17 junho 2006

Comentário a um amigo

Para ler antes do meu comentário.
a) Eu também fazia parte do grupo de pessoas que foi ver este filme. Quando saímos da sala, não concordei com aqueles que tinham gostado muito mas também não estive de acordo com o Francisco.

b) Tecnicamente, o filme até pode lembrar um videoclip (e o facto de isto ser um ponto negativo é discutível) mas tem uma qualidade evidente: um bom trabalho de mise-en-scène a fazer lembrar o recente Red Eye do grande Wes Craven.

c) Concordo com uma frase da Visão Online: a pedofilia é um assunto delicado. Indo mais longe, nunca aceitei que se etiquetassem todos os pedófilos como criminosos macabros. Daí que a ideia de conceber uma justiceira de crianças abusadas não me convença. (Será que há uma real proximidade entre o caso de Roman Polanski, mencionado no filme, e a história do homem que violava a sobrinha de oito anos?)

d) Ellen Page vicia e faz com que todas as atenções recaiam sobre ela. A primeira sequência, em que a vemos a conversar com o fotógrafo num café, fez-me ter a certeza de que estávamos na presença de uma actriz. A sua capacidade de nos fazer confundir ingenuidade com perversidade pareceu-me bem mais relevante do que todas as outras habilidades que executa ao longo do filme.

e) O mistério que envolve esta capuchinho vermelho vingativa reúne mais perversidade do que todas as cenas supostamente perversas. Quem é esta adolescente? De onde vem? O que a move? Nunca saberemos e ainda bem. Gosto de filmes que não apresentam soluções.

9 comentários:

Anónimo disse...

Acima de tudo, um filme de actores.. que nos agarram do principio ao fim! Não me parece transportável para a realidade, mas também não é importante! Talvez por não esperar muito... gostei! Daria outra abordagem sobre quem são as presas e quem são os predadores, na net.. Rs

Anónimo disse...

Concordo em absoluto com o teu ponto e)
Durante o visionamento do filme pareceu-me sempre que este podia ser transferido, sem qualquer dificuldade, para um palco de teatro
Vive sobretudo das representações e não apenas da da capuchinho vermelho. A do fotógrafo também é exemplar. Pelas críticas que tenho lido fico quase sempre com a impressão que se trata de um filme malquerido pelo sexo masculino...
É demasiado inversor de vários estereótipos extremamente enquistados na nossa sociedade e toca em medos muito profundos

Mafalda Azevedo disse...

Se este argumento passasse para um palco, seria ainda mais tremendo…

Tiago disse...

é um filme demagógico, absurdo, a piscar o olho ao politicamente correcto disfarçado de subversão, com uma péssima ideia de mise-en-scéne (a tensão n se faz de planos apertados e zapping) e sem qq vontade de pensar sobre o poder de sedução das lolitas. O Adrian Lyne fez mais na cena do regador no início da Lolita que este filme em todo o discurso de sadismo da míuda, que merecia era levar um enxerto de porrada do princípio ao fim. A gota de água é de feacto a alusão ao Polansky. isso n é ser provocador ou polémico, é ser demagógico e polemista, que é bem diferente. e depois a referência à Jodie Foster (que podia realizar uma curta da história, diz a miuda) é o quê? Porque fez um filme chamado OS Acusados? Porque tb tem uma sexualidade ambigua? Não se pode colocar a coisa no plano da pedofilia quando a miuda sabe o que esta a fazer. Chegou a ver momentos em que desejei gritar: o que tu queres sei eu, porca. Saí do filme irritadissimo.

Mafalda Azevedo disse...

Caro Tiago,

- Leu o meu ponto c)?

- Porquê comparar Hard Candy a Lolita?

Nota: Sou uma admiradora absoluta do Adrian Lyne, adoro (e aqui o verbo não é exagerado) filmes como Flashdance e Fatal Attraction e, no entanto, sempre considerei a sua versão da Lolita um absurdo pegado… Aliás, por falar em Lolitas, nem a de Kubrick me convenceu por completo. (Mas também, deve ser muito difícil adaptar um texto absolutamente genial como o de Nabokov…)

Tiago disse...

Mafalda, porque precisamente ambas as miúdas sabem o que estão a fazer e a impressionante versão de Adrian Lyne denuncia-o sem preconceitos. E já agora a versão do Kubrik foi feita pelo próprio Nabokov. Quer melhor legitimação do que essa? O que nos leva à pedofilia: será que a miúda desaparecida não sabia o que estava a fazer?

Mafalda Azevedo disse...

Tiago,

Como se pode verificar pelo meu ponto c), também acho que a pedofilia merece uma análise mais atenta e não uma catalogação directa de “pedófilos = criminosos macabros”.
Em relação ao texto de Nabokov… E se a genialidade maior do escritor fosse conseguir convencer-nos de que a miúda sabia o que estava a fazer? E se o próprio Adrian Lyne tivesse escolhido acreditar nisso?

(A versão do Kubrick foi escrita pelo Nabokov mas quem tratou de a passar a imagens foi o realizador.)

Tiago disse...

mas o Nabokov, o Lyne e o Kubrick acreditavam que ela sabia o que estava a fazer. Já neste Hard candy acho mais dificil. Daqui ao Larry Clark a distância é mínima. Objectos de terror tratados com carinho, por favor...

manu disse...

este filme é tão sensacionalista ke mete um bocado impressão....