Por entre sorrisos, silêncios e saudades, Cinema Paraíso irrompe como uma demonstração de bom cinema, de humanidade, de cumplicidade e de compreensão. Aqui, mais do que nunca, apercebemo-nos de que cinema é sinónimo de vida.
Cinema Paraíso surge então como um espelho de nós mesmos, enquanto seres dedicados ao amor e capazes de devorar cinema. Em nenhum outro filme pudemos assistir a uma demonstração tão genuína do que é o amor pela sétima arte. Um amor que nasce na infância e que acompanhará o protagonista. Vemo-lo tal e qual como no plano escolhido mas comovemo-nos com aquilo que não vemos: um Salvatore de meia-idade que se encontra em Roma a recordar a altura em que conheceu o amor. Mais uma vez o amor. Digamo-lo sem qualquer tipo de reservas: Cinema Paraíso é uma homenagem ao amor nas suas formas mais puras – a amizade ao inseparável Alfredo, a dedicação à arte e a devoção ao amor da sua vida. Por silêncios, por aquilo que não se diz mas que se compreende, assim segue Cinema Paraíso.
Sujeito a variadíssimos níveis de interpretação, esta obra-prima do actual cinema italiano* relembra-nos a enorme pobreza trazida pela guerra. Para fugir a ela, nem que fosse por algumas horas, os habitantes da vila escolheram acreditar no cinema e vivê-lo intensamente. E porquê? Porque o cinema concede a oportunidade de vivermos a nossa vida ou outra qualquer.
* Só comparável a O Carteiro de Pablo Neruda, obra-prima italiana, que conta igualmente com a prestação desse actor inesquecível chamado Philippe Noiret.