11 maio 2013

Beat the Devil (1953)


A prova de que não basta juntar-se Humphrey Bogart, Gina Lollobrigida, Peter Lorre, John Huston e Truman Capote para se ter um bom filme. Bom fim-de-semana. 

07 maio 2013

A adolescência aqui tão perto


Uma alucinação pop que é um filme, mas que também poderia ser um longo teledisco ou um jogo de vídeo. Câmaras lentas, tons fluorescentes, música altíssima. Repetitivo e fatigante, sem dúvida. Mas também inesperado e comovente. A minha adolescência foi, de uma forma geral, alegre. Houve momentos dramáticos, claro, repletos de choradeiras e de exageros, mas houve alturas, e não foram assim tão poucas, em que a certeza de ter bons amigos era mais importante do que qualquer outra coisa. Talvez por isso, houve instantes neste Spring Breakers que me enterneceram. Sim, é essa a palavra certa. Os abraços, as partilhas, os gritinhos, as cantorias (até a própria Britney Spears), as brincadeiras infantis, as bebedeiras, as cumplicidades, a sensação de se ter todo o tempo do mundo, a excitação de se ir fazer uma viagem de camioneta… E que saudades desses tempos! Nada voltará a ser como na adolescência, essa época de inocência e de avidez. E se é verdade que Spring Breakers reflete todos esses sentimentos de uma forma hábil, também é verdade que o filme vai muito além de uma historieta de adolescentes convencionais. Há orgias, drogas, rabos e mamilos para todos os gostos. Uma espécie de pesadelo suado, interminável e superficial. No entanto, e tire-se o chapéu a Harmony Korine, há também um lado inesperado e surpreendente. Nada se desenrola como imaginamos e essa “inesperabilidade” é aquilo que nos faz continuar a ver o filme. Isso e o facto de ser um objeto irónico que não tem o menor problema em desconstruir o "American Dream". Vejam e digam de vossa justiça.

06 maio 2013

Primeiro mergulho do ano


Aí está ele, o mar, a mais ininteligível das existências não humanas. 
E aqui está a mulher, de pé na praia, o mais ininteligível dos seres vivos.
Clarice Lispector

Foi ontem. Num mar frio, tal e qual como eu gosto, mas sem ondas para furar. Tudo a seu tempo. Para já contentemo-nos por estarmos, devagar devagarinho, a entrar na fase mais aprazível do ano. Não que as últimas semanas tenham sido más. Antes pelo contrário. Houve tempo para rir com a indecifrável estalajadeira de Carlo Goldoni, encenada pelo Jorge Silva Melo e interpretada pela fora de série Catarina Wallenstein; para descobrir a Clarice Lispector na Gulbenkian através de gavetas e de imagens; e para começar a ler Agosto, mais um romance de Rubem Fonseca. A propósito deste livro, deixo-vos um excerto da crónica de José Riço Direitinho, publicada no último número da revista Ler

porque para ele [Rubem Fonseca] os crimes misteriosos servem apenas de invólucro ao que lhe interessa verdadeiramente narrar: a coleção de pequenas tragédias das existências quotidianas, os singulares dramas humanos numa grande metrópole como o Rio de Janeiro, a violência que é íntima da solidão, e a brutalidade do vazio do espírito numa sociedade onde toda a transgressão é punida. Mas o mundo sujo da criminalidade continua com a mesma sujidade depois de ter sido “feita justiça”, não há possibilidade de remissão nas histórias de Fonseca. E não raramente os “bandidos” são os anti-heróis, românticos e solitários, apesar do seu característico “ódio frio”, e os “bons” são céticos e cínicos face ao mundo, e nem sempre tão “bons” como esperamos.

Até breve.