07 novembro 2005

... but not you, not anymore ...



Leitura desaconselhável para aqueles que nunca viram Saw
No último FantasPorto, os espectadores deste festival tiveram o privilégio de serem testemunhas da estreia de Saw, segunda longa-metragem de James Wan. Tendo semelhanças óbvias com filmes como o tremendo Seven de David Fincher, Cube de Vincenzo Natali e Mindhunters de Renny Harlin, talvez fosse de estranhar que Saw tenha saído da cidade invicta com o prémio de Melhor Argumento.
Como sabemos, apresentar um filme que se baseie nas paranóias macabras de um assassino não é uma iniciativa original. No entanto, este Saw, apoiado em cenários putrefactos e sombrios, revela-se uma boa surpresa. Ao contrário do que muitos escrevem, discordo que o final de Saw seja o seu melhor momento. Quanto a mim, parece-me que os primeiros dez minutos contêm grande parte da excepcionalidade deste filme. E porquê? Porque é nesses breves planos que James Wan revela todo o argumento. Começa por filmar, de forma insistente, a chave que poderia livrar Adam da morte e remata quando o mesmo Adam retira o gravador que está a ser agarrado por um corpo coberto de sangue. Uma vez que é extremamente difícil libertar um objecto de uma mão morta, a ligeireza com que o gravador desliza só poderia indicar que aquele corpo está vivo.
Posto isto, seria de esperar que todos adivinhássemos o fim. Contudo, ainda está para chegar o espectador que não se surpreenda com o final. Quer isto dizer que James Wan apresenta as respostas e, ainda assim, consegue iludir-nos durante todo o filme. Para isso, mune-se de todos os clichés do filme de “serial killers” (por exemplo, o polícia obcecado por vingança, as perseguições inúteis e a família raptada) e condimenta-os com três temperos essenciais: uma narrativa consistente, truques visuais que proporcionam celeridade e repelem a monotonia tão comum a alguns filmes deste género e gore do mais imaginativo que tenho visto.
Surgindo do cinema independente e com baixo orçamento, Saw consegue ser uma história aterradora, muito superior aos blockbusters-supostamente-assustadores que estreiam em catadupa nos nossos cinemas. A não perder!

2 comentários:

Anónimo disse...

O que mais me impressionou foi a forma como a exploração do espaço torna o filme angustiante. A casa-de-banho, o quarto do polícia, aquela espécie de armazém, o quarto do protagonista... tudo espaços demasiado fechados que transmitem a loucura do autor dos crimes, assim como o desespero a que leva os seus "fantoches".

Anónimo disse...

De facto, um filme interessante!
Vi-o sem qualquer expectativa e fiquei agradavelmente surpreendido. Concordo plenamente contigo Mafalda, para mim os primeiros 15 minutos foram os melhores: aquela casa de banho, o enigma e o medo, e a sugestão da capa do filme no nosso subconsciente era a cereja no topo do bolo ;)