F.W. Murnau vive. Vive nos medos, vive nas sombras, vive nas inquietações mas também vive no amor. Será que viverá para todo o sempre? Pessoalmente, torço para que assim seja. Enquanto houver projecções de Sunrise: A Song of Two Humans, Herr Tartüff e Nosferatu, eine Symphonie des Grauens, podemos estar descansados quanto à sua sobrevivência.
Ontem à noite, a sala 3 do King estava bastante composta para assistir a Sunrise. Não escondo a minha alegria quando sinto o entusiasmo dos outros pelo cinema. Especialmente quando se trata de um filme mudo. Lá estavam pessoas de todas as idades a vibrarem de forma genuína com as sequências absolutamente geniais de Murnau.
Por momentos, estivemos em 1927 mas houve alturas em que também estive em 1915, ano de The Cheat, filme de uma violência e de uma misoginia perfeitamente actuais. Há algo que aproxima o filme de Murnau e este de Cecil B. DeMille. Talvez seja a ousadia de filmar ímpetos violentos. Em Murnau, o marido, levado por um desejo pecaminoso, resolve assassinar a mulher. Em DeMille, o acto de violência é consumado e punido.
Diz-se que Truffaut terá eleito Sunrise como "o mais belo filme de sempre". É de facto um filme belíssimo na maneira como se dedica ao arrependimento e à redenção mas prefiro nomeá-lo o mais esperançoso de todos os filmes. Ou, se quiserem, o filme em que tudo é perdoável e possível.
Diz-se que Truffaut terá eleito Sunrise como "o mais belo filme de sempre". É de facto um filme belíssimo na maneira como se dedica ao arrependimento e à redenção mas prefiro nomeá-lo o mais esperançoso de todos os filmes. Ou, se quiserem, o filme em que tudo é perdoável e possível.