safe to say that we brought some joy to one another's lives, so one day, when I go to some final resting place, if I happen to wake up next to a certain wall with a gate, I hope that Carter's there to vouch for me and show me the ropes on the other side.