13 janeiro 2010

O Laço Branco

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Filmar a maldade
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Estamos nas vésperas da primeira guerra mundial. Imaginem uma aldeia alemã, coberta de searas de trigo na Primavera e de neve imaculada no Inverno. E imaginem que, a determinada altura, o médico dessa mesma aldeia é vítima de um estranho acidente, o filho do barão é raptado, uma criança deficiente é torturada e há coincidências bizarras por todos os cantos. E, por fim, imaginem que, à semelhança do Village of the Damned do John Carpenter, o mal é personificado por um grupo de crianças louras, presas a uma moral que não compreendem, nem podem compreender, e consumidas por uma disciplina despropositada e castradora. E aqui, nos vestidos escuros e rígidos, nos murmúrios sofridos, na violência gratuita, nos cabelos domados e nas casas gélidas, reencontramo-nos com Fanny e Alexandre.
A claustrofobia, a avareza e a disciplina militar parecem o pior dos cenários. Mas ainda há pior. Há pais que violam, maltratam e espancam. Há crianças que tentam fugir, que desmaiam, que testam a efemeridade da vida. Todos estão condenados. Mesmo os mais novos, que ainda apresentam a candura própria das crianças, como o filho do médico que chama pela irmã numa casa às escuras, ou o filho do pastor que oferece o seu pássaro em troca da felicidade do pai. Todos, mais tarde ou mais cedo, revelarão a sua lealdade ao mal, pois é a única que conhecem. Com excepção do professor primário, confidente de todos, que toca piano à luz da vela e ama uma doce rapariga da cidade. Nenhum dos dois nasceu ali, nenhum cresceu no seio daquela comunidade. São a réstia de esperança que sobra.

2 comentários:

HG disse...

Bom post, boa análise ao filme. Talvez a razão esteja do seu lado, mas, curiosamente, eu vi um sinal de esperança na criança que oferece o pássaro ao pai... Será que sou demasiado optimista?

Também escrevi umas modestas linhas no meu blog sobre "O Laço Branco". ;)

Mafalda Azevedo disse...

Olá HG,

Muito obrigada pelo comentário e parabéns pelo texto. É realmente interessante que haja várias interpretações de uma mesma cena. Para mim, a esperança reside no casal (professor primário e ama), mas quem sabe?

Até breve,
Mafalda