25 janeiro 2006

Proposta de discussão - XIII

Propondo um regresso às discussões, lanço Match Point como isco.

- Um Crime e Castigo dos tempos modernos?

- Um Woody Allen diferente de todos os outros?

- Um Jonathan Rhys-Meyers incompreensível?

Aguardo ansiosamente pelas vossas opiniões.
Até breve!

7 comentários:

Unknown disse...

Eu acho que é uma variação de 'Crimes e escapadelas'. Não faço ideia porque é que há tanta gente a achar que é um Woody diferente...

Anónimo disse...

o Jonathan Rhys-Meyers vai óptimo, óptimo. e sim, uma variação [I]allenesca[/I] de "Crime e Castigo". E sim, um Allen diferente do comum, começando pela ausência da sua obsessiva e neurótica personagem. Ainda bem, digo eu. Não que não goste dos Allens mais típicos, mas os últimos em particular haviam sido menores. Este não, é maior. MUITO maior.

Anónimo disse...

Pegando nas palavras de harry madox também não acho que seja um Woody diferente... Estão lá todos os leit-motives dominantes do realizador... as neuroses dos personagens, as referências ao Ingmar Bergman, o questionamento sobre a natureza do mal, Dostoevsky, a refutação de que a vida pode ser sujeita a um controlo consciente e racional, etc. No entanto, não foi "Crimes e Escapadelas" que me veio imediatamente à memória durante o visionamento do filme. Foi muito mais o livro de Theodor Dreiser "An American Tragedy" e os livros do Ripley de Patricia Highsmith, dominando o livro que já deu origem a dois filmes: "American Tragedy" de Josef von Sternberg, de 1931, e o muitíssimo mais interessante "A Place in the Sun" (Um Lugar ao Sol) de George Steven, de 1951, com Montgomery Clift (2º Oscar do actor), Elizabeth Taylor e Shelley Winters (filme a não perder) que conta a história de um jovem que acaba por matar a colega operária grávida para se poder casar com a filha do dono da fábrica (Shelley Winters na cena do lago, suplicante primeiro e depois chantagista, tem aqui um dos seus melhores papéis secundários). De facto também esta história fala das oportunidades da vida como sendo fruto do timing e do contexto certos. Quem gostou de "Match Point" não deveria deixar de ver "Um Lugar ao Sol" e estabelecer os paralelismos ou, então, ler "An American Tragedy" livro que denuncia o American Dream de forma quase ímpar.
A grande diferença reside no "castigo" que no mundo actual, muito mais cínico, deixou de ser uma certeza e um tranquilizante das consciências.
Tudo está nas mãos da sorte...

Ricardo disse...

Concordo com tudo o que o pessoal disse. Porque é que não aparecem no encontro de Sábado? Quantos mais, melhor.

mfc disse...

Cabao por ver o Woody Allen a fazer aquilo que previu para si próprio no 'Hollywood Ending'.

Completamente acabado para os americanos mas adorado pelos europeus. E acho que Londres vai muito bem com a ideia romântica que ele tem de New York, ou pelo menos da forma como a descreve no 'Radio Days'.

Hugo disse...

Mais do que um "Crime e Castigo" dos tempos modernos, parece-me que o Woody tem o mérito de fazer desfilar perante nós os traços essenciais da Sociedade contemporânea: oportunismo, conveniência e egocentrismo (cada uma das personagens, creio, move-se apenas em virtude de procurar satisfazer as suas próprias vontades). Nisto, acho que é um Woody igual a si próprio...

Outro grande mérito será o facto de pôr a nu esses difíceis amores, corporizados no casamento de Chris e de chloe...e consequente escapadela.

Crime e castigo sim, mas só mesmo naqueles belos 15 minutos finais (se bem que o livro do Dostoyievsky, lido por Chris, aparece logo a abrir, como que antecipando o que aí vem...). MAs ficamos pelo castigo cínico como diz avisadamente o (a?) Gin. Falta o purgatório físico do romance-mote de Dostoievsky...

Já o Rhys-Meyers, por vezes, pareceu-me verdadeiramente maquinal, sobretudo se compararmos com o desempenho fluido e seguro de Scarlett Johansson.

Anónimo disse...

Viva

O Gin foi certeiro ao referir o Place in the Sun (apesar do Monty não ter ganho qualquer óscar ;-) )
Este é de facto um Place in the Sun moderno. Só muda mesmo o dedo que tem a aliança. No primeiro caso, está na genial Shelley Winters e é dela que o ambicioso personagem principal tem de se livrar. Neste é no dedo de Emily Mortimer, e para que ele fique lá, é preciso livrar-se da paixão extra-conjugal com uma carnal mas algo preso Scarlett.
Um misto de Dostoievsky e Bergman não é novidade em Woody..são duas das suas maiores referências.
Mas a deslocação para Londres não lhe trouxe um cenário novo..até porque tudo parece Manhattan, vistas bem as coisas.
Trouxe sim uma sociedade de classes, bem vincada nas pessoas, especialmente na personagem principal que tem todos os tiques de pobre a querer ser rico, sem que se pareça que é pobre. E aí acho que o Jonathan Rhys-Meyers vai muito bem. Ele tem o semblante da culpa, mas também dessa ascensão social feita a pulso desde a pobreza na Irlanda ao mais alto escalão da sociedade londrina.
É um Allen diferente na medida em que mais do que questões de casais, infidelidades, neuroses, o que encontramos aqui é um espelho dos conflitos sociais entre classes, visto com algum cinismo por parte de Allen que toma o lado dos mais ricos, mas sem nunca deixar a ideia de que a podridão humana também pode ser recompensada.
Um dos seus melhores filmes de sempre, e uma obra fundamental sem dúvida alguma.