27 janeiro 2005

Proposta de discussão


Já são conhecidas as nomeações para os Óscares e, mais uma vez, há ausências imperdoáveis. Parece-me inconcebível que Eternal Sunshine of the Spotless Mind não tenha sido nomeado para melhor filme e que Jim Carrey não faça parte dos escolhidos ao posto de melhor actor.
É inacreditável que se minorize um filme absolutamente genial e que se tenha o descaramento de pôr de lado uma demonstração de camaleonismo. Mas, pensando bem, já devíamos estar habituados. Não foi na cerimónia do ano passado que a Academia roubou a estatueta a Bill Murray?
Dito isto, resta-nos torcer por Kate Winslet e por Charlie Kaufman. E não se esqueçam de fazer figas para que 2005 seja finalmente o ano Scorsese.

5 comentários:

Francisco Valente disse...

Cara Mafalda,

Tal como te disse, vim também participar na discussão sobre o "esquecimento" de "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" pela Academia. Ao ler o teu artigo, não deixei de sentir a minha discordância pelos teus argumentos, e também pela forma como os expuseste.
Normalmente, quando a Academia esquece algum filme, não é porque consideram a obra em questão má ou muito fraca. Simplesmente tendem a não compreendê-la, não por serem ignorantes, mas apenas porque se tratam de filmes que estão à frente do seu tempo, que esperam anos até serem compreendidos e reconhecidos como exemplos do cinema enquanto arte. É o que acontece com grande parte dos clássicos em qualquer arte, e o que os torna em peças de culto. Tal aconteceu com uma série de fitas - "Citizen Kane", "City Lights", "The Searchers", "2001", etc... Esses sim, são filmes cujas ausências se poderiam considerar "imperdoáveis", filmes sim "absolutamente geniais".
Ora, o que previsivelmente acontecerá com "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" será o contrário. É sem dúvida um bom filme, mas está longe de ser um clássico. Um exemplo de um clássico dos tempos mais recentes é, como dizes, "Lost In Translation". Não só é um filme muito bom, mas é um filme que respira uma cultura cinematográfica acima do normal, algo que é transmitido pela forma como nos são mostradas as imagens, o seu movimento. Isto é uma característica que define claramente um clássico no cinema. Quanto a mim, falta essencialmente isto a "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" - é uma bela história, e sem dúvida original, mas será o seu cinema original ? Quanto a isso tenho mais dúvidas. Não deixei de sentir uma sensação de déjà vu quando saí da sala de cinema. Para um filme ser verdadeiramente superior, não deve esquecer isso. O cinema não são as histórias, é o que contém as histórias. Para mim, esse filme apenas passa em poucos momentos de uma bela história. Não acho de todo que seja um mau filme, pelo contrário, mas não fiquei surpreendido pela sua não-nomeação para a categoria de "Melhor Filme". Aliás, esqueces-te de outro facto - apenas um dos nomeados foi apresentado no nosso país, o que te garante que os outros não sejam também grandes filmes, e se calhar, mais originais ?
Quanto ao caso de Jim Carrey, também não acho que seja "inconcebível". Há que distinguir duas coisas essenciais, tal como introduziu o Rodrigo - comediante e actor. São algo que eu vejo sempre como completamente distinto, raramente vejo um comediante como um actor. O problema é que Jim Carrey raramente tem sido um actor, apesar de ser, isso sim, um comediante genial. O que se passa, a meu ver, é que as pessoas vêem um comediante num papel "sério", ou que implique um papel completamente diferente por parte da pessoa, ou seja, tornar-se "actor dramático" (pois um filme costuma sempre ser um "drama"), e tendem imediatamente a achar que o actor em questão é "genial", devido à sua "demonstração de camaleonismo". O que elas se esquecem é que nunca se passa de um estado de "camaleão" para outro, pois esses dois não fazem parte da mesma esfera da "ciência", ou qualquer outro nome que queiram dar, da "interpretação". Assim, nunca vi a sua actuação em "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" como algo demonstrador do seu génio, pois o seu génio está essencialmente na comédia (e por isso é que se luta contra isso), mas como uma boa interpretação apenas, nunca merecedora sequer de uma nomeação para "Melhor Actor". Mais uma vez, ainda espero para ver quatro dos cinco actores nomeados. E para ver Jim Carrey crescer como actor, por muitos mais filmes. Aliás, nunca cheguei a ver "Man on the Moon", mas creio, pelo que me dizem, que se trata de uma interpretação ainda mais interessante do que esta última.
Resta-me escrever uma nota final para o teu exemplo do Bill Murray - sim, foi uma grande interpretação (de um comediante já actor), mas compreende-se, Sean Penn também merecia. Era um ou outro. E sim, esperemos que Martin Scorcese seja finalmente reconhecido (algo imperdoável...?).

Francisco Valente disse...

Rodrigo, antes de mais obrigado pelo link.
Talvez os Óscares sejam quase sempre uma treta, ou centro de intrigas de estúdios e de uma indústria que, por vezes, faz muita porcaria. No entanto, a verdade é que continuam a ser a grande cerimónia de "reconhecimento" do cinema norte-americano e que toda a gente ainda vê. Como em qualquer entrega de prémios onde se escolhe "o melhor qualquer coisa", é inevitável surgir polémica, tal como surgiu o ano passado em Cannes (duvido muito que "Farenheit 9/11" seja sequer um filme, quanto mais "o melhor"). Concordo com o Jorge Mourinha em relação ao "Before Sunset", o critério chega a ser patético, no entanto em relação à questão dos actores principais/secundários, isso será sempre uma questão de "cachet" e de nomes de estúdios. É óbvio que Natalie Portman em "Closer" não pode ser tomada como uma personagem secundária, mas no cartaz o seu nome está atrás do de Julia Roberts, que pela carreira que leva, duvido que alguma vez volte a ser "actriz secundária". O mesmo digo em relação ao Jamie Foxx com o Tom Cruise.
Quanto a "Eternal Sunshine of the Spotless Mind" e Jim Carrey, também não preciso de dizer mais nada. Talvez o filme venha a ser recordado, como dizes, por anos e anos, mas continuo a duvidar. Se for, ainda bem. Talvez daqui a uns anos veja e compreenda a tal dimensão do filme. Mas continuo a achar que não é tão original como aparenta ser em tudo o que um "melhor filme" deve ser, na forma como está filmado, escrito e organizado. Mas não deixa de ser um bom filme.

Francisco Valente disse...

Claro que não, são filmes que representam exactamente o pior que há na indústria norte-americana. Mas outros filmes já ganharam também esses mesmos óscares, como "The Godfather", "Casablanca", "On the Waterfront", etc... Claro que o reconhecimento desses primeiros pode descredibilizar o dos outros, mas a posteriori são sempre distinguidos pelo seu real valor. E já agora, o critério de "clássico" que expliquei não é o que julgo ser defendido pelo da Academia, que é muitas vezes misturado por essas porcarias, mas sim o meu. Essa mesma estupidificação da cerimónia de que falas também pode servir para outra discussão interessante - uma eventual banalização ou deteriorização do próprio cinema.

Francisco Valente disse...

Um último comentário só - no meio desses todos, está "American Beauty", um grande filme. Apesar tudo os óscares nem lhe ficam mal.

Anónimo disse...

vcs sao uns visionarios do cinema e realmente os judeus nao percebem nada disto