Aí está ele, o mar, a mais ininteligível das existências não humanas.
E aqui está a mulher, de pé na praia, o mais ininteligível dos seres vivos.
Clarice Lispector
Foi ontem. Num mar frio, tal e qual como eu gosto, mas sem ondas para furar. Tudo a seu tempo. Para já contentemo-nos por estarmos, devagar devagarinho, a entrar na fase mais aprazível do ano. Não que as últimas semanas tenham sido más. Antes pelo contrário. Houve tempo para rir com a indecifrável estalajadeira de Carlo Goldoni, encenada pelo Jorge Silva Melo e interpretada pela fora de série Catarina Wallenstein; para descobrir a Clarice Lispector na Gulbenkian através de gavetas e de imagens; e para começar a ler Agosto, mais um romance de Rubem Fonseca. A propósito deste livro, deixo-vos um excerto da crónica de José Riço Direitinho, publicada no último número da revista Ler :
porque para ele [Rubem Fonseca] os crimes misteriosos servem apenas de invólucro ao que lhe interessa verdadeiramente narrar: a coleção de pequenas tragédias das existências quotidianas, os singulares dramas humanos numa grande metrópole como o Rio de Janeiro, a violência que é íntima da solidão, e a brutalidade do vazio do espírito numa sociedade onde toda a transgressão é punida. Mas o mundo sujo da criminalidade continua com a mesma sujidade depois de ter sido “feita justiça”, não há possibilidade de remissão nas histórias de Fonseca. E não raramente os “bandidos” são os anti-heróis, românticos e solitários, apesar do seu característico “ódio frio”, e os “bons” são céticos e cínicos face ao mundo, e nem sempre tão “bons” como esperamos.
Até breve.
1 comentário:
Hello. And Bye.
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