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Nunca fui pessoa para gostar de mudanças repentinas ou de surpresas. Ontem de manhã, quando soube da morte de João Bénard da Costa, fiquei, acima de tudo, surpreendida. Já sabia do seu frágil estado de saúde e das grandes mudanças na Cinemateca. Mesmo assim, senti aquele frio nas costas e aquele alvoroço no estômago. Detesto surpresas, volto a repetir.
Nunca o conheci, apenas gostava de o observar e, no entanto, foi como se tivesse recebido a notícia da morte de alguém próximo. Bénard da Costa desiludiu-me muito e desiludiu, principalmente, a sonhadora que há dentro de mim e que, um dia, teria eu 18 anos, se convenceu de que não poderia haver alguém tão magnânimo. Quase nove anos depois, e cheia de histórias e factos que não melhoram em nada a imagem de JBC, nunca me desliguei da primeira imagem: velho de voz rouca e cheia de catarro, a falar-me de Bergman como quem fala da perfeição, sempre sentado lá à frente, a rever incessantemente os mesmos filmes. Lembro-me de o querer conhecer à força, de ouvir, sempre com a atenção no máximo, as histórias daqueles que o conheciam e que privavam com ele. E isto já para não falar do seu enorme talento enquanto escritor, das frases que li e reli, vezes sem conta.
Há um sofrimento muito grande dentro de mim, talvez semelhante àquele que experimentei quando o Bergman ou o Paul Newman nos deixaram. Parece que a vida nunca voltará a ser igual e que nós, reduzidos à nossa insignificância, perdemos aquilo que nos inspirava e que nos fazia acordar e sair da cama.
Nunca o conheci, apenas gostava de o observar e, no entanto, foi como se tivesse recebido a notícia da morte de alguém próximo. Bénard da Costa desiludiu-me muito e desiludiu, principalmente, a sonhadora que há dentro de mim e que, um dia, teria eu 18 anos, se convenceu de que não poderia haver alguém tão magnânimo. Quase nove anos depois, e cheia de histórias e factos que não melhoram em nada a imagem de JBC, nunca me desliguei da primeira imagem: velho de voz rouca e cheia de catarro, a falar-me de Bergman como quem fala da perfeição, sempre sentado lá à frente, a rever incessantemente os mesmos filmes. Lembro-me de o querer conhecer à força, de ouvir, sempre com a atenção no máximo, as histórias daqueles que o conheciam e que privavam com ele. E isto já para não falar do seu enorme talento enquanto escritor, das frases que li e reli, vezes sem conta.
Há um sofrimento muito grande dentro de mim, talvez semelhante àquele que experimentei quando o Bergman ou o Paul Newman nos deixaram. Parece que a vida nunca voltará a ser igual e que nós, reduzidos à nossa insignificância, perdemos aquilo que nos inspirava e que nos fazia acordar e sair da cama.
1 comentário:
Life must go on, Mafalda.
A sessão de Johnny Guitar que decidi ir à última da hora a 30 minutos de começar, não me arrependi de lá ter estado, pois foi a cerimónia de cinema mais emotiva que me lembro de ter presenciado. Duas ovações (uma no começo e uma no final), parcas palavras (felizmente!) - foram apenas citados trechos de um livro de Bénard da Costa, e muitas lágrimas.
Acima de tudo, mais do que desanimar, lamentar a morte de Bénard da Costa ou fazer previsões catastrofistas para o futuro da Cinemateca, é necessário celebrar a vida e aprendermos com o legado que Bénard da Costa nos deixou.
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