18 junho 2006

Hey You

Verdades inabaláveis
Noah Baumbach
É bom que decoremos este nome rapidamente. Já o devíamos saber de cor desde que assistimos a The Life Aquatic with Steve Zissou mas ainda vamos a tempo de nunca mais o esquecer.
Jeff Daniels
Insubstituível desde The Purple Rose of Cairo.
Laura Linney
Sempre gostei de a ver como mulher de homens rijos.

Primeiras considerações
Não é habitual vermos um filme em que todas as personagens são de tal forma complexas e humanas que poderíamos assistir a esse mesmo filme a partir do ponto de vista de qualquer uma delas. Ontem, na sala do Monumental, escolhi ser Walt Berkman, o filho mais velho de The Squid and the Whale. Da próxima vez, talvez escolha ser Bernard Berkman, o intelectual avarento e fracassado.
Decidi tomar o partido de Walt desde o momento em que constatei que esta personagem incorpora algo a que sempre chamei o fenómeno “até o meu pai diz”. O que quero dizer com isto? É simples. Quando um filho ainda não atingiu um certo distanciamento em relação ao pai e não consegue formular opiniões por si só, baseia-se sempre naquilo que ouve da boca do pai e repete-o incessantemente em frente aos amigos. (Por vezes, acontece mesmo que o adolescente sente necessidade de sublinhar as suas palavras e então profere um sentido “até o meu pai diz” no princípio de cada frase.)
Ora, não só Walt Berkman usa e abusa deste fenómeno para impressionar a namorada, como tudo na vida dele parece girar em torno do pai. Parece mas talvez não gire e talvez não tenha mesmo de girar. Na verdade, é a enfrentar a recordação materna que Noah Baumbach dá por concluído o seu filme. E que filme! The Squid and the Whale surge então como um abalar de consciências, propício a ser visto por espectadores de todas as idades. Haverá sempre um de nós que se identificará com alguma das personagens. No meu caso particular, quero ser como Walt Berkman e enfrentar todas as construções, reais ou irreais, que vou conservando na minha memória desde criança. Enfrentá-las, desconstruí-las e, se for necessário, fugir delas até me sentir preparada para as receber de vez.

14 comentários:

Tiago Cabral disse...

Cara amiga,
Que grande filme. É um filme com uma história bem contada. Uma história dramática, mas sem dramatismos. Uma história triste, sem lágrimas. Uma história para rir, sem palhaçadas. No fundo, uma caricatura da vida (fogo, que intelectual que eu fui agora).
Quanto ao personagem que escolheste, não sei se ele utiliza realmente as ideias do pai, ou se para ele as ideias são tão boas que são dele (segundo o próprio, o facto de não o serem é um mero pormenor técnico).
Com que personagem me identifiquei? Nenhum. Ou se calhar todos. Não sei, sei é que na batalha entre a lula e a baleia, o expectador é que ganha.

Tiago Cabral disse...

é pá, grande erro! era espectador, expectador era um pecdador que já não o é.

Rodrigo Nogueira disse...

Adorava ter vivido em Brooklyn nos anos 80. Adorei este filme do Wes Anderson passado no mundo real. Só tenho um reparo a fazer: alguém reparou que todos os actores usavam calças de ganga do século XXI mas disfarçavam esse facto usando-as um bocado mais para cima?

Mafalda Azevedo disse...

Caros amigos,

Não sei se este filme será uma caricatura da vida… A mim, pareceu-me tremendamente real, sem uma ponta de exagero. Terei sido só eu a sentir isto?
Quanto à “minha” personagem! Não creio que ele saiba avaliar se as ideias do pai são boas (até porque nem conhece os livros / filmes em questão). O raciocínio é diferente: como são do meu pai, só podem ser boas. :)

(Rod… Com que então o filme é do Wes Anderson? Não perdes uma… Tenho pena mas não reparei nas calças.)

Voltem sempre!

Rodrigo Nogueira disse...

O filme é (como) um filme do Wes Anderson mas passado no mundo real.

Daniel Pereira disse...

E - digo eu para meter achas na fogueira - sobrevalorizado como o Wes Anderson.

Mafalda Azevedo disse...

Daniel!

Com que então sobrevalorizado?
Só tenho uma resposta para isso e já foi dada pela Helena F. do Play It Again: "Está a uma distância abissal do lixo que por aí pulula nas salas."

Daniel Pereira disse...

Cara Mafalda,

uma coisa não invalida a outra. Também acho que é das melhores coisas em cartaz (pudera!). Mas acho que está longe de ser uma obra indispensável, assim como não são os filmes do Anderson. Se calhar ainda são resquícios da elevação de "The Life Aquatic..." a obra-prima. Este filme estreado em Fevereiro ou na reentré (é assim?) passaria muito mais despercebido.

Nuno Pires disse...

"Rentrée" ;)

Miguel Domingues disse...

Olá,

um dos grandes filmes do ano.

Wes Anderson ainda não fez O filme, mas tudo o que fez é muito bom.

Take care,
Miguel Domingues

Anónimo disse...

Mafalda,
percebo perfeitamente o que dizes do Walt Berkman. De facto só se deu conta de que o pai tinha estado toda a vida ausente da sua própria quando o psiquiatra o faz olhar para dentro de si. Cairam-lhe as escamas dos olhos e talvez possa começar a crescer como pessoa... Trata-se realmente de um filme que ilustra muitos problemas criados pelas disfunções familiares. Nem que fosse só por isso valia a pena

Mafalda Azevedo disse...

Tenho pensado todos os dias neste filme... E, dia a dia, cada vez me convenço mais de que estamos perante uma obra que filma a realidade como poucos filmes já o fizeram.
Aqui há dias, fui assistir à conferência do Alexandre Soares Silva na Casa Fernando Pessoa. Não sou uma fã incondicional do seu blog mas gostei particularmente de uma das coisas que ouvi. A dada altura, Alexandre Soares Silva mencionou o quanto o irritava o facto de as pessoas (leitores ou espectadores) só consideraram “realista” aquilo que é chato e banal e considerarem “não realista” aquilo que é excêntrico ou diferente. Concordo em absoluto. Infelizmente ou felizmente, a realidade, dura e crua, está longe de ser uma banalidade ou uma estopada.

Rodrigo Nogueira disse...

A cena é: o Wes Anderson tem uma obra-prima absoluta, chama-se The Royal Tenenbaums. E aquele anúncio do MasterCard também é do camandro.

Anónimo disse...

Eu sou uma daquelas pessoas para quem se nenhum motivo houvesse para ver o filme, a inclusão nele de um elemento como a a música Hey You seria motivo suficiente para ir ao cinema vê-lo.

Quanto à faixa musical em questão: É uma das músicas de um dos álbuns mais aclamados a nível mundial e essenciais da história da música. Falo obviamente do disco The Wall, editado em 1979 pelos Pink Floyd.

Não dediquei já dois parágrafos à música sem motivo aparente.

O disco foi editado em 1979. A acção do filme tem lugar em 1986. Repito, falamos de um dos mais marcantes e ouvidos discos da história e naquela plateia ninguém dá conta que o miúdo está a tocar uma coisa de outro que não é um outro qualquer?