28 setembro 2008

Paul Newman / 1925 - 2008


Rosto nu
na luz directa.
Rosto suspenso,
despido e permeável,
Osmose lenta.
Boca entreaberta como se bebesse,
Cabeça atenta.
Rosto desfeito,
Rosto sem recusa onde nada se defende,
Rosto que se dá na angústia do pedido,
Rosto que as vozes atravessam.
Rosto derivando
lentamente,
Pressentindo que os laranjais segredam,
Rosto abandonado e transparente
Que as negras noites de amor em si recebem
Longos raios de frio correm sobre o mar
Em silêncio ergueram-se as paisagens
E eu toco a solidão como uma pedra.
Rosto perdido
Que amargos ventos de secura em si sepultam
E que as ondas do mar puríssimas lamentam.

Sophia de Mello Breyner Andresen

4 comentários:

Anónimo disse...

Vou ter muitas saudades, mas o que vale são todos os filmes que ficaram e o vão manter eterno.

Bjs
Gin

Anónimo disse...

Estranho.. soube há pouco do Paul Newman e agora leio o poema que "postaste". O meu actor/homem favorito... é daquelas poucas pessoas que mesmo não conhecendo pessoalmente sinto uma atracção química especial. É uma pesada perda para o mundo. Pessoas como ele deveriam viver o dobro do tempo.

Anónimo disse...

Triste dia :(

joana pais de brito disse...

sempre cintilante.