17 junho 2008

Singularidades


O Mise en Abyme estreou-se finalmente no universo de Darren Aronofsky. A escolha recaiu em Pi de 1998. O filme, conotado como um dos mais originais das últimas décadas, rima muito com o universo de David Cronenberg. Não só pela proeminência de insectos, mas também pela sujidade intrínseca ao filme. Não que isto retire qualidade à película de Aronofsky, cuja estética a preto e branco escapa, por vezes, ao contraste e à luminosidade, confundindo e dominando o espectador.
Max Cohen, um génio que alimenta o desejo de compreender a realidade através da matemática, sofre de transtornos compulsivos e de dores de cabeça insuportáveis. Tendo construído um computador em casa, que protege religiosamente através de várias fechaduras, Max vive com a certeza de que alcançará aquilo que o seu mestre, Sol Robeson, não foi capaz de alcançar.

O argumento de Pi, aqui resumido em poucas linhas, é de um interesse atroz e poderia ter sido desenvolvido em redor do protagonista – narrador e das personagens que lhe são próximas. Todavia, Darren Aronofsky caiu no erro de subvalorizar a essência de Max e acrescentou beatos e agiotas à sua narrativa, contribuindo assim para um despropósito bem menos credível do que as paranóias do génio.
Do mal, o menos. As últimas sequências, de uma beleza inspiradora, em que Max transparece paz de espírito e convive, sem hesitações, com uma mulher e uma criança, contrastando inteligentemente com as cenas brutais do cérebro e do berbequim, são dignas de aclamação.

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