17 outubro 2014

A casa azul



Para mim, que sempre me dediquei a refletir sobre o poder das casas onde vivemos, o romance da Cláudia Clemente - A casa azul - não poderia ter vindo em melhor altura. Todas as manhãs, entro no autocarro, leio mais umas páginas e, antes de sair na minha paragem, agradeço, sincera e silenciosamente, à autora por ter tido a coragem de publicar um livro assim. 

Nenhum outro local poderá alguma vez ocupar o lugar dela. A casa onde vi os meus avós morrer, um de cada vez. A casa onde a minha mãe enlouqueceu de tristeza. A casa onde íamos todos envelhecendo aos poucos, uns mais depressa que outros, mas sempre juntos, aglutinados, como uma única, inverosímil e disforme criatura.

A casa azul, Editora Planeta, pª 11, 2014

Iluminar o espírito

Malala Yousafzai | Prémio Nobel da Paz 2014

23 setembro 2014

Começo a achar que Olívia é capaz de ser um bom nome para dar a uma filha...

 Olivia Dunham | Fringe

 Olivia Pope | Scandal

Olivia Benson | Law & Order: Special Victims Unit

11 agosto 2014

Um fim-de-semana | Dois filmes


Guardians of the Galaxy (2014)
Um filme verdadeiramente especial. Para sair da sala com o coração cheio.
Nas palavras do próprio realizador: The movie is for anyone who ever felt cast aside, left out, or different. It's for all of us who don't belong. This movie belongs to you.


 All the President's Men (1976)
Uma lição de perseverança.

O Mise en Abyme está em contagem decrescente para as férias.   
Sexta-feira, aqui vamos nós. Até Setembro! Bom descanso e bons filmes!

18 julho 2014

Perdidamente apaixonada por estas ilustrações



Catarina Sobral

Desgosto

raramente se descreve. É, de certo modo, a expressão de uma clandestinidade. Não regressamos como regressamos à memória da paixão ou do desejo. É sempre o desgosto que regressa a nós. Não se revisita o que nos desgostou. Por vezes, tentamo-lo, mas somos repelidos. Porque há nessa revisitação um sarro, o «gosto amargo» do vómito. Só o lugar-comum o revela na sua vulgaridade. O desgosto subtrai: palavras, risos, lágrimas. Emudece, não para aproximar, como no amor, mas para afastar. Este movimento, no entanto, não gera uma viagem. É quase um enfado. O sinal de uma persistência incómoda. Alguns dizem: os desgostos matam: há quem viva perdas menores como tragédias.

Figuras do desgosto: calúnia, inveja, traição, mentira.
Figuras da tragédia: morte, Deus, injustiça, mal.

Rui Nunes
in Barro, Relógio d'Água

06 julho 2014

Bron/Broen


Depois de Forbrydelsen (The Killing) e de três temporadas na companhia da Sarah Lund e das suas encantadoras camisolas de lã, eis que chegou a altura de conhecer a dupla improvável Saga Norén e Martin Rohde, protagonistas de Bron/Broen (The Bridge). Obrigada Escandinávia, por nunca me desiludires.

25 junho 2014

De luto

Eli Wallach 
(1915–2014) 

Não sei se foi por ter nascido no mesmo ano e no mesmo mês do que o meu avô, ou se por ter tido uma existência incrível, a verdade é que, por uma razão ou outra, certamente mais emocional do que racional, o Eli Wallach sempre teve um lugar especial na minha vida. "What else am I going to do?” he asked in an interview with The Times in 1997. “I love to act."

12 junho 2014

A história de duas personagens no fim da sua inocência

http://umrostoamado.com


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O último poema de amor

Pergunto-me se tens lá voltado e se ficas,
como eu, a olhar quieta as ossadas,
a carcaça do nosso sonho, largado
no quintal da casa abandonada
onde deixámos a virgindade. Na altura
ainda íamos muito ao cinema, roubávamos
as melhores linhas aos actores, e de todos
aqueles finais felizes lá fomos
fazendo a nossa triste história de amor.

Agora uma boa parte do que dissemos
já o temos visto por aí
junto a outros sentimentos encadernados,
à venda em qualquer quiosque por bem menos
do que conseguimos gastar em surpresas,
aniversários e dias dos namorados.

Mas os poemas de amor são como são, baratos,
universalmente acessíveis e descartáveis
como os próprios corações. A não ser os melhores,
os ocultos. Esses ladram aos estranhos em defesa
do território, estendendo um ombro
muito para além do tempo, onde enfim até a morte
vem chorar.


Nós havemos de nos cruzar por aí
em ruas mal iluminadas, de braços cruzados e olhares
sem saída, a sofrermos entre conhecidos
esse riso dos perdidos
como se pedíssemos ainda para nos acharem.
Eu e tu, cada um saberá fingir à sua maneira
um jeito de não ter visto o outro.

Porque o amor só veio em visita, deixando o lugar vazio
para vir uma imaginação arruaceira, com restos de ketchup
nos beiços, abandalhar-nos o romantismo.
E é esta a que agora vem beber alegremente
do meu copo, cambaleando alcoolizada
e berrando o que lhe apetece. Alguns riem-se,
outros dizem que diluída, mais aguada talvez,
correria melhor nas suas veias líricas.

Mimando uma ficção agradável, muitos
têm chegado bem mais longe.
Eu prefiro contar a vida pelos dedos
e perdê-los.
Assim te peço que, fazendo destas frases
o que quiseres, por favor no fim só não digas
que ainda me entendes.

Diogo Vaz Pinto 
Retirado daqui

03 junho 2014

Sexiness

Chef (2014)

Desejo do dia: e agora eu estalava os dedos e aparecia o Jon Favreau a cozinhar tal e qual como na cena com a Scarlett Johansson.

12 maio 2014

Under the Skin

Seguir-te-ei para onde quer que vás.

09 maio 2014

BES Revelação 2013

Há qualquer coisa de profundamente poético e hipnótico na composição em vídeo, intitulada Isle, da autoria de Diogo Evangelista. Depois de entrarmos na sala escura, apetece ceder, deixar de resistir e ficar por lá, naquele universo de estrelas e de pássaros mágicos, durante toda a eternidade.    
Até 26 de Junho no espaço BES Arte & Finança, na Praça Marquês de Pombal.

24 abril 2014

Comprova-se, tenho poderes paranormais


... e umas semanas depois ...  

Because I’m happy
Clap along if you feel like happiness is the truth

22 abril 2014

Emocionalmente devastada

 Blackfish (2013)

 The Cove (2009)

Nunca mais entrarei num espetáculo com golfinhos e jamais, em tempo algum, assistirei a um espetáculo com orcas. Depois de ver estes dois documentários, é o mínimo a que uma pessoa se pode comprometer. E tudo farei para cumprir esta promessa. 

12 abril 2014

Off work

E eis que regressei a Londres, 5 anos depois de lá ter vivido. E foi tão bom. 
Durante a viagem de avião, tratei de ler a Vogue – edição inglesa, pois claro – que a minha querida amiga Joana me ofereceu. Matei saudades da Linda McCartney – por quem me apaixonei na altura em que organizei uma exposição em sua homenagem , aprendi mais sobre a sempre inebriante Nigella Lawson, deliciei-me com um ensaio fotográfico cuja protagonista foi, nada mais, nada menos, do que a Christy Turlington e apercebi-me de que quero voltar a usar sombras azuis (… oh sweet sixteen …).
Então e a cidade? Para além de ter comido muito e bem – dim sum no Ping Pong de Bayswater, bifinhos no Le Relais de Venise de Marylebone High Street (onde já não ia desde o meu 26º aniversário), sushi no Pham Sushi de Barbican, entre muitas outras iguarias , pude fazer aquilo de que gosto mais: vaguear sem pressas e sem obrigações. Matei saudades da Waterstones e da Foyles – onde comprei o maravilhoso Meryl Streep: Anatomy of an Actor (obrigada!) e reencontrei a mais verdadeira das bibliófilas –, encantei-me com a enorme variedade de postais e de papéis de embrulho – Londres é a cidade para isso e ao que parece isto está completamente na moda (a Conchinha é a minha precursora favorita, comprei lembranças para os meus afilhados na Hamleys, ri-me na loja dos M&M'S, regressei ao meu cinema e vi o incrível The Grand Budapest Hotel. Isto claro, sem esquecer os inúmeros passeios por Angel, Borough e Chelsea. Houve tempo para tudo. Até para fazer coisas tão díspares como ir à HMV e à Victoria's Secret. Voltei retemperada, não haja dúvidas. E com coragem para enfrentar a vida real.

18 março 2014

Estado das coisas

Lagoa do Canário (2)

para a Lorena Correia Botelho

O importante era mesmo
isso: não ver nada.

Acreditar na água;
saber que ela estava ali,
límpida, intensa, viva.

Por pouco tempo, como nós.

Manuel de Freitas

17 março 2014

Filme após filme




Este fim-de-semana regressei ao clube de vídeo. Por mal dos meus pecados, aquele, que era mesmo perto de minha casa, fechou e agora tenho de deslocar-me até Telheiras sempre que quero alugar um filme (e não me falem no videoclube da ZON pois até a minha cinemateca pessoal tem mais variedade!). E lá fui. Observei atentamente as prateleiras e acabei por trazer três histórias distintas: Margin Call, Despicable Me 2 e Les petits mouchoirs, sendo que o filme francês era aquele que tinha mais vontade de ver. Erro crasso. Quanta presunção, Guillaume Canet! Não me parece que fossem necessários 154 minutos para dar a conhecer um grupo enfadonho de adultos que ainda não ultrapassou a adolescência. 1-5-4 minutos que caracterizam a amizade como uma fórmula cujos elementos predominantes são o egoísmo e o desrespeito? Que usam e abusam de estereótipos? Que apresentam as intervenções da personagem da Marion Cotillard, supostamente sensível e viajada, qual viciada em sedução, como o ponto alto da história? Poupem-me, a sério. Prefiro distrair-me com a alegria do Despicable Me 2 (e com as vozes deliciosas do Steve Carell e da Kristen Wiig). E, claro, prefiro, sem qualquer dúvida, a honestidade do Margin Call, um filme que se deu ao trabalho de expor profissionais da alta finança como seres humanos e não como caricaturas (vide Alec Baldwin no Blue Jasmine ou mesmo o Leonardo DiCaprio no The Wolf of Wall Street.).
Uma boa semana para todos. E bons filmes, claro está.

12 março 2014

Ainda sobre o poder que as casas exercem sobre nós

Oh as casas as casas as casas

Oh as casas as casas as casas
as casas nascem vivem e morrem
Enquanto vivas distinguem-se umas das outras
distinguem-se designadamente pelo cheiro
variam até de sala pra sala
As casas que eu fazia em pequeno
onde estarei eu hoje em pequeno?
Onde estarei aliás eu dos versos daqui a pouco?
Terei eu casa onde reter tudo isto
ou serei sempre somente esta instabilidade?
As casas essas parecem estáveis
mas são tão frágeis as pobres casas
Oh as casas as casas as casas
mudas testemunhas da vida
elas morrem não só ao ser demolidas
Elas morrem com a morte das pessoas
As casas de fora olham-nos pelas janelas
Não sabem nada de casas os construtores
os senhorios os procuradores
Os ricos vivem nos seus palácios
mas a casa dos pobres é todo o mundo
os pobres sim têm o conhecimento das casas
os pobres esses conhecem tudo
Eu amei as casas os recantos das casas
Visitei casas apalpei casas
Só as casas explicam que exista
uma palavra como intimidade
Sem casas não haveria ruas
as ruas onde passamos pelos outros
mas passamos principalmente por nós
Na casa nasci e hei-de morrer
na casa sofri convivi amei
na casa atravessei as estações
Respirei – ó vida simples problema de respiração
Oh as casas as casas as casas

Ruy Belo

06 março 2014

Lido e relido

... ao passo que eu, daqui a umas horas vendo esta casa, do escritório os compradores vão fazer uma salinha de televisão, vão mandar deitar abaixo paredes, erguer outras, mudar portas, a casa onde os compradores vão morar não existe para mim, esta casa não existe para os compradores, a casa onde a Dora foi feliz com os meus pais não existe para mim, a casa onde fui infeliz com os meus pais não existe para a Dora, esta maneira intermitente de existirmos, a filha dos compradores, uma adolescente a mudar de pele, no meu quarto, sem saber de um gesto meu, de um susto, de um desejo, uma desconhecida a dormir no meu quarto e o sol a bater nos mesmos sítios, a oferecer-lhe uma luz igual à que me deu, a filha dos compradores a dormir no meu quarto e a chuva a fazer o mesmo barulho que eu ouvia… 

Os meus sentimentos, Dulce Maria Cardoso | pª194, Edições ASA