Uma alucinação pop que é um filme, mas que também poderia ser um longo teledisco ou um jogo de vídeo. Câmaras lentas, tons fluorescentes, música altíssima. Repetitivo e fatigante, sem dúvida. Mas também inesperado e comovente. A minha adolescência foi, de uma forma geral, alegre. Houve momentos dramáticos, claro, repletos de choradeiras e de exageros, mas houve alturas, e não foram assim tão poucas, em que a certeza de ter bons amigos era mais importante do que qualquer outra coisa. Talvez por isso, houve instantes neste Spring Breakers que me enterneceram. Sim, é essa a palavra certa. Os abraços, as partilhas, os gritinhos, as cantorias (até a própria Britney Spears), as brincadeiras infantis, as bebedeiras, as cumplicidades, a sensação de se ter todo o tempo do mundo, a excitação de se ir fazer uma viagem de camioneta… E que saudades desses tempos! Nada voltará a ser como na adolescência, essa época de inocência e de avidez. E se é verdade que Spring Breakers reflete todos esses sentimentos de uma forma hábil, também é verdade que o filme vai muito além de uma historieta de adolescentes convencionais. Há orgias, drogas, rabos e mamilos para todos os gostos. Uma espécie de pesadelo suado, interminável e superficial. No entanto, e tire-se o chapéu a Harmony Korine, há também um lado inesperado e surpreendente. Nada se desenrola como imaginamos e essa “inesperabilidade” é aquilo que nos faz continuar a ver o filme. Isso e o facto de ser um objeto irónico que não tem o menor problema em desconstruir o "American Dream". Vejam e digam de vossa justiça.
2 comentários:
Sabes que, ainda no outro dia, vi o cartaz e teci os piores comentários. Pré-conceitos, lá está. :)
Depois desta descrição, estou tentada a ir ao cinema mais próximo ;)
Talvez gostes mais de ver o filme do João Canijo, "É o Amor". Inspirador.
Um grande beijinho para ti.
Enviar um comentário