25 janeiro 2005

Uma pitada de terror

Cinco jovens aceitam participar num reality show a ocorrer numa casa decrépita e isolada. Serão filmados por inúmeras câmaras, não terão de superar qualquer tipo de provas e receberão cinco milhões de dólares se conseguirem viver seis meses das suas vidas em conjunto. Até aqui, as semelhanças com programas como o controverso Big Brother são notórias. Contudo, ao invés dos reality shows habituais, as regras deste não incluem a saída gradual dos participantes. Ao contrário disso, se um dos jovens desistir, todos perderão o prémio. Para além das regras enunciadas, existe ainda o facto inovador de os concorrentes serem assassinados e as suas mortes serem contempladas, através da Internet, por milionários doentios. Posto isto, torna-se inevitável admitir que estamos perante um argumento, no mínimo, original.
Quase toda a acção do filme My Little Eye decorre no interior da já referida casa. O realizador Marc Evans, conhecido por outras experiências no campo do terror, optou por imitar o posicionamento das câmaras dos reality shows e criou um filme que funciona a partir de ângulos inesperados. Num cenário doméstico e simultaneamente íntimo, o espectador transforma-se num voyeur atento a tudo aquilo que se vai passando. No entanto, as surpresas não se ficam por aqui. Algumas das cenas de maior tensão, passadas no mais profundo breu, são captadas pelos sensores das ditas câmaras e isso vai conferir um toque fantasmagórico ao espaço e uma compleição apavorante às personagens. Ainda relativamente a processos técnicos, devemos evidenciar o barulhinho arrepiante, pormenor subtil e realista, que acompanha os actores e que pertence às referidas maquinetas.
É importante que, apesar das evidentes qualidades, não caiamos no exagero de considerar que estamos perante alguma obra transcendente. O que se passa é que, contrariamente a tantos outros projectos na área do terror, este filme mantém o espectador preso ao enredo. Aliás, mais do que isso, não nos podemos esquecer da cena em que os cinco protagonistas trocam histórias sobre criminosos psicopatas. Aí, somos invadidos por uma sensação de medo criada e desenvolvida através da sugestão, ou seja, através de tudo aquilo que tememos que apareça no ecrã. E, verdade seja dita, quem cria uma cena, capaz de suscitar autêntico horror, sem recorrer a efeitos especiais ou a bandas sonoras enervantemente altas merece desde já a nossa felicitação.

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